O jornalista Alex Solnik, em artigo do Brasil 247, recebeu com grande alegria a prisão do ex-candidato a vice-presidente da chapa encabeçada por Jair Bolsonaro (PL), em 2022. Disse ele:
“Os mais supersticiosos estão vendo uma conjugação dos astros. Um dia depois de uma sexta-feira 13, como a de 1968 do AI-5… um dia depois das fotos de Lula recuperado… no mesmo dia do aniversário de Dilma Rousseff… mas a realidade é que Braga Netto foi preso num sábado, 14, porque na quinta-feira, 12, quando seria, estava em Alagoas, a passeio.”
A forma como Solnik apresenta a notícia já revela, em si, uma total alienação da realidade por parte do jornalista: “Um dia depois de uma sexta-feira 13, como a de 1968 do AI-5” – sendo que Solnik é incapaz de enxergar que estamos prestes a presenciar um novo AI-5, que será a derrubada do artigo 19 do Marco Civil da Internet -, “um dia depois das fotos de Lula recuperado” – como se isso fosse suficiente para resolver a crise interna gigantesca na qual o governo está inserido…
O jornalista não tem a menor ideia sobre o mundo em que vive. Não consegue ver que o governo que apoia está cada vez mais ameaçado de não terminar o mandato. Que, após medidas como o Plano Haddad, seu apoio popular tende a cair dia após dia. E que, na medida em que aumenta a crise do imperialismo, a burguesia vai se tornando cada vez mais abertamente golpista.
Dito isso, vamos adiante com a análise de Solnik sobre a prisão de Braga Netto.
“Além de calar os que sempre foram céticos sobre a punição de generais de quatro estrelas, a prisão inesperada, antes, até do indiciamento pela Justiça, é um recado para Bolsonaro. Ou se comporta, ou será o próximo. Tal como diz a marchinha infantil, ‘se não marchar direito, vai preso no quartel’.”
Pode ser que o intuito de prender Braga Netto seja dar um recado a Jair Bolsonaro (PL)? Sim, é possível. No entanto, o papel de alguém que se diga apoiador do governo Lula não deveria ser o de comemorar a prisão do militar, mas sim analisar o que de fato sua prisão representa.
Em primeiro lugar, trata-se de uma prisão ilegal. Braga Netto está sendo acusado de “tentativa de golpe de Estado”, coisa que a Polícia Federal (PF) e o Supremo Tribunal Federal (STF), embora muito se esforçassem, não conseguiram provar que houve. Por ser uma prisão ilegal, ela significa que as arbitrariedades aumentarão contra todo o povo brasileiro, em especial a esquerda.
Em segundo lugar, é grotesco que alguém que escreve para um portal progressista ache que o papel do Judiciário é mandar recados. O critério para que Bolsonaro seja preso não deveria ser ele “se comportar” ou não, mas sim se ele cometeu um crime ou não. Se ele for preso sem ter cometido crime, é uma ilegalidade por parte do STF. Se o STF chegar à conclusão, com base em fatos, que ele de fato cometeu um crime, mas, ainda assim, não prendê-lo, é uma prevaricação. Ao defender isso, Solnik está defendendo que o STF se comporte como uma corte de tipo medieval, que age de acordo com suas conveniências, e não com base na Lei.
Em terceiro lugar, ainda que a burguesia estivesse utilizando a possibilidade de prisão para fazer Bolsonaro “marchar direito”, isso também não deveria ser motive de comemoração. O “marchar direito” que a burguesia quer é aplicar um programa tão ou mais criminoso que o de Javier Milei na Argentina.