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Política internacional

O vale tudo da esquerda pró-imperialista: BRICS são sionistas

A esquerda pequeno-burguesa faz de tudo para atacar os governos que batem de frente com o imperialismo

A esquerda pequeno-burguesa tem como grande falha política o seu alinhamento com o imperialismo. Isso se expressa, em geral, com a aliança com a “democracia” de um lado e a crítica aos que lutam contra o imperialismo de outro lado. Muitas vezes, para tornar o argumento esquerdista, os que estão em luta contra o imperialismo são taxados de pró-imperialistas eles mesmos. É o que faz o Esquerda.Net em seu texto Quase todos os regimes dos BRICS+ alimentam Israel economicamente. Um ataque direto aos BRICS vindo da esquerda de um país europeu, Portugal.

O argumento central do texto é que os BRICS, na verdade, não são inimigos de “Israel” e que isso seria mais um motivo para não serem apoiados. O artigo lista várias relações econômicas entre os países dos BRICS e “Israel”. Todas elas podem ser criticadas, mas não é fato que definem que um país não está em oposição a outro. A Venezuela, por exemplo, tem relações econômicas com os EUA, isso quer dizer que Maduro é aliado do imperialismo norte-americano? Evidente que não. O que pode se afirmar é que a atitude correta seria um bloqueio econômico total de “Israel” até o fim do genocídio, política que o Irã, um país dos BRICS, defende.

Mas a grande atenção é dada para a Rússia. O que é interessante, pois o Esquerda.Net ataca constantemente o governo Vladimir Putin ao invés de criticar a OTAN, organização da qual Portugal faz parte. Ele afirma: “a retórica e a realidade divergem, porque, com 1,3 milhões de russos a contribuírem para o genocídio de Israel, vivendo no país, pagando impostos e, em muitos casos, servindo diretamente nas Forças de Defesa de Israel”. Esse primeiro argumento já mostra a má-fé do autor. A Rússia tem 145 milhões de habitantes, qual a relevância dos descendentes de russos que vivem em “Israel”, que, na verdade, são mais israelenses que russos?

Ele fala de pessoas influentes no governo como Alexander Dugin. Cita o seguinte texto do autor: “mais uma vez, quanto mais depressa se atua, mais justificado se está. Aqueles que agem com determinação e ousadia vencem. Nós, pelo contrário, somos cautelosos e estamos sempre a hesitar. Aliás, o Irã também está a seguir este caminho, que não leva a lado nenhum. Gaza desapareceu. A liderança do Hamas foi-se. Agora, a liderança do Hesbolá foi-se. E o Presidente Raisi do Irã desapareceu. Até o seu pager desapareceu… Na guerra moderna, o tempo, a velocidade e a ‘dronocracia’ decidem tudo. Os sionistas agem rapidamente, de forma proativa. Com ousadia. E ganham. Devemos seguir o seu exemplo”.

O texto, em sua sanha para criticar a Rússia, nem consegue interpretar a política de Dugin. O que ele está falando é que o Irã errou em hesitar, ou seja, que o Irã deveria ter atacado “Israel” com mais força e mais rapidamente. Isso é um apoio a “Israel”? Ele afirma que o Eixo da Resistência e a Rússia devem ser mais ousados em suas guerras contra o sionismo e contra a OTAN. Caso Putin seguisse Dugin, portanto, enviaria mais armas para o Irã e para todo o Eixo da Resistência. Com isso pode se configurar como apoio a “Israel”?

Ele então cita Lavrov, o ministro das Relações Exteriores russo, fora de contexto para taxá-lo de sionista: “os objetivos declarados por Israel para a sua operação em curso contra os militantes do Hamas em Gaza parecem quase idênticos aos apresentados por Moscovo na sua campanha contra o governo ucraniano”. Aqui o texto já se torna absurdo. O que Lavrov está apontando é a hipocrisia do imperialismo que, se fosse coerente, deveria apoiar a Rússia contra a Ucrânia. Mas, em um caso, os países imperialistas apoiam a Ucrânia e, no outro, apoiam “Israel”. É uma outra versão do argumento que afirma que quem defende a Ucrânia deveria defender o Hamas, afinal, os dois seriam a resistência.

Ambos os argumentos estão incorretos. O certo é apoiar o país oprimido contra o imperialismo independente de quem seja taxado de “agressor”. A Rússia e a Palestina são os países oprimidos e, portanto, devem ser apoiados.

Aqui é preciso fazer um comentário sobre a política externa da Rússia, que é administrada por Lavrov. Desde o princípio a Rússia foi o principal aliado diplomático do Hamas na guerra. Isso porque é um país de enorme importância e que tem mais acesso internacional que o Irã. O Hamas inclusive agora possui uma sede em Moscou. O Hamas visitou Moscou três vezes desde o início da guerra a convite de Putin. O governo russo auxiliou no acordo diplomático assinado em Pequim com o Hamas e todas as organizações palestinas. A diplomacia russa vetou diversas decisões no Conselho de Segurança da ONU que beneficiariam “Israel”. A primeira proposta de cessar-fogo na ONU foi apresentada pela Rússia. Para o Esquerda.Net, nada disso importa, apenas interpretar incorretamente uma frase de Lavrov.

O texto continua com a má-fé, citando o autor Andrew Korybko, que não tem relação nenhuma com o governo russo. Ele destaca: “a Rússia continua a ser sensível à opinião pública mundial, o que é mais um resultado de dar prioridade aos objetivos políticos em detrimento dos militares, enquanto Israel é impermeável à opinião pública no seu país, no Líbano e em todo o mundo. Por conseguinte, a Rússia colocará as suas tropas em perigo capturando locais bloco a bloco, em vez de praticar o ‘choque e pavor’ como Israel está a fazer no Líbano. Embora a abordagem russa tenha provocado muito menos mortes de civis, continua a ser muito criticada, se não mais, do que Israel… O nobre plano de Putin de uma grande reconciliação russo-ucraniana após o fim da operação especial parece estar mais distante do que nunca, mas ele continua a acreditar que é suficientemente viável para justificar a manutenção do rumo, continuando a dar prioridade aos objetivos políticos em detrimento dos militares. Ele é o Comandante Supremo com mais informação disponível do que qualquer outra pessoa, por isso tem razões sólidas para isso, mas talvez o exemplo de Israel no Líbano o inspire a ver as coisas de forma diferente e a agir em conformidade”.

Mais uma vez, o autor é totalmente incapaz de interpretar o texto. A análise de Korybko, independente de estar correta ou errada, não é um apoio ao Estado de “Israel”. É, novamente, uma comparação entre guerras. Putin está numa guerra, “Israel” está numa guerra, comparar as guerras é algo comum. Em geral, as comparações são incorretas justamente porque quem não faz a análise de classe considera que a Rússia seria equivalente a “Israel” quando, na verdade, a OTAN é “Israel” e a Rússia é a Palestina, ou, pelo seu tamanho, o Irã.

Ou seja, não há argumentos reais para defender que a Rússia, um dos maiores aliados do Irã, o nêmesis de “Israel”, seria sionista. Não se comenta que “Israel” é aliado da Ucrânia, que foi justamente a guerra na Ucrânia que amargou de vez as relações de Putin com o Estado sionista. O texto é todo um golpe baixo para tentar desmoralizar a Rússia e os BRICS, que são cada vez mais populares entre os oprimidos de todo o planeta.

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