Em 1996, “Israel” deu início a uma operação militar para tentar reprimir a luta revolucionária do Hesbolá contra os sionistas no Líbano. Naquele ano, a Guerra “Civil” (que nada tinha de civil, sendo antes uma luta pela libertação do país) já havia formalmente acabado. Contudo, “Israel” permaneceu ocupando o sul libanês e parte das Colinas de Golã, através da chamada Zona de Segurança do Sul do Líbano.
Tal território possuía um governo provisório, criado em 1985, com a ajuda da intervenção imperialista na guerra, substituindo o Estado Livre do Líbano. Ambas as entidades políticas estavam sob o controle de políticos e militares maronitas, fascistas da mesma estirpe daqueles que haviam perpetrado massacres como o de Sabra e Chatila. Esse governo provisório tinha como forças armadas o Exército do Sul do Líbano, com um efetivo de aproximadamente 2.400 homens, financiados e equipados por “Israel”, que havia fornecido também 1.000 soldados das forças de ocupação.
A permanência de “Israel” no sul do país era uma violação à soberania e a partir desse controle territorial, o país artificial realizava ataques contra o Líbano. Em um destes, assassinou dois homens que trabalhavam em uma torre de água no município de Iater. Em outro, um garoto libanês de 14 anos foi assassinado e mais três pessoas ficaram feridas. A ambos os ataques, o Hesbolá respondeu disparando dezenas de mísseis contra a região norte de “Israel”.
A legítima reação dos combatentes do Hesbolá foi usada por “Israel” como pretexto para desatar a Operação Vinhas da Ira, o que se deu em 11 de abril daquele ano. Já neste dia, “Israel” bombardeou intensamente aldeias xiitas ao sul do Líbano, com a declarada intenção de fazer a população civil se deslocar para próximo da capital Beirute, região central do país.
Era a Doutrina Dahiya em ação, isto é, o ataque à população civil para forçar o Hesbolá a se render ou, no caso, os governos do Líbano e da Síria a se voltarem contra o partido. Naturalmente, ao despejar bombas na região, as forças de ocupação também visavam a atingir posições dos Hesbolá.
Semelhantemente ao que foi feito inúmeras vezes durante o atual genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza, a força aérea israelense utilizou seus aviões para despejar panfletos mandando as pessoas deixarem suas casas. Utilizaram também a estação de rádio do exército do sul do Líbano e seus lacaios maronitas, para o mesmo fim.
Exibindo o mesmo cinismo que demonstram atualmente, ao dizer que os civis que assassinam em Gaza são combatentes da resistência, o então porta-voz do governo israelense, Uri Dromi, deu a seguinte declaração, após explodir uma ambulância:
“Avisamos antecipadamente os residentes para saírem, para não se machucarem. Todos os que permanecem lá, o fazem por sua própria conta e risco, porque assumimos que eles estão ligados ao Hesbolá.”
No mesmo sentido foi a declaração do porta-voz das forças de ocupação, dizendo que “qualquer pessoa que permaneça em Tire ou nestas quarenta aldeias… é o único responsável por pôr a sua vida em perigo”. Segundo relatório da organização Humans Right Watch, feito à época, esses avisos eram “em parte concebidos para provocar uma grande crise humanitária, deslocando internamente mais de 400.000 civis libaneses”.
Além dos ataques iniciais, vários outros ataques criminosos foram perpetrados pelas forças de ocupação, tal como o Massacre de Mansouri, quando, em 13 de abril, um helicóptero israelense abriu fogo contra uma ambulância na aldeia de Mansouri, no sul do Líbano, assassinando 2 mulheres e quatro crianças. Vê-se que o ataque a ambulâncias, que tanto se vê atualmente, já era uma prática das forças de ocupação há quase três décadas.
Os bombardeios israelenses também tiveram como alvo a rede energética do Líbano, com ataques sendo realizados às estações de transformação elétrica em Bsalim e em Jumhour. Esta, a maior do país, foi completamente destruída, deixando Beirute sem eletricidade.
Não bastando, durante a Operação Vinhas da Ira, o aeroporto da capital também foi bombardeado, resultando no assassinado de quatro civis. Ademais, a marinha israelense bloqueou os portos de Beirute, Sidon e Tire. Em suma, o que “Israel” faz hoje contra a Palestina, fez naquela época contra o Líbano, mas em menor escala.
Foi durante a Vinhas da Ira que ocorreu o Massacre de Qana, quando as forças israelenses bombardearam deliberadamente uma missão da ONU nos arredores do vilarejo de Qana. No local, estavam refugiados cerca de 800 libaneses. O ataque sionsita resultou no assassinato de 106 deles.
Sobre esse massacre, vale citar trecho da carta de Osama Bin Laden, datada de 1993, em que declarava sua jiade (guerra santa) contra os Estados Unidos:
“O sangue deles [muçulmanos] foi derramado na Palestina e no Iraque. As imagens horríveis do massacre de Qana, no Líbano, continuam frescas na nossa memória”.
Ao fim da operação, cerca de 250 civis libaneses foram assassinados, enquanto 400 mil tiveram de deixar suas casas no sul, sem contar toda a destruição de moradias e infraestrutura civil.
No entanto, apesar das mortes e da destruição, a Operação Vinhas da Ira falhou. A tentativa de destruir o Hesbolá fracassou miseravelmente e em 25 de maio de 2000, as forças sionistas invasores foram expulsas do Sul do Líbano pelos combatentes xiitas. Atualmente, graças à atuação revolucionária do Hesbolá em apoio ao povo palestino, o norte de “Israel” se tornou inabitável aos colonos fascistas. Embora “Israel” continue a atacar o país dos cedros, a destruição do Estado sionista já foi posta em marcha (em 7 de outubro) e não tardará a se concretizar.