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Polêmica

OCI chama aliança com a burguesia no segundo turno

Diante de um 2º turno com candidatos burgueses, um partido revolucionário deve chamar o voto nulo

Durante as eleições, especialmente no segundo turno, a pressão da burguesia para que todos os partidos entrem na “festa da democracia” é gigantesca. Mesmo partidos e organizações tidas como revolucionárias não escapam dessa pressão, e, no geral, cedem às imposições da “opinião pública”.

É o caso da Organização Comunista Internacionalista (OCI), mais uma a chamar “voto crítico” em candidatos do regime burguês. Neste caso, chamam seus apoiadores a votar no Sr. Yuri Moura (PSOL-Rede), que segue para o segundo turno, neste dia 26/10, em disputa contra o Hingo Hammes (PP) em Petrópolis (RJ).

O PSTU, por exemplo, já adotou a mesma política em casos como São Paulo (SP), ao apoiar “criticamente” Guilherme Boulos (PSOL); Porto Alegre (RS), ao apoiar com críticas a candidata do PT, Maria do Rosário; e em outros casos que o partido considerou importante esse tipo de apoio diante do avanço da direita bolsonarista. 

A OCI afirma que é preciso votar criticamente em Yuri Moura, pois o candidato “possui um histórico de militância na cidade. Destaca-se na militância em relação ao transporte público, com a defesa da tarifa zero. Além disso, tem o apoio do Sindicato dos Rodoviários, de quem é um histórico aliado”. A crítica estaria no fato do candidato fazer “parte do grupo da majoritária do PSOL (do qual a OCI faz parte), o mesmo que vem transformando o PSOL em um partido cada vez mais cooptado por uma visão reformista, e adaptado à ordem político burguesa”.

A ameaça que força o voto em Moura seria na presença de Hingo Hammes no segundo turno, que, segundo a OCI “tem o apoio da máquina do governo estadual do reacionário Cláudio Castro, e seu candidato a vice-prefeito é o ex-vice Baninho, que esteve no governo de Bernardo Rossi. Este último, de tão rejeitado na cidade, dessa vez resolveu não se candidatar. Além disso, conta com o apoio também de Flávio Bolsonaro e de outros políticos nefastos e reacionários da cidade”.

Ou seja, diante de um candidato bolsonarista os revolucionários devem votar no candidato “adaptado à ordem político burguesa”, nos termos da própria OCI. Uma contradição gigantesca e um abandono total do marxismo. Essa posição, se levada às últimas consequências, dá margem a que os militantes da organização possam votar em qualquer candidato que não seja do bolsonarismo. Em último caso, pode-se votar até mesmo na direita tradicional, a ver pela nota do PT no caso da eleição em Goiânia (GO). Trocando em miúdos, a posição da OCI é a mesma do PT em várias cidades; sem candidatos próprios, apoiar o “mal menor”, um candidato burguês que não seja bolsonarista. É uma capitulação vergonhosa.

A OCI ainda esboçou uma comparação com a eleição presidencial: “agora, pela quinta vez consecutiva, Petrópolis passará por um segundo turno, no dia 27 de outubro. Pode-se dizer que é um cenário semelhante às últimas eleições presidenciais, mas com algumas diferenças”.

Na realidade, não existe qualquer semelhança entre uma votação de uma eleição municipal de 2024 e a eleição presidencial de 2022. Nesta última, a unidade em torno da candidatura de Lula representava todo um movimento de luta contra o golpe que se desenvolveu desde 2016, quando Dilma Rousseff foi derrubada. Foi uma exceção justificadíssima, embora, paradoxalmente, a OCI tenha apoiado o golpe de Estado contra Dilma, pois “isto [o golpe] abre espaço à esquerda do PT, com a radicalização generalizada ocorrendo entre os trabalhadores e a juventude”. Difícil de entender. 

O voto em Yuri Moura em nada tem a ver com este movimento ou com qualquer outro, e o próprio candidato, ao contrário de Lula, não é representante da luta operária, e nem está em questão a volta dos golpistas ao poder executivo nacional. Nada poderia explicar a adesão de uma organização marxista a uma candidatura burguesa, como é a do Sr. Yuri Moura. Um partido marxista deve apresentar seus candidatos, e, se não os tiver, salvo raras exceções, chamar voto nulo, posto que nenhum dos candidatos da burguesia representam os interesses da classe operária, do movimento revolucionário. 

As medidas cosméticas apresentadas como programa de campanha de Yuri Moura também seduziram a OCI: “outro fator importante, que já havia sido defendido por Yuri anos atrás, é a remunicipalização da companhia de saneamento básico da cidade. Agora, esse tema sequer aparece em seu plano de governo. A Águas do Imperador pertence ao grupo Águas do Brasil e possui casos de cobranças abusivas”.

Por fim, afirmam: “por esses motivos, declaramos apoio à candidatura de Yuri Moura para prefeitura de Petrópolis, considerando a necessidade da frente única dos trabalhadores para derrotar o projeto mais reacionário da burguesia representado pela figura de Hingo Hammes e de seus aliados”.

E o porém: “entendemos que o processo eleitoral em si não muda de fato a vida da classe trabalhadora e que apenas a organização dos trabalhadores e da juventude petropolitana em um partido revolucionário pode transformar a sociedade não só em Petrópolis, mas no Brasil e no mundo”.

Oras, se um candidato é “adaptado à ordem político burguesa”, o outro é bolsonarista e apoiado por “políticos nefastos e reacionários da cidade”, e além de tudo o processo eleitoral “não muda de fato a vida da classe trabalhadora”, não há o menor sentido em chamar os integrantes da OCI a votar no Sr. Yuri Moura. Se o cenário é tal como o apresentado, o correto é chamar voto nulo, sendo a conclusão óbvia de todas as considerações apresentadas pela OCI. 

Apresentar posição ensaboada como esta é confundir a luta da classe trabalhadora, especialmente a luta pela construção de seu próprio partido revolucionário; é ceder à demagogia eleitoral do segundo turno e a pressão do regime pelo “voto útil”, sendo que o resultado é a derrota da esquerda, como, de fato, já se verificou no primeiro turno.

Por fim, caberia uma conta matemática: os votos que a OCI pretende entregar para a candidatura de Yuri Moura irão mudar a realidade das eleições no município? De forma alguma. Hingo (PP) foi para o segundo turno com 78.734 votos (49,96%), já Yuri (PSOL) somou 28.001 (17,77%), ou seja, não vai mudar absolutamente nada, especialmente em razão da OCI não fazer campanha de verdade sobre nada, o que torna ainda mais gratuito o abandono do programa marxista para as eleições.

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