Ao analisar a situação econômica do Brasil em 2014, Maria da Conceição Tavares usou a expressão “ninguém come PIB, come alimentos”. Naquele momento, o governo era de Dilma Rousseff (PT), e o País já enfrentava os efeitos da grave crise econômica de 2008 e da preparação do golpe de Estado que derrubaria a presidenta em 2016. Hoje, a crise imperialista é ainda pior e, diante da necessidade de conter a situação no Brasil, a burguesia está cercando o governo Lula.
Neste terceiro mandato, a imprensa imperialista pressiona o governo dizendo que os resultados econômicos não estão satisfazendo os banqueiros, não estão satisfazendo o apetite dos “senhores do mundo”, do imperialismo. Para eles, a transferência de recursos dos trabalhadores para o capital está muito fraca, o governo deveria ser mais agressivo.
Do outro lado, o governo também não satisfaz as necessidades do povo. Desde que chegou ao poder, Lula não conseguiu reverter a devastação causada pelo golpe de Estado. A situação dos trabalhadores ainda é muito ruim, apesar do que dizem setores do governo e do PT ao divulgar projeções de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá x%. E alguns dados ajudam a entender esse problema:
Em 2013, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou o coeficiente de Gini, que mede a concentração da riqueza, ou seja, o grau de desigualdade entre pobres e ricos, no qual valores próximos de um indicam muita desigualdade ou concentração da renda e cada 0,03 ponto representa grande mudança na desigualdade. Em 2013, este coeficiente era de 0,496. Em 2020, foi para 0,7068 e, em 2023, ficou em 0,523.
Em 2016, o salário mínimo era de R$880 e, em 2024, foi para R$1.412, aumentando cerca de 60% em seis anos. No mesmo período, o salário médio dos brasileiros variou de R$2.227 para R$3.222, com aumento de 44,6%. A inflação acumulada nesse período, porém, ficou em 46,17%, segundo dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda nesse período, os aluguéis sofreram aumento de 64,68%, acima, inclusive, da inflação. O valor da cesta básica aumentou de R$459,02 para R$ 826,85, um aumento de cerca de 80% – muito acima da inflação.
Quer dizer, os dados mostram que, apesar de o PIB brasileiro ter crescido cerca de 3% em 2023, isso não se reverteu em praticamente nada para a população. No caso do aluguel, por exemplo, isso é claro.
Nesse sentido, o governo Lula não está tendo bons resultados na área da economia. Não é à toa que a sua aprovação caiu desde o começo de 2023, reflexo do fato de que, para a população, o que importa é ter comida na mesa, e não que o PIB cresça.
Não adianta perseguir a melhora dos índices da economia sem que isso significa uma melhora para a vida dos trabalhadores. É preciso transferir a renda dos mais ricos para os mais pobres. Para tal, o governo pode promover aumentos salariais reais, a geração de emprego por meio da redução da jornada de trabalho e demais medidas de impacto que verdadeiramente mudem a situação da população.
Fato é que o governo Lula está emparedado pelos capitalistas e, devido à sua política, não consegue mobilizar a população para atingir os interesses do povo. Com esses resultados e sem a mobilização dos trabalhadores, o governo tende a se desmanchar ao ser cada vez mais atacado pela burguesia.
No final, a única força política que pode salvar o governo é o povo que o elegeu.