Na última quinta-feira (14), o Inquérito das “fake news” completou cinco anos de existência. Instaurado por Dias Toffoli, na época presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o inquérito marcou mais um dos passos em direção à destruição dos direitos democráticos da população por parte do poder Judiciário, em especial do STF.
Se, num primeiro momento, o alvo das investidas do poder Judiciário foi a esquerda, com o intuito de retirar o PT do poder Executivo sob a égide do combate à corrupção; desta vez, a nobre causa escolhida foi a “defesa da democracia” que estaria ameaçada pelo bolsonarismo, na época no poder Executivo. Tratava-se de uma das muitas medidas implementadas pelo imperialismo, e seus serviçais no País, para “conter” Bolsonaro.
Este é precisamente o primeiro ponto que um setor importante da esquerda precisa compreender: o Inquérito das “fake news” nunca teve um caráter progressista. Foi justamente por meio do espantalho da extrema direita (que na época não tinha a menor condição de, de fato, tomar conta do regime político) que o imperialismo conseguiu angariar apoio de um setor de esquerda para a operação. Trata-se, e sempre se tratou, de uma disputa pelo controle do Estado brasileiro por setores diferentes da burguesia, e se hoje já fazem mais de duas décadas do governo FHC, o curto mandato do golpista Temer é um lembrete da política do setor “democrático” da burguesia.
Enquanto um setor significativo aplaudia os mandos e desmandos do Inquérito das “fake news” em sua perseguição a elementos secundários do bolsonarismo, a máscara caiu para a parte mais esclarecida da esquerda quando o senhor Alexandre de Moraes, ministro do STF e mais poderoso careca brasileiro, decidiu de maneira unilateral o fechamento das redes sociais do Partido da Causa Operária (PCO) poucos meses antes das eleições de 2022. Estava ali a primeira amostra do fato de que a tese das fake news tinha como verdadeiro objetivo a censura contra a esquerda, hoje fato consumado com a perseguição generalizada aos críticos do genocídio promovido pelo sionismo na Palestina.
Voltando à tese que fundamentou o Inquérito das “fake news“, ou seja, a tese do combate à extrema direita. Caso fosse, de fato, este o objetivo, pode-se dizer que o inquérito foi bem-sucedido em seus cinco anos de funcionamento? Elementos alucinados que acreditam de fato numa aliança da esquerda com o setor “democrático” da direita diriam que sim, afinal, Lula foi eleito em 2022 e, como a luta política para estes setores se resume às eleições, a extrema direita estaria morta até, pelo menos, 2026.
A realidade, no entanto, é que, enquanto o governo Lula obteve poucos ganhos para o povo brasileiro, Bolsonaro e seus partidários colocaram dezenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista, poucas semanas atrás. A extrema direita está viva e muito bem organizada.
Os indícios em outros países apontam também para o fracasso retumbante da política de censura na contenção da extrema direita. Trump, que sofreu uma perseguição judicial ordens de grandeza maior do que a sofrida por Bolsonaro no Brasil, é o favorito para as eleições norte-americanas no fim do ano e passou como um furacão nas primárias do partido Republicano. A extrema direita portuguesa, com o Chega (partido inclusive aliado aberto do bolsonarismo brasileiro), apresentou um crescimento gigantesco no parlamento, chegando a 40 cadeiras.
O Inquérito das “fake news” nada mais foi do que mais uma etapa no progressivo fechamento do regime político brasileiro, que, ao invés de combater o fascismo, abre as portas para o seu crescimento. Nesse sentido, o resultado de seus cinco anos de existência se restringem à destruição cada vez maior dos direitos democráticos da população, em especial da liberdade de expressão.