Ao menos 15 pessoas foram infectadas por uma bactéria após um mutirão de cirurgias de catarata realizado no município de Parelhas, no Rio Grande do Norte, no final de setembro. Dessas, oito precisaram retirar o globo ocular devido à gravidade da infecção. O mutirão ocorreu nos dias 27 e 28 de setembro, na Maternidade Dr. Graciliano Lordão, e visava reduzir a fila de espera por esse tipo de cirurgia. A prefeitura de Parelhas confirmou que os infectados foram diagnosticados com endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae.
A ação, que deveria ser um alívio para dezenas de pacientes, transformou-se em tragédia. Francisco Pedro dos Santos Neto, 60 anos, foi um dos atingidos. Ele passou pela cirurgia de catarata, mas logo após o procedimento, sinais de infecção surgiram.
A gravidade do quadro o levou a perder um olho. Seu filho, Francimar Pedro dos Santos, expressou a dor da família, que inicialmente estava aliviada com a cirurgia, mas que agora enfrenta a dura realidade de ver um ente querido mutilado por uma falha médica. Ele relatou que a situação foi agravada pelo fato de que, mesmo após tentativas de tratamento com medicamentos, a retirada do globo ocular foi inevitável para evitar que a infecção se alastrasse.
Das 48 cirurgias realizadas no mutirão, 15 pacientes desenvolveram complicações. Além dos oito que tiveram o olho removido, outros quatro passaram por uma vitrectomia, procedimento que remove o vítreo, um fluído que preenche o globo ocular.
Três pacientes seguem em acompanhamento e, embora mais de 80% da infecção tenha sido controlada, ainda enfrentam a dificuldade de enxergar. A prefeitura informou que as investigações para apurar as causas da contaminação estão em andamento, incluindo testes da água utilizada, análise do centro cirúrgico e dos processos de esterilização, conforme orientação da Superintendência de Vigilância Sanitária (Suvisa).
Contratada para realizar as cirurgias, a empresa privada Oculare Oftalmologia Avançada LTDA afirmou em nota que seguiu todos os protocolos médicos e de segurança, e que prontamente reavaliou todos os pacientes assim que as complicações começaram a surgir. A empresa ainda coletou amostras biológicas, que estão sob análise pela Suvisa para determinar a origem da contaminação.
Este não é um caso isolado de falhas graves no sistema de saúde pública. Poucos dias antes, no Rio de Janeiro, pacientes que receberam órgãos transplantados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram infectados com HIV.
Até o momento, dois doadores e seis receptores foram diagnosticados com o vírus, algo que o Ministério da Saúde classificou como um episódio “inadmissível”. A infecção ocorreu após falhas nos testes de HIV realizados por um laboratório privado contratado para os transplantes. O caso está sendo investigado pelas autoridades, mas já levantou preocupações sérias sobre a segurança nos procedimentos de saúde no País.
Ambos os casos expõem a um novo estágio no caos e na destruição do sistema de saúde brasileiro, público e privado. A situação em Parelhas, com a perda de globos oculares após cirurgias de catarata, somada à infecção de receptores de transplante com HIV no Rio de Janeiro, revela um descaso criminoso com algo essencial à vida da população, onde a política neoliberal de economia de custos e concessões a entidades privadas colocam a vida de todo o povo brasileiro em risco. Esses episódios, tão próximos e tão escandalosos, revelam um sistema que, além de sucateado, tem negligenciado a segurança básica dos seus pacientes.
Nos últimos anos, o Brasil tem observado um aumento significativo na terceirização e privatização dos serviços de saúde, impulsionado particularmente a partir dos governos golpistas de Michel Temer (MDB) e Jair Messias Bolsonaro (PL), que, em atendimento aos interesses dos banqueiros e dos monopólios imperialistas, desenvolveram uma política neoliberal radical, reduzindo o papel do Estado na prestação de serviços essenciais e em cima disso, criando “mercados” para a pirataria dos grandes capitalistas.
Esses casos exemplificam os riscos associados à terceirização e privatização dos serviços de saúde, impulsionados por políticas neoliberais. A busca por redução de custos e maximização de lucros, frequentemente à custa da qualidade e segurança dos serviços prestados, comprometeu a saúde e o bem-estar dos pacientes.
No Rio Grande do Norte, a terceirização resultou em falhas nos protocolos de segurança, levando a infecções graves que poderiam ter sido evitadas. No Rio de Janeiro, a contratação de um laboratório privado para testes em órgãos transplantados resultou em contaminações por HIV, devido a práticas inadequadas e laudos fraudulentos. Esses eventos destacam a necessidade urgente de uma mudança radical na política de terceirização dos serviços de saúde e na completa estatização dos serviços no setor.