Em 1978, o comitê norueguês responsável pela concessão do Prêmio Nobel da Paz tomou uma decisão reveladora de sua natureza ao agraciar, em conjunto, o então primeiro-ministro de “Israel”, Menachem Begin, e o presidente do Egito, Anwar Sadat. A justificativa? Os acordos de Camp David, que supostamente pavimentaram o caminho para a paz entre os dois países. Claro que “paz” não passa de um eufemismo. O que realmente ocorreu foi uma demonstração de que um importante país árabe situado na fronteira com “Israel” estava sob domínio dos interesses criminosos do imperialismo.
Menachem Begin assumiu o posto de primeiro-ministro de “Israel” em 1977. Antes disso, destacou-se como líder do Irgun, milícia fascista responsável por massacres brutais, como o infame ataque à aldeia de Deir Yassin, em 1948, onde centenas de palestinos, incluindo mulheres e crianças, foram assassinados. Begin nunca negou seu papel no episódio, que considerava parte da consolidação do projeto sionista de um Estado “judeu” às custas da expulsão em massa dos palestinos. A escolha do comitê norueguês em premiar uma figura com tal histórico de violência revela não apenas o cinismo por trás do prêmio, mas também o desprezo absoluto pelas vítimas do colonialismo sionista.
Os acordos de Camp David, mediados pelo então presidente dos EUA, Jimmy Carter, consolidaram o primeiro tratado de paz formal entre “Israel” e um país árabe. O Egito, sob a liderança de Anwar Sadat, reconheceu o Estado de “Israel” e aceitou normalizar relações diplomáticas, enquanto “Israel” concordava em devolver o Sinai, ocupado desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, sendo crucial para aumentar o isolamento dos palestinos e dividir o bloco árabe, além de neutralizar a então principal força militar e política da região, o próprio Egito.
Para o imperialismo norte-americano, era uma vitória que cumpria também o papel de consolidar a ditadura imperialista sobre o país árabe e afastar a influência do stalinismo. Para o povo palestino, no entanto, Camp David significou o aprofundamento da brutalidade sofrida por parte da ditadura sionista. O tratado serviu para enfraquecer a resistência árabe e consolidar a posição de “Israel” na região.
Agraciado com o título de pacificador, Begin demonstraria sua verdadeira face poucos anos depois. Em 1982, ordenou a invasão do Líbano, uma operação militar massiva cujo objetivo era destruir a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e expandir a influência sionista no território libanês. A invasão resultou na morte com requintes de extrema crueldade de milhares de civis libaneses e palestinos, com bombardeios indiscriminados que destruíram bairros inteiros em Beirute. Foi nessa conjuntura que ocorreu o horripilante Massacre de Sabra e Chatila, um dos episódios mais horrendos da história moderna.
Sob a supervisão direta do exército de “Israel”, milícias falangistas libanesas invadiram os campos de refugiados de Sabra e Chatila, onde milhares de palestinos viviam em condições já precárias. Durante três dias, mulheres, crianças e idosos foram brutalmente assassinados.
O número exato de mortos nunca foi determinado, mas estimativas apontam para até três mil vítimas. A responsabilidade de Begin e de seu ministro da Defesa, Ariel Sharon, nesse genocídio é inegável. “Israel” forneceu apoio logístico, cercou os campos e garantiu que as milícias agissem sem interrupções. O massacre foi condenado internacionalmente, mas Begin permaneceu impassível, reafirmando sua disposição de defender o projeto colonial sionista a qualquer custo.
O histórico do Prêmio Nobel da Paz é repleto de demonstrações grotescas de que a premiação é um instrumento da propaganda imperialista. Poucas, porém, superam a escolha de 1978. Premiar Begin, o carniceiro da Nakba e futuro organizador do Massacre de Sabra e Chatila, é um insulto às vítimas de sua política genocida e uma demonstração de como o prêmio é, em essência, uma ferramenta política do imperialismo. Para os palestinos e todos os povos oprimidos que lutam contra o colonialismo e a ditadura mundial, a escolha de Begin e Sadat é útil para situar o papel dos governos egípcios desde o fim da era Nasser no genocídio dos árabes.