Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

Coluna

O problema do imperialismo

O estudo do imperialismo é fundamental para todos os marxistas

Quando escreveu Imperialismo, fase superior do capitalismo, Vladimir Lênin executou um profundo golpe contra a social-democracia da época, que, traindo a classe operária dos seus partidos, apoiou, sem se envergonhar, seus respectivos países na guerra imperialista que ocorreu entre 1914 e 1918 (Primeira Guerra Mundial). Conforme apontou Lênin, em seu prefácio às edições alemã e francesa (publicado sob o título Imperialismo e Capitalismo na revista Communist International em 1921), objetivo do livro era:

“Mostrar, com a ajuda dos dados gerais, irrefutáveis, da estatística burguesa e das declarações dos homens de ciência burgueses de todos os países, um quadro de conjunto da economia mundial capitalista nas suas relações internacionais, nos princípios do século XX, em vésperas da primeira guerra imperialista mundial.”

Através disso, Lênin denunciou a ditadura das grandes empresas capitalistas, transformadas em monopólios, ao redor do mundo. Todos os países, conforme demonstra Lênin, foram submetidos a essa ditadura global — que os setores nacionalistas e de extrema direita hoje se referem como “globalismo”. Ele, assim, criticou “a total falsidade das visões e esperanças social-pacifistas para a ‘democracia mundial’”. Quer dizer, comprovou a falsidade do conceito de “democracia mundial”, revelando um esquema criminoso de espoliação dos países pelos monopólios capitalistas.

Essa conjuntura, analisada há mais de um século, é ainda mais verdadeira atualmente. A concentração de capitais aumentou significativamente em um século, aprofundando ainda mais o caráter anacrônico do capitalismo.

Em 2011, apenas três anos após a crise da Bolsa de Nova Iorque que abalou o mundo, a Forbes, revista do capital financeiro, apareceu com a manchete: As 147 empresas que controlam tudo (The 147 Companies That Control Everything, no original em inglês). O artigo citou a pesquisa feita por especialistas do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça. Eles analisaram relações entre 43 mil empresas transnacionais e identificaram um grupo relativamente pequeno de empresas, principalmente bancos, com um poder desproporcional sobre a economia mundial.

“Três teóricos de sistemas do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, em Zurique — diz a Forbes — analisaram um banco de dados com informações de 37 milhões de empresas e investidores em todo o mundo. Eles examinaram todas as 43.060 corporações transnacionais e as participações que as conectavam. Construíram um modelo que mostra quem possui o quê, qual é a sua receita e mapearam toda a estrutura do poder econômico” (idem.).

“Descobriram — continua a revista — que o controle corporativo global tem uma forma distintiva de gravata borboleta, com um núcleo dominante de 147 empresas irradiando a partir do centro. Cada uma dessas 147 possui participações interligadas umas nas outras, e juntas controlam 40% da riqueza na rede. No total, 737 empresas controlam 80% de tudo” (grifo meu). 

É, claro, a Forbes tenta disfarçar a situação caótica do capitalismo, justificando que “a teia de controle corporativo não é, de fato, uma conspiração de domínio mundial. Existem muitas razões para nós e conexões firmemente agrupadas: estratégias anti-tomada de controle, redução de custos de transação, compartilhamento de riscos, aumento da confiança e grupos de interesse”. Mas argumentar que o monopólio econômico é uma forma de assegurar os negócios (desse reduzido grupo de capitalistas!) não é novidade, e havia sido revelado por Lênin já em 1916.

Da mesma forma, como demonstrou o líder da Revolução Russa, que naquela época denunciava a guerra imperialista (“de conquista, de pilhagem e de rapina”, conforme disse) e os economistas burgueses e pequeno-burgueses que defendiam a política dos monopólios, a economia capitalista na sua fase imperialista é o controle dos bancos sobre toda a economia mundial; é a ditadura do capital financeiro sobre o resto do mundo. No estudo de 2011, revela-se que a maioria das 147 empresas que controlam 40% da economia eram instituições financeiras, sendo que entre as 20 principais, estavam o Barclays Bank, JPMorgan Chase & Co e o The Goldman Sachs Group.

No momento atual, em que presenciamos inúmeras guerras patrocinadas pela máquina imperialista dos Estados Unidos, Lênin diria que “as guerras imperialistas são absolutamente inevitáveis enquanto subsistir a propriedade privada dos meios de produção”. Lênin escreveu, no prefácio de 1921, que “a propriedade privada baseada no trabalho do pequeno proprietário, a livre concorrência, a democracia, todas essas palavras-de-ordem por meio das quais os capitalistas e a sua imprensa enganam os operários e os camponeses [e que ainda são repetidas pelos ideólogos burgueses atualmente], pertencem a um passado distante”. 

“O capitalismo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta por um punhado de países ‘avançados’. A partilha desse ‘espólio’ efetua-se entre duas ou três potências rapaces, armadas até os dentes (Estados Unidos, Inglaterra, Japão), que dominam o mundo e arrastam todo o planeta para a sua guerra pela partilha do seu espólio”, descreveu (idem). “O imperialismo é a véspera da revolução social do proletariado. Isto foi confirmado à escala mundial desde 1917”, concluiu no prefácio, referindo-se à Revolução Russa.

Dessa forma, para a vanguarda proletária, a compreensão do que é o imperialismo é um problema chave. Caso contrário, por meio do “pacifismo”, na crença na “democracia burguesa” e outras enganações, ela não conseguirá liderar sua luta contra o inimigo internacional da classe operária: esse punhado de capitalistas que controlam a economia mundial e, portanto, manipulam todas as nações e povos do mundo, deixando a esmagadora maioria da população mundial em um completo atraso.

A não compreensão do problema do imperialismo levou setores da esquerda pequeno-burguesa, que aderiram a uma frente única com as grandes potências, a se opor às guerras de libertação nacional realizadas recentemente pela Rússia, na Ucrânia, e pelo Talibã no Afeganistão. Da mesma forma, enganados pelo mito da “democracia”, esses mesmos setores se negam a defender a liderança da resistência armada palestina, o Movimento Resistência Islâmica (Hamas), na sua guerra contra o enclave imperialista de “Israel” — defendendo uma “paz” que não pode ocorrer enquanto existir o Estado sionista.

O partido da classe operária internacional, o marxismo, deve apoiar todas as lutas contra o sustentáculo do sistema capitalista mundial: o imperialismo. Para isso, é preciso compreender o que se está combatendo. Por isso, o Partido da Causa Operária dedicará sua principal atividade de formação política, a Universidade de Férias, a estudar esse fenômeno; em evento que ocorrerá em fins de janeiro.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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