Após Elon Musk, dono da plataforma X, vazar e-mails comprovado a atuação ilegal de Alexandre de Moraes frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), bem como acusar o ministro de ser um “ditador”, a presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann saiu em defesa de Moraes. Disse ela: “ditadura é o que Musk quer impor ao Brasil, passando por cima do estado de direito e das instituições em nosso país. O dono da rede X age em sintonia com a extrema-direita global para ameaçar a democracia em nosso país“.
A posição de Gleisi Hoffmann não é isolada dentro do PT. Figuras como Paulo Pimenta, responsável pela Comunicação da Presidência da República, e o senador Randolfe Rodrigues, líder do governo no Senado, fizeram declarações que vão no mesmo sentido.
É compreensível que Hoffmann desconfie da ação de Musk. Afinal, o bilionário admitiu publicamente ter participado do golpe militar fascista na Bolívia em 2019, além de ter recentemente acusado o presidente Lula de ser cúmplice de Moraes no estabelecimento de um regime ditatorial. O problema, no entanto, é que, independente de quem seja Elon Musk, o vazamento promovido por ele é um progresso.
Ao expor Alexandre de Moraes, Musk estaria favorecendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)? Sim, certamente. Ainda mais se levarmos em consideração que o conjunto da burguesia aproveitou a iniciativa de Musk para também criticar o ministro. Os principais jornais do País todos dizem a mesma coisa: Alexandre de Moraes passou dos limites.
Apesar de tudo isso, a defesa que o PT faz de Alexandre de Moraes é um erro. Ainda que o objetivo do vazamento tivesse sido única e exclusivamente o de favorecer o bolsonarismo, a esquerda não poderia sair em defesa do STF. Por um motivo simples: independentemente de quais sejam seus motivos, ao fazer isso, estará apoiando medidas antidemocráticas. Estará apoiando uma ditadura.
Se a preocupação do PT é que o bolsonarismo esteja em uma ofensiva, apoiar as medidas antidemocráticas do STF não irá fazê-lo recuar. Muito pelo contrário. Em primeiro lugar, fará com que o PT seja ainda mais odiado pelos setores influenciados pelo bolsonarismo, pois irá aparecer como um partido que apoia uma figura que não respeita os direitos democráticos da população. Segundo a denúncia de Elon Musk, Moraes, entre outras coisas, tentou forçar o Twitter a revelar a identidade de usuários só porque publicaram hashtags. O próprio Judiciário, responsável por impedir greves, pela prisão de Lula e por ataques aos direitos dos trabalhadores, é, em si, odiado. O PT não conseguirá apoio se sair na defesa desse inimigo político.
A defesa de Moraes também é um erro porque, além de ser um inimigo, além de estar promovendo uma ditadura de fato, ele não tem força para fazer com que o bolsonarismo recue. A prova disso é a própria reação da imprensa diante da crise: na medida em que os jornais saíram ao ataque contra o ministro, revelaram que a burguesia pode estar a um passo de retirar todo o apoio que deu durante anos a Moraes. Caso faça isso, o ministro irá à falência enquanto “caçador de bolsonaristas”.
O apoio à política de Moraes coloca o PT em um grande perigo. Já era uma política errada, e, neste momento em que a burguesia indica que pode se reconciliar com o bolsonarismo, pode ser efetivamente uma política suicida.