O apoio do PT à candidatura de Hugo Motta (Republicanos) para a presidência da Câmara dos Deputados não é uma simples concessão tática. Trata-se, na realidade, de uma capitulação política diante de uma ofensiva coordenada da direita e do bolsonarismo, que busca enfraquecer e sufocar a esquerda até o ponto de pavimentar o caminho para um golpe de Estado.
O PT, ao apoiar um candidato associado à extrema direita e alinhado à política de Arthur Lira e do Republicanos, vai além do tradicional “toma lá, dá cá” do Centrão: está, na prática, oferecendo uma plataforma para a consolidação de forças que trabalham sistematicamente contra o próprio governo de Lula.
Esse alinhamento não pode ser visto apenas como mais um movimento de “pragmatismo”. O apoio a Hugo Motta revela uma perigosa adaptação do PT ao jogo da direita, um movimento que enfraquece suas bases populares e mina qualquer perspectiva de enfrentamento com o bolsonarismo. Ao fazer concessões sucessivas, como no caso da candidatura de Motta, o PT não está só tentando “sobreviver” no cenário político: está se rendendo à direita que, com forte apoio do imperialismo e do capital financeiro, busca pressionar o governo a seguir uma política de austeridade e subserviência.
O governo Lula, cada vez mais acuado pelas pressões dos grandes capitalistas, tem adotado medidas de austeridade que prejudicam diretamente a população, como cortes em áreas essenciais e o enfraquecimento de serviços públicos fundamentais. Mesmo assim, os setores financeiros e do grande capital, que Lula tenta agradar, seguem o criticando de forma implacável, como mostra o recente ataque de Marcus Pestana, diretor da Instituição Fiscal Independente (IFI).
Pestana acusou o governo de abandonar o equilíbrio fiscal, afirmando que o aumento do déficit público e da dívida representam uma ameaça à economia, sem propor qualquer solução real para aliviar a pressão sobre os gastos públicos, como a suspensão do pagamento da dívida.
Essas críticas refletem o desprezo da burguesia pelas tentativas de “moderação” de Lula. A direita não está interessada em um Lula conciliador; ela quer alguém que sirva incondicionalmente aos interesses imperialistas, como Javier Milei na Argentina, e vê nas concessões do governo um sinal de fraqueza. A cada concessão que o PT faz, tenta apaziguar uma força organizada e hostil, que não deseja qualquer espaço para a esquerda no governo e que está empenhada em sufocar o movimento popular.
A aliança com Hugo Motta, então, simboliza essa submissão, cedendo à direita espaço de liderança no Congresso, ao invés de construir uma posição de enfrentamento. Para a base popular do PT, essa aproximação com o Republicanos não é apenas incompreensível; é um sinal de traição. E isso não enfraquece apenas a base do partido. A cada novo recuo, Lula e o PT afastam-se das massas que os elegeram e que esperam políticas transformadoras, como investimento em infraestrutura, emprego e políticas sociais.
Ao invés de lutar contra o avanço da direita, o PT segue uma política de conciliação que apenas fortalece a extrema direita. Essa capitulação reflete-se também na política externa de Lula, que, em discursos como o da ONU, adotou um tom mais alinhado ao imperialismo, criticando a Rússia e classificando os combatentes palestinos como “fanáticos religiosos”.
Lula e o PT precisam entender que a política de “conciliar para governar” não funcionará frente a uma direita determinada e organizada, que está preparada para descartar o governo de esquerda assim que se sentir suficientemente fortalecida para um golpe. A única saída real para o governo é romper com essa política de acomodação ao imperialismo e ao capital financeiro, e adotar uma postura que realmente represente os interesses populares, com investimentos robustos em infraestrutura e uma economia voltada para o desenvolvimento nacional.