Muitos setores da esquerda mundial estão infiltrados ou capitularam diante do sinônimo. Mas talvez, fora de “Israel”, a organização mais sionista seja o SWP dos EUA. O seu jornal The Militant publica artigos que não parecem nem serem de esquerda tamanha é sua defesa de “Israel”. Um deles foi publicado ainda em abril, em meio a uma mobilização gigantesca de estudantes no país. O título é A luta contra o ódio aos judeus e os pogroms na era imperialista. Ele está divido em diversas partes que vale a pena serem debatidas, porém, neste artigo, será debatido apenas a questão do Hamas.
Ele começa: “o Hamas, fundado em 1987, tem suas raízes tanto nas classes dominantes e monarquias do mundo árabe das décadas de 1920 e 1930, quanto nas correntes e partidos nacionalistas burgueses anti-operários por toda a região desde então”.
Falar que o Hamas tem raízes nas monarquias é falso. É como falar que o movimento operário inglês tem raízes na monarquia porque em seu princípio surgiu sem ser republicano. Já a questão do nacionalismo é mais tradicional, é a campanha imperialista contra os grupos nacionalistas. Para dar um tom esquerdista, chamam de “anti-operário”.
O texto então desenvolve: “essas classes dominantes se opuseram aos desenvolvimentos revolucionários entre os trabalhadores na Palestina e em outras partes do Oriente Médio, desenvolvimentos que foram inspirados pelo exemplo da Revolução Russa e foram bem-vindos pela liderança bolchevique. Partidos comunistas, que inicialmente reuniram trabalhadores revolucionários de origem judaica, árabe e outras nacionalidades, foram formados na Palestina, Egito e em outras partes do Oriente Médio”.
As classes dominantes sempre se opõem à revolução, a questão é qual é a relação disso com o Hamas. O partido palestino tem como base a burguesia ou tem como base os refugiados palestinos? São os refugiados que compõem a principal base do partido e por isso ele é revolucionário.
Na questão histórica, ele critica os nacionalistas islâmicos: “nas décadas de 1930 e 1940, a Irmandade Muçulmana, com base no Egito, e correntes reacionárias relacionadas estabeleceram relações diretas com fascistas na Itália e especialmente com o partido nazista de Adolf Hitler na Alemanha”.
Essa é uma crítica antiga e falsa. O Egito lutava contra a Inglaterra, ou seja, os interesses de se ligar à Alemanha não eram ideológicos, mas práticos. Eram os inimigos dos colonizadores. Isso aconteceu no mundo inteiro, inclusive com Gandhi na Índia. O imperialismo britânico para as colônias não era nada diferente do nazismo.
O artigo então ataca todo o Eixo da Resistência: “Teerã [Irã], Hesbolá, Hamas e seus apoiadores proclamam ao mundo seu compromisso com mais pogroms. Sua bandeira é o ódio aos judeus: outro Holocausto, completando a ‘Solução Final’ inacabada. Eles rejeitam qualquer ‘solução’ que não seja a eliminação física dos judeus, não apenas no Oriente Médio, mas em todo o mundo. Sete milhões dos 15,7 milhões de judeus do mundo hoje vivem em Israel, e um número semelhante nos Estados Unidos, com números menores, mas significativos, em outros países”.
Aqui, o jornal simplesmente repete a propaganda sionista. Não é verdade que o Eixo da Resistência quer o extermínio dos judeus. O Irã é o país do Oriente Médio com mais judeus sem contar “Israel”. Os judeus viveram por séculos na região sem grandes problemas, isso surgiu apenas com o sionismo. O sionismo faz a propaganda de que os muçulmanos são nazistas, mas esse fenômeno do antissemitismo é europeu, é totalmente alheio ao Oriente Médio.
A crítica ao Irã continua: “o ódio aos judeus é a bandeira sob a qual o regime burguês-clerical no Irã justifica sua expansão — muitas vezes realizada por grupos terroristas que Teerã arma e financia em países vizinhos — para estender a dominação militar e econômica contrarrevolucionária do regime por todo o Oriente Médio. O objetivo declarado de Teerã de se livrar dos judeus e eliminar Israel é ainda mais perigoso para os trabalhadores em todos os lugares devido ao seu curso acelerado em direção ao desenvolvimento e implantação de um arsenal nuclear estratégico”.
Novamente, o Irã é o país com mais judeus no Oriente Médio depois de “Israel”. O problema é o sionismo. Um grupo norte-americano de esquerda deveria ter uma compreensão clara de contra quem os povos do Oriente Médio lutam. O fato deles acreditarem que é um ódio aos judeus e não uma luta contra o imperialismo significa que o SWP está totalmente dominado pelo imperialismo. O Irã é vítima do país deles e eles focam mais em atacar o Irã do que o seu governo. São uma linha auxiliar de Biden.
O artigo chega no ápice do sionismo ao se posicionar contra o cessar-fogo: “o maior perigo para os judeus e todos os oprimidos na região e no mundo é o apelo por um cessar-fogo antes que o Hamas seja derrotado e suas estruturas de liderança e comando demolidas. Longe de ser uma resposta ‘pacifista’ à guerra, a clamorosa propaganda internacional por um cessar-fogo foi planejada pelo Hamas e seus aliados anos antes de 7 de outubro de 2023. É uma campanha do Hamas”.
Ou seja, o The Militant, tem a mesma posição do Netaniahu. Para eles, o Hamas controla o mundo e não os sionistas. É impressionante que um grupo de esquerda tenha esse nível de posição, o artigo parece ter sido escrito pelo próprio Mossad.
Para concluir: “o governo do Partido Democrata de Joseph Biden — confirmando mais uma vez os fundamentos anti-operários do governo imperialista dos EUA — está exercendo seu peso contra o direito de Israel de se defender como um refúgio para os judeus, exigindo que declare um cessar-fogo antes que as estruturas de comando do Hamas sejam destruídas”. Eles acreditam que Biden está contra “Israel”!
Obviamente com a tese absurda de que o Hamsa é a organização que domina o mundo, “Israel”, então, tem que ser a vítima. Ou seja, eles não tiraram a conclusão que todo o povo dos EUA tirou, que Joe Biden é um genocida. Estão à direita do próprio Joe Genocida.