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Política internacional

ONU: uma falência total

Enquanto mundo se encaminha para uma terceira guerra mundial, o ambiente cínico da entidade se dedica a lamentar o genocídio palestino, expondo a própria nulidade da instituição

Na última terça-feira (24), teve início a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Como de costume, coube ao Brasil fazer o discurso de abertura.

Se o evento tem servido para alguma coisa, é para mostrar como a ONU se tornou uma organização completamente desmoralizada. Um espaço onde os diplomatas e chefes de Estado fazem discursos jurando desejar o melhor para a humanidade, mas cujo sentido prático é nulo.

Na Assembleia Geral da ONU, todos os principais responsáveis pelo genocídio do povo palestino se reúnem e confraternizam, como se nada tivesse acontecendo. Discutem planos para o futuro, falam em solidariedade, mas ignoram por completo o martírio de um povo que vive sob um processo de limpeza étnica.

É um evento tão grotesco que até o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netaniahu, teve a palavra. É verdade que ele foi vaiado – mas isso não quer dizer nada. Nem mesmo a proposta de que “Israel” deixe os territórios palestinos em um ano (!) consegue ser aprovada no organismo internacional. Cabe lembrar, também, que o presidente norte-americano, Joe Biden, que é mais responsável pela situação do que o próprio Netaniahu, não foi tão hostilizado assim.

Em entrevista a Leonardo Attuch, da TV 247, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, não poupou críticas à entidade: “é uma organização falida, isso aí já deu tudo o que tinha que dar. Eu não acho que as coisas vão passar por aí”.

De fato, a ONU é uma organização que não consegue mais se sustentar. Não tem autoridade política, não conseguiu fazer nada em relação ao massacre em Gaza. E continua, naturalmente, servindo aos interesses criminosos do imperialismo – é para isso que foi criada.

No meio de toda esse espetáculo tenebroso, eis que surge a figura de Luiz Inácio Lula da Silva. Seu discurso, na condição de presidente do Brasil, expressou com precisão a superficialidade e a inutilidade da ONU.

A fala de Lula pareceu o discurso de alguém que está vivendo em outra realidade – sem falar na gafe de não ter concluído a fala a tempo. O discurso do Brasil na ONU foi repleto de falas como essa:

“Nem mesmo com a tragédia da COVID-19, fomos capazes de nos unir em torno de um Tratado sobre Pandemias na Organização Mundial da Saúde. Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional. Vivemos momento de crescentes angústias, frustrações, tensões e medo.”

O que Lula quer dizer com isso? Quem são os responsáveis pelos problemas do mundo? O que Lula propõe para resolver? Nada. Não passa de um conjunto de lamentações – o que é mais que comum em ambientes cínicos como o da ONU, na qual os genocidas derramam suas lágrimas de crocodilo pelas mortes que causaram.

O discurso vazio foi, contudo, a parte menos pior da participação do presidente brasileiro. Boa parte de sua fala foi dedicada a fazer demagogia com a questão ambiental – como se os responsáveis pelo genocídio em Gaza ligasse a mínima para o meio ambiente. Outra parte significativa se dedicou a apoiar a política de censura na Internet.

Mas a parte mais vergonhosa do discurso foi, sem dúvidas, aquela relacionada às principais guerras em curso. Em relação à guerra da Ucrânia, Lula fez questão de dizer que “O Brasil condenou de maneira firme a invasão do território ucraniano”, sem fazer crítica alguma ao governo de Vladimir Zelenski. Trata-se de um recuo marcante, uma vez que, em 2023, Lula tinha uma posição muito mais favorável aos russos.

O mas escatológico, no entanto, foi sua fala sobre a questão palestina:

“Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo.”

Ainda que condene as vítimas da guerra, ao falar da “ação terrorista de fanáticos”, Lula está, na prática, legitimando a reação criminosa de “Israel”. Está se eximindo de critica o governo de fanáticos – ou melhor, psicopatas – de “Israel” e caluniando a resistência de um povo martirizado há décadas. Ao passo em que chamou os combatentes da Revolução Palestina, apoiados pela esmagadora maioria das massas palestinas, de “fanáticos”, Lula fez questão de saudar Mahmoud Abbas, um homem conhecido por ser um cachorrinho do sionismo e do imperialismo.

Lula, ao dar essa guinada à direita na política internacional, parece acreditar que a situação é a mesma que quando ele assumiu o governo em 2022: que bastaria se adaptar às restrições impostas pela burguesia, que ele conseguiria, futuramente, dribá-las e levar adiante a sua própria política. Nada indica que esse política será viável. Pelo contrário, ela levará a um desastre. Ao mesmo tempo em que a popularidade do governo diminui, a direita cresce na medida em que vai impondo derrotas a ele.

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