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Brasil

O oportunismo como ‘identidade’ do PT

Articulista cria dilema entre o "pragmatismo" e a "raiz ideológica" do partido, ignorando que legenda já abriu mão de qualquer programa

Em artigo publicado no Brasil 247, Aquiles Lins aborda o suposto “dilema” do PT, dividido entre o “pragmatismo” e a identidade, sugerindo que o partido, após o desempenho desastroso nas eleições municipais de 2024, se encontra dividido em duas correntes: “uma defende um movimento mais pragmático, aproximando o partido do centro político, enquanto a outra sugere um retorno às suas raízes ideológicas, com ênfase na defesa de pautas à esquerda”. Essa análise, no entanto, ignora o verdadeiro problema que está corroendo o PT por dentro, que é a adaptação feita pela direção do partido ao que há de mais retrógrado na política nacional, o abandono da luta pela transformação social e a aceitação da ditadura do imperialismo.

Quando Lins fala em “pragmatismo”, ele está, na realidade, usando um eufemismo para o oportunismo mais rasteiro possível. O PT, sob essa ótica, está disposto a vender sua alma em troca de um punhado de votos ou de cargos menores, enquanto se afasta cada vez mais de sua base histórica, a classe trabalhadora.

O que Lins não menciona é que o “pragmatismo” é, em sua essência, uma forma de mascarar o abandono de princípios. A defesa da submissão à política da direita revela a verdadeira natureza do dilema: o PT já não tem mais identidade porque se adaptou ao regime vigente.

Ao apregoar o que chama de “pragmatismo”, o que Lins está defendendo é um deslocamento mais acentuado à direita, a troco de qualquer miudeza sem nenhuma relevância para o partido e para os representados. Diz o autor:

“Há uma parte expressiva do eleitorado que vê nas pautas à esquerda uma forma de resistência aos retrocessos sociais e à manutenção de direitos. Ignorar essas demandas pode resultar na fragmentação da própria base do PT, que, sentindo-se desamparada, poderia migrar para outras legendas ideologicamente mais comprometidas com as bandeiras progressistas”.

Ocorre que esse oportunismo não busca resolver os problemas da população, mas sim manter o partido confortável dentro do jogo institucional, sem desafiar o regime que oprime o povo brasileiro. A crise do PT não é um “dilema” entre pragmatismo e ideologia, como indica Lins. É o resultado de anos de adaptação ao regime neoliberal, sob o comando de uma direção pequeno-burguesa que, em vez de enfrentar os grandes monopólios e o imperialismo, prefere flertar com a direita, como se o centro político fosse um terreno fértil para a luta de classes.

Aqueles que defendem o retorno às raízes, como José Genoino, estão corretos ao apontar que o PT perdeu sua conexão com as massas populares. Contudo, o problema é muito mais profundo: o partido não apenas perdeu essa conexão, mas se tornou parte do sistema que deveria combater.

Lins tenta equilibrar seu texto ao afirmar que “há uma demanda crescente por resultados concretos que impactem a vida dos brasileiros”. A implicação é que o pragmatismo seria uma resposta a essa demanda. No entanto, o que ele falha em mencionar é que esses resultados concretos só podem ser alcançados com uma política de ruptura. Lins ignora o fato de que foi justamente o oportunismo que desmoralizou o partido e o levou à sua atual situação de crise.

A verdade é que não há “pragmatismo” que consiga equilibrar interesses de classes tão opostos. Um partido que tenta agradar tanto aos grandes empresários quanto aos trabalhadores trai, inevitavelmente, os últimos.

Ao sugerir que o PT pode “expandir o alcance” ao adotar uma postura menos ideológica, Lins está apenas reforçando a ideia de que o partido deve aprofundar sua guinada à direita e, com isso, converter-se em um instrumento de manutenção da ordem vigente. Esse tipo de pragmatismo é o que permite que figuras como Edinho Silva e João Paulo Cunha sejam alçadas a posições de destaque no partido.

A direção petista, cada vez mais direitista, já adotou uma política neoliberal, como fica evidente com a escolha de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda. Não se trata de um “equilíbrio”, mas de uma completa subordinação aos interesses do mercado, sob o signo do “pragmatismo”.

A falta de identidade que Lins menciona é, na verdade, o resultado inevitável de anos de adaptação às políticas neoliberais. A chamada “raiz ideológica” do partido já foi arrancada há tempos, e agora o que resta é um partido que faz qualquer negócio para garantir sua sobrevivência eleitoral, mesmo que isso signifique entregar a cabeça de um líder da estatura de Luiz Inácio Lula da Silva para ser preso em um processo farsesco.

Lins tenta sugerir que o PT pode adotar um pragmatismo moderado sem abdicar de sua essência, mas isso é impossível. Não há como conciliar a defesa dos trabalhadores com a submissão aos interesses do imperialismo, que tenta reduzir a classe operária a pó.

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