A jornalista Marina Izidro publicou um artigo no jornal golpista Folha de S. Paulo, intitulado Mais uma condenação aos racistas, mas como seguir avançando?, criticando uma sentença dada pela justiça espanhola, que na visão da jornalista, teria sido branda com “racistas”. Diz Izidro:
“Como cidadã, me incomoda o fato de que um pedido de desculpas seja atenuante. Mas fato é que algo está mudando e atos racistas por lá agora têm consequências. Foi a terceira condenação penal nos últimos meses por injúrias raciais contra jogadores do Real Madrid. Dá para fazer mais em termos de punições? Sem dúvidas.”
O uso de métodos stalinistas para lidar com opiniões racistas como a contrição, deveria ser repudiado pela sua barbárie, mas o fato de ter se desenvolvido na Idade Média e aprimorado por ditaduras como a do stalinismo e mesmo outras como a Ditadura Militar (1964-1985) não incomoda a jornalista. O que a incomoda é que isso sirva como atenuante para uma punição que sequer deveria existir.
Com o pretexto de “combater o racismo”, o que a identitária está efetivamente fazendo é pavimentando o caminho para uma repressão total contra a população. Ao analisar o conteúdo do artigo da jornalista, o que fica claro é que sua “preocupação” não é com o racismo ou com os negros, mas sim com uma política destinada a esmagar as massas populares. Izidro se queixa da “brandura” das punições aos “racistas”, mas nem se dá ao trabalho de lembrar que o Brasil já possui uma das maiores populações carcerárias do mundo, quase inteiramente negra.
Em sua ânsia por punir a “opinião imoral”, como ela própria sugere, a jornalista ignora o verdadeiro efeito desse tipo de política: prender ainda mais pobres e negros. É irônico que a mesma classe média que aplaude quando alguém é encarcerado por um comentário de mau gosto seja a primeira a criticar as falhas do sistema penal, que ela própria ajuda a engordar com suas exigências por mais repressão.
Quando Izidro fala em “fazer mais em termos de punições”, está, na prática, defendendo uma política que colocará mais pobres nas cadeias. Enquanto se finge preocupada com os efeitos do racismo, suas propostas servem apenas para garantir que a classe trabalhadora fique ainda mais acuada e sujeita ao controle do Estado burguês.
Não é difícil enxergar que o alvo não serão os burgueses detentores do aparelho estatal, mas os trabalhadores que já sofrem com a repressão cotidiana do sistema penal. É um jogo que beneficia apenas a classe dominante.
Finalmente, proibir a expressão, prender por palavras ditas e ampliar os critérios para criar crimes e tornar a repressão mais presente na vida dos trabalhadores comuns — tudo isso ajuda a piorar ainda mais a ditadura da burguesia sobre os demais setores da sociedade. Na verdade, o discurso moralizante de Izidro é um convite ao recrudescimento da repressão estatal.
As palavras de ordem de “avanço nas punições” mascaram um impulso de natureza fascista. Assim como as ditaduras do passado se justificavam em nome da “ordem”, a nova ordem moral e progressista da classe média também quer justificar o esmagamento da liberdade de expressão sob a máscara da justiça social. O que diferencia Izidro de um Torquemada, inquisidor da Idade Média, ou de um Golbery do Couto e Silva, estrategista do regime militar? Apenas o alcance da retórica.
A jornalista menciona ainda o caso do Reino Unido, onde uma lei permite que torcedores sejam banidos de estádios por injúrias feitas na internet, ou seja, sequer foram proferidas no ambiente do qual estão sendo banidos (o que em si já é um absurdo completo). Ela vê isso como uma evolução, mas será que uma lei que transforma insultos em crimes justifica a celebração? O que se segue a isso? Prender quem faz piadas, proibir canções e, finalmente, criminalizar toda e qualquer manifestação popular que não agrade ao regime? A linha entre proibir insultos e banir críticas políticas é muito tênue, e os setores verdadeiramente progressistas que aplaudem tais medidas de hoje, certamente sofrerão quando forem vítimas de um sistema que inadvertidamente ajudaram a construir.
No fundo, a campanha por punições mais severas aos “racistas” nada mais é do que uma cortina de fumaça para esconder os verdadeiros interesses da burguesia decadente e dos seus servidores na pequena burguesia: criar um ambiente de medo e opressão, no qual a classe trabalhadora fique paralisada diante da ameaça de ser enquadrada por crimes de opinião. Para a classe dominante, o verdadeiro perigo não é o racismo, mas sim a mobilização do povo contra o sistema que ela defende.
Se Izidro estivesse realmente preocupada com o racismo e os efeitos das desigualdades históricas, não pediria mais prisões, mas sim a libertação dos negros que hoje apodrecem nas cadeias brasileiras. Não pediria mais repressão, mas sim a eliminação de todo o sistema repressivo que assassina negros em escala industrial. Em vez disso, ela faz parte do coro que empurra a repressão para cima de quem já sofre com ela. A verdadeira questão, então, é: quem se beneficia com mais prisões e proibições?
Assim, ao defender uma escalada repressiva em nome de um suposto “combate ao racismo”, Izidro nada mais faz do que servir ao projeto fascista de manter a população oprimida. É isso que a luta “antirracista” dos identitários representa: uma armadilha para submeter ainda mais a população ao controle de um sistema que nada tem a oferecer além de mais punição, mais repressão e menos liberdade para o povo. A burguesia se aproveita do moralismo da pequena burguesia para dar a essa classe um motivo aparentemente nobre para deixar aflorar as tendências fascistas características da classe média, mas no fundo, a luta contra o racismo não passa disso: uma desculpa para a manutenção da barbárie.