Sob os mais diversos ângulos possíveis de se observar o resultado das eleições municipais de 2024, a extrema direita será vista como a grande vitoriosa. O Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi o partido que mais venceu nas cidades grandes. É também o partido que teve o maior crescimento proporcional na quantidade de prefeituras conquistadas. Seus aliados Republicanos, PP e União Brasil também figuraram entre os grandes vencedores.
O único dado que poderia despertar alguma dúvida é a vitória impressionante do Partido Social Democrático (PSD), que não é propriamente um partido da extrema direita. É, em grande medida, um partido improvisado pela burguesia para represar a falência total do chamado “centro político”, que antes era representada pelo PSDB.
Mas o fato de que o PSD conquistou cerca de 20% das prefeituras não está em contradição com a vitória da extrema direita. O PSD, se não é uma legenda de extrema direita em si, é muito menos uma legenda de esquerda. Seu grande cacique é o ex-prefeito Gilberto Kassab (SP), figura que hoje é secretário do governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). O PSD é o partido de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado Federal eleito com o apoio de Bolsonaro quando era presidente da República.
O PSD está cheio de direitistas que, quando não apoiam abertamente o bolsonarismo, se recusam a apoiar a esquerda.
Há, contudo, outro aspecto que deve ser levado em consideração. O dado mais importante não é a quantidade de prefeituras conquistadas, mas sim a tendência da situação política. O bolsonarismo venceu nas grandes cidades. Os partidos bolsonaristas expressam um crescimento. Já a esquerda, adversária natural do bolsonarismo, teve um resultado catastrófico. O PSOL perdeu todas as suas prefeituras, enquanto o PCdoB reduziu o seu desempenho em mais da metade. O PSDB, concorrente direto do bolsonarismo na direita nacional, teve uma derrota acachapante.
Essa tendência é que irá determinar a atuação dos prefeitos do PSD e de todos os partidos que não têm um conteúdo político definido. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, pode até ter sido eleito com apoio de Lula, mas só conseguira governar se ceder à pressão do bolsonarismo.
Apesar de PCdoB e PSOL serem atropelados nas eleições, o PT teve um tímido crescimento. Tal resultado já foi suficiente para que dirigentes do partido celebrassem. Nada poderia estar mais equivocado: o PT simplesmente se manteve na mesma situação. Teve apenas uma pequena oscilação, mas continua absolutamente isolado, com uma quantidade de prefeitos bastante inferior ao PL, União Brasil e PP. Não se trata de nenhuma recuperação – pelo contrário, trata-se de um aprofundamento da crise.