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Brasil

O PT é um partido de extrema esquerda?

Aproveitando-se da histeria dos "extremismos", direitista tenta colar a pecha de "extremista" no PT

O engenheiro Marcelo Guterman, em artigo intitulado Já passou da hora de dar nome aos bois: O PT é um partido de extrema-esquerda e publicado no órgão bolsonarista Jornal da Cidade Online, traz suas considerações sobre o que caracterizaria campos como esquerda e direita para, enfim, caracterizar não apenas o PT, mas também o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como “extrema esquerda”. Diz o engenheiro:

“Os petistas consideram FHC como alguém de direita. Ocorre que FHC se considera como alguém indubitavelmente de esquerda. Ele próprio, portanto, se auto-classifica como de esquerda. Se os petistas o consideram de direita, isso significa que eles estão à esquerda de FHC. Portanto, são extrema-esquerda.”

Em primeiro lugar, é preciso lembrar que os termos “esquerda” e “direita” são uma herança da Revolução Francesa, no final do século XVIII, quando os membros da Assembleia Nacional se posicionaram fisicamente de acordo com suas posições políticas. Os deputados que se opunham à monarquia absolutista e eram contra as manobras do Palácio de Versalhes (à época, sede do governo monárquico francês) para aumentar os impostos da população, enquanto mantinham os privilégios da classe dominante na aristocracia, sentaram-se à esquerda do presidente da Assembleia.

Já os deputados que apoiavam a manutenção do sistema monárquico, defendendo os privilégios da nobreza e o aumento de impostos para o chamado Terceiro Estado (camponeses, trabalhadores e burgueses), posicionavam-se à direita. Essa divisão, que inicialmente refletia uma organização espacial, passou a simbolizar a distinção entre políticas progressistas, associadas à esquerda, e reacionárias, associadas à direita, estabelecendo as bases para o uso desses termos até os dias atuais. Com essa digressão histórica importante feita, voltemos às considerações de Guterman. 

Claro que se a autoclassificação fosse um parâmetro aceitável, a pessoa se veria obrigada a reconhecer como “Napoleão Bonaparte” os incontáveis loucos que assim se apresentam nos hospícios do mundo. Usar o que uma pessoa diz de si mesma como critério, portanto, é um caminho seguro para o autoengano. Talvez percebendo o flanco aberto em sua colocação, o autor se arrisca a um critério mais objetivo para considerar FHC um esquerdista:

“Vamos analisar a posição de FHC. Por que, afinal, ele se considera alguém de esquerda? Em primeiro lugar, ele estava do outro lado da ditadura militar. Foi perseguido e se exilou. Em segundo lugar, se engajou em pautas caras à esquerda, como a reforma agrária e a concessão de benefícios aos mais pobres.

Os petistas, porém, não perdoam a agenda econômica de FHC. Privatizações, equilíbrio fiscal, independência das agências reguladoras e do Banco Central, são todos mecanismos que, de alguma forma, tiram poder do Executivo. É menos Estado e mais iniciativa privada, o que é imperdoável aos olhos dos petistas.”

Ao adotar um critério um pouco mais concreto, o problema da caracterização de FHC como “esquerdista” aparece. Afinal, que importa se ele foi perseguido e exilado na Ditadura Militar, uma vez que – como reconhece o engenheiro -, governou promovendo “privatizações, equilíbrio fiscal, independência das agências reguladoras e do Banco Central”, ou seja, atendendo aos interesses e à manutenção dos privilégios da classe dominante contemporânea, a burguesia, em especial sua ala mais poderosa: o imperialismo.

Não é o que uma pessoa diz o que importa, mas o que faz e, nisso, não há qualquer sombra de dúvida quanto à natureza direitista do governo FHC, seguramente o mais entreguista desde o fim da Ditadura Militar. Exceto para fins de malabarismo retórico destinado a apresentar o PT como um partido “extremista” – o que, graças à campanha histérica promovida desde o começo da década, equivale a um sinônimo de “criminoso” -, a consideração feita por Guterman é totalmente fora da realidade. O autor continua:

“O que tem surpreendido os analistas e, porque não dizer, os mercados, é que o próprio Lula tem se alinhado à extrema-esquerda. Todos esperavam o Lula ‘pragmático’ do primeiro mandato, alguém de centro-esquerda como FHC, mas o que se tem revelado é um Lula de extrema-esquerda. É irrelevante saber se o Lula do primeiro mandato era fake ou real. O que importa é o que ele é hoje. E o Lula de hoje chegou ao ponto de levar um puxão de orelhas de Gabriel Boric, alguém que, até ontem, era considerado de extrema-esquerda no Chile.

Vamos dar nome aos bois. O PT é um partido de extrema-esquerda. E Lula, hoje, se comporta como um político de extrema-esquerda.”

Com a mesma consideração de fundo social apresentada acima, é totalmente sem sentido a colocação de Guterman. Dessa vez, porém, o engenheiro não se dá ao trabalho de explicar como o governo que está aprovando o Plano Haddad, um duro pacote de cortes de despesas destinado a prejudicar a maioria trabalhadora para a manutenção dos privilégios da classe dominante, pode ser considerado “extrema esquerda”. Explicar o inexplicável, finalmente, não é uma tarefa das mais fáceis.

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