Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), concedeu na última sexta-feira (8) entrevista ao canal Nova Resistência (NR) no YouTube. A conversa também foi transmitida no canal da Causa Operária TV (COTV), ligado ao partido trotskista. O tema principal foi a recente viagem de uma delegação do PCO ao Catar para se reunir com a liderança política do Movimento de Resistência Islâmica, o Hamas, principal partido da Palestina e da frente de resistência armada palestina contra a ocupação militar de “Israel”.
Os entrevistadores Raphael Machado e Carlos Velasco saudaram a iniciativa do Partido de buscar informações em primeira mão sobre as posições do Hamas no conflito, considerando que o monopólio da imprensa burguesa brasileira só apresenta a versão dos “israelenses”. Machado aproveitou para denunciar que esse “era pra ser o trabalho básico de todo jornalista que se preze, […] ninguém fez.”
A conversa começou tratando sobre as impressões iniciais de Pimenta sobre os líderes palestinos, onde ele destacou características positivas dos palestinos e dos árabes em geral que conheceu, e, sobre os militantes do Hamas em especial, ressaltou que “são pessoas dedicadas, são pessoas que estão lá trabalhando pela Palestina”. Mencionou também a visita que fez a um hospital de feridos da guerra, onde a maioria dos feridos teve membros amputados, mas salientou que eles “mantém o moral elevado”.
Em seguida, os anfitriões pediram as opiniões de Pimenta sobre os objetivos e perspectivas do Hamas ao lançarem a operação militar do dia 7 de outubro. O dirigente do PCO concordou com um dos entrevistadores que chamou o acontecimento de “Operação Militar Especial”, fazendo uma analogia com a ação russa na Ucrânia. O líder partidário explicou que a ofensiva foi muito bem planejada e que “todos os partidos palestinos, com exceção do partido que está na Autoridade Palestina, se organizaram e decidiram botar um fim nessa situação”. Citou que os dirigentes do Hamas com quem conversou estão muito confiantes na situação militar e justificou o que levou a resistência palestina a lançar a operação nesse momento: “depois da derrota do imperialismo no Afeganistão e depois da operação russa na Ucrânia abriu-se uma possibilidade muito grande.”
Mais especificamente sobre o objetivo político do Hamas, Pimenta colocou que é “acabar com a ocupação militar dos territórios […] e em segundo lugar, a libertação dos presos”. Ele frisou a hipocrisia da imprensa pró-imperialista que faz toda uma propaganda em defesa dos reféns “israelenses”, sendo que há 12 mil palestinos presos no território ocupado por “Israel”.
Ainda sobre esse ponto, o presidente do PCO colocou a avaliação do Partido sobre o desenvolvimento da crise: “O que está acontecendo na Palestina é uma revolução. […] Fundamentalmente, uma revolução é quando a consciência das amplas massas se modifica no sentido de ir para a decisão, […] eu acho que é isso que está acontecendo na Palestina”.
Os entrevistadores, muito interessados no futuro da situação política, pediram um aprofundamento sobre as opiniões dos dirigentes do Hamas a respeito. Pimenta respondeu que eles já se consideram vitoriosos pela crise que se abriu em “Israel”. Ele seguiu esclarecendo sobre os problemas internos que estão se aprofundando, surgindo novos e se acumulando no regime político “israelense”. Segundo o dirigente do PCO, “o Estado ‘israelense’ criado há 75 anos está nos seus estertores”. Para reforçar essa avaliação, ele remeteu a outros exemplos históricos, como o caso da África do Sul, e teceu considerações gerais sobre as capacidades de uma ditadura como a do regime colonial “israelense” de administrar uma crise tão grave quanto a atual.
A discussão em seguida foi sobre a chamada solução de dois Estados. Sobre isso, Pimenta primeiro esclareceu que essa sempre foi a proposta do imperialismo. Os “israelenses” ocuparam o território com o apoio do capital imperialista e depois propuseram dividir o território entre os dois. Ele também mostrou que mesmo essa opção, negativa para os palestinos, está ainda mais difícil de se viabilizar hoje. A fragilidade do regime sionista não permite que ele sobreviva ao lado de um Estado palestino real, com exército, relações exteriores, entre outras instituições.
Os entrevistadores também perguntaram a versão do Hamas sobre as supostas ações hediondas que o grupo teria realizado e que a imprensa pró-imperialista divulgou amplamente. O presidente do PCO enfatizou a desonestidade de se fazer a cobertura de um conflito ouvindo apenas um lado e tratando tudo como verdade. Principalmente quando esse lado, o de “Israel”, é famoso por sua máquina de propaganda mentirosa desde sua criação. No entanto, Pimenta respondeu que foi realizada uma longa entrevista com o Secretário de Relações Exteriores do Hamas e que as principais campanhas caluniosas contra o partido foram discutidas. O dirigente palestino não só respondeu tranquilamente a todas as perguntas, como também encaminhou provas de que não havia nenhuma orientação para que a operação atacasse a população civil. Além disso, mostrou logicamente como várias das acusações não fazem sentido.
Para finalizar a conversa, os entrevistadores e o entrevistado fizeram reflexões gerais sobre os acontecimentos na Palestina e a política mundial. Pimenta fez questão de destacar que as posições tomadas pelas pessoas quanto aos acontecimentos lá, revelam bastante sobre a própria luta política nacional. “Se o pessoal é capaz de apoiar isso que está acontecendo lá, o que é que eles não serão capazes de apoiar aqui, contra o povo brasileiro?”