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Eleições municipais

O papel da esquerda é destruir o ‘centro’

Articulista afirma que a esquerda teria a sua importância por garantir a existência do centro político

No artigo Não desistam de ser de esquerda, Moisés Mendes defende uma tese que, se levada a sério, anula por completo o papel transformador da esquerda. Para Mendes, a esquerda teria como função assegurar a existência do “centro”, como se este fosse um pilar indispensável para a estabilidade política. Essa ideia, no entanto, é um erro fundamental: o centro político, longe de representar “equilíbrio”, é a expressão dos interesses do grande capital, da burguesia, e funciona como uma ferramenta do imperialismo. Em vez de buscar sustentar o “centro”, a esquerda deveria fazer o oposto: denunciar e combater o regime político que este centro representa e, em última instância, destruir o “centro”.

A defesa do centro e de suas instituições, como o Supremo Tribunal Federal (STF), é um dos exemplos mais claros de como a esquerda, ao proteger essas instituições, enfraquece a si mesma. Em vez de denunciar as arbitrariedades e os abusos de poder cometidos pelo STF, que age muitas vezes como defensor dos interesses da burguesia e como elemento de repressão contra movimentos populares, parte da esquerda acaba se colocando como sua aliada, reforçando seu poder. Quando o STF age para criminalizar lideranças de movimentos sociais, para perseguir políticos ou para interferir em processos eleitorais, ele não está defendendo a democracia; está atuando como braço do regime burguês, garantindo que qualquer ameaça real ao sistema seja neutralizada.

Ao adotar uma postura de defesa incondicional do STF, a esquerda acaba se anulando e se torna cúmplice de um sistema de dominação que sustenta o grande capital. Esse apoio desmoraliza a esquerda, pois a coloca na posição de defensora de uma instituição que reprime a própria base social que deveria representar. Além disso, essa política abre espaço para que a extrema direita capitalize o descontentamento popular, apresentando-se como a única força disposta a enfrentar o STF. A esquerda, ao invés de se opor ao autoritarismo do Supremo, acaba se alinhando a ele, deixando um vácuo que a extrema direita preenche com demagogia.

Outro exemplo concreto é o comportamento da esquerda nas eleições municipais de 2024. Em vez de se posicionar como oposição ao centro e denunciar o histórico de crimes de partidos como PSDB, MDB e União Brasil, que apoiaram e foram parte do golpe de 2016 contra Dilma Rousseff, setores da esquerda optaram por se aliar a esses partidos. Ao fazer alianças com esses inimigos históricos, a esquerda não apenas fortalece o centro político, mas também perde a oportunidade de se apresentar como uma alternativa verdadeira e combativa.

A esquerda deveria, em vez disso, ter exposto a cumplicidade desses partidos com as políticas neoliberais que destroem os direitos trabalhistas, educação e a saúde pública. Ao se alinhar com esses partidos, que representam os interesses da burguesia e do imperialismo, a esquerda passa a mensagem de que não possui uma política própria.

Se a esquerda tivesse se dedicado a denunciar o papel do PSDB, do MDB e do União Brasil no golpe de 2016, na destruição dos direitos do povo e nos ataques à soberania popular, teria conquistado uma base de apoio muito mais sólida entre os trabalhadores e entre aqueles que se opõem ao regime. Essa política de enfrentamento teria enfraquecido o centro e tornado mais difícil para esses partidos manterem seu poder. Ao adotar uma política de conciliação, no entanto, a esquerda se torna cúmplice do sistema que deveria combater, afastando-se da luta de classes e deixando o caminho aberto para o fortalecimento da direita e da extrema direita.

O verdadeiro papel da esquerda não é garantir a sobrevivência do centro, mas sim desafiar o regime político que ele representa. O centro político, tal como o conhecemos, não é neutro ou moderado. Ele representa os interesses da burguesia, o mesmo que se manifesta em figuras como Gilberto Kassab, Valdemar Costa Neto e no próprio PSD, que oscila entre alianças com o governo e com a extrema direita, dependendo das conveniências. O centro é, portanto, uma expressão da burguesia e uma ferramenta do imperialismo. Colocar-se a serviço desse centro, como Mendes sugere, é abdicar da luta de classes e abandonar a causa dos trabalhadores.

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