A esquerda brasileira está comemorando a vitória da candidata do ex-presidente Andrés Manuel López Obrador, Claudia Sheinbaum nas eleições presidenciais mexicanas de 2 de junho. No entanto, é preciso compreender se é um governo realmente de esquerda nacionalista ou apenas mais uma direitista ao estilo que existiu na Argentina com Alberto Fernandez.
Um artigo publicado no Resumen Latino Americano, faz um panorama em relação à questão econômica da população mexicana e as aberturas para empresas estrangeiras. O artigo assinado por Patrick Iber e Humberto Beck destaca que as empresas norte-americanas principalmente estão ganhando o controle da economia e também da política mexicana. O país afinal, não é independente como a China para passar por esse tipo de processo sem ser tomada pelo controle total dos EUA.
Um ponto destacado no texto é a relação de López Obrador com os militares que se perpetuam no poder no país. Os autores também trazem seu papel reacionário e conservador na questão das drogas e do crime organizado no país e também mostra claramente seus ataques aos movimentos populares e sociais no México.
“Ele não construiu a sua popularidade sustentada com base em posições exclusivamente de esquerda, mas sim através da combinação de políticas e posições tradicionalmente identificadas com a esquerda e a direita. Por outras palavras, construiu uma nova hegemonia política no México ao desenvolver uma esquerda curiosamente conservadora. Como tal, a política mexicana foi reconfigurada em campos pró e anti-AMLO, com partes da esquerda em ambos, deixando a esquerda sem uma saída institucional clara.” Afirma Patrick Iber, Humberto Beck.
Enquanto não realizou amplos projetos sociais para os trabalhadores, López Obrador faz questão de privilegiar as forças armadas. “Mais da metade das famílias extremamente pobres não recebe quaisquer benefícios. Entretanto, mais pessoas no escalão de rendimento mais elevado estão a receber assistência social do que antes, em parte porque o maior programa se baseia na idade e não no rendimento. Embora a pobreza tenha diminuído modestamente, a pobreza extrema, na verdade, aumentou”, aponta o artigo.
Segundo o texto, mais de 50 milhões de mexicanos estão sem acesso ou com muita dificuldade em relação à saúde pública. “Em nome da luta contra a corrupção e da ‘austeridade republicana’, o governo López Obrador retirou recursos de uma série de instituições estatais. Como resultado, criou-se uma situação grave nas instituições de saúde pública: conforme os próprios números do governo, o número de mexicanos sem acesso aos cuidados de saúde aumentou de 20,1 milhões em 2018 para 50,4 milhões em 2022.” Afirma Patrick Iber, Humberto Beck.
Em relação às forças armadas, López Obrador tem destinado uma parte bastante expressiva do orçamento federal. Segundo o texto, a maior parte do financiamento foi para os militares que aumentaram cerca de 130% em 2024 em relação ao ano anterior. A desculpa é a mesma de todo direitista reacionário: “segurança pública e combate ao crime organizado”. Segundo os articulistas Obrador estaria seguindo a mesma política do presidente conservador Felipe Calderón (2006-2012) que durante seu mandato levou adiante a política mais violenta do Estado contra o que chamam de “crime organizado”. Ainda assim, Iber e Beck acrescentam: “Quanto maior a intervenção dos militares, mais a violência e o crime cresceram.”
Sobre a participação dos movimentos sociais na política e nas decisões do governo, o artigo esclarece: “Muitos esperavam que a sua administração alcançasse maiores respostas às demandas dos movimentos sociais e que até incentivasse a mobilização como forma de participação cidadã. O que aconteceu foi exatamente o oposto.” E segue: “o presidente afirmou algumas vezes que os movimentos sociais são elitistas e enganosos. “Em vez de nos ajudar, eles colocaram obstáculos em nosso caminho”, disse ele.
Durante todo seu mandato (6 anos) a maior parte dos movimentos sociais surgidos durante os períodos mais direitistas e de governo inimigos do povo anteriores não tiveram nenhuma de suas reivindicações ouvidas. Iber e Beck mostram justamente o contrário, “o presidente entrou em conflito com eles e os menosprezou publicamente.” – afirmam.
Outro ponto colocado no artigo são as aberturas comerciais e incentivos feitos por López Obrador para empresas e empresários estrangeiros para comércio e turismo internacional, principalmente no sul do país, contrariando as exigências estruturais e econômicas de movimentos de indígenas e população local. Toda essa questão ligadas a esse setor levou a perseguição e até mesmo assassinato de lideranças sociais que certa forma foram incentivadas pelo presidente mexicano.
Fica claro que o governo, apesar de toda a demagogia esquerdista, não passa de um governo reacionário, repressivo e muito mais ligado aos interesses do imperialismo.