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HISTÓRIA DA PALESTINA

O massacre de Sabra e Shatila por uma testemunha brasileira

Jornalista ítalo-brasileiro chegou a contar quantos passos separavam os campos de refugiados do comando israelense, desmascarando a mentira de que "Israel" não sabia

O massacre nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, localizados na zona Oeste de Beirute, capital do Líbano, destino dos refugiados palestinos após a expulsão da Jordânia, completou 42 anos no último dia 16, tendo se estendido até o dia 18, consistindo em um dos mais bárbaros crimes cometidos pela ditadura sionista contra o povo martirizado, que hoje conquista vitórias importantes e históricas na luta contra o sionismo. Em 1982, porém, sem a Internet e as redes sociais, o trabalho da censura sionista para impedir que o mundo soubesse o que faziam com os palestinos era imensuravelmente mais simples, o que tornava o trabalho dos correspondentes internacionais ainda mais desafiador.

Um jornalista italiano naturalizado brasileiro seria fundamental para que furar a censura e fazer com que o mundo soubesse o que “Israel” e a extrema direita libanesa (os falangistas, inspirados no nazismo e no fascismo espanhol) faziam. Repórter da revista Veja, Alessandro Porro conseguiu provar a conivência do Exército de “Israel” com o massacre, conforme narra Ali Kamel, coordenador do Conselho Editorial do Grupo Globo, em 2003 (por ocasião do falecimento de Porro), no artigo intitulado Balada para um repórter:

“Alessandro teve a idéia de contar quantos (poucos) passos existiam entre o comando do exército israelense e os acampamentos palestinos, provando, assim tão simplesmente, que era impossível a desculpa de que o exército de Israel não tinha percebido o massacre.”

Em artigo publicado em 17/9/2021, o sítio oficial da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) reproduziu a matéria A voz de Sabra e Chatila, que reproduzimos abaixo, de autoria de Porro e que traz um relato digno dos piores cenários de filmes de horror. “Mulheres metralhadas com a panela na mão”, escreveu Porro, “enquanto cozinhavam, homens abatidos quando tentavam enfiar roupas em malas, sofregamente, e velhos mortos embaixo de mesas e cadeiras, como animais”, informou, acrescentando ainda que “em várias casas que pareciam ter sido poupadas pelos matadores, as pilhas de corpos foram encontradas no último cômodo, refúgio inútil de famílias inteiras abraçadas de medo”.

O relato chocante é acrescido por informe dos “pescoços cortados, ventres rasgados, costas perfuradas de balas” e também da lembrança de que “as vítimas, entre homens, mulheres, crianças e velhos palestinos, estavam desarmadas”. “Nessa batalha, só um lado atirou”, conclui Porro. Os palestinos estavam completamente indefesos.

Pouco menos de um mês antes, a resistência palestina liderada então pela Organização para Libertação da Palestina (OLP) aceitara abandonar o Líbano e refugiar-se na Tunísia, no norte da África. Ainda assim, entre 15 e 20 mil refugiados permaneceram nos campos de Sabra e Chatila, que foram ainda alvos de 267 bombardeios no período que antecedeu o massacre.

“Subitamente, porém, às 11 da manhã de quinta-feira, dia 16, os disparos de artilharia silenciaram”, informa Porro. “Para os palestinos, a entrada iminente de tropas israelenses em busca de terroristas parecia o desfecho natural da intimidação”, o que logo mostrou-se um erro com consequências macabras para o sofrido povo árabe.

Abaixo, Diário Causa Operária reproduz a reportagem produzida pelo jornalista à revista Veja e publicada no sítio da FEPAL:

 

A voz de Sabra e Chatila

O massacre de palestinos ocorrido em Beirute isola o governo Begin no mundo e atira Israel numa dolorosa encruzilhada histórica

 

Durante pelo menos 36 horas de setembro de 1982, um massacre metódico, lento e definitivo varreu os campos palestinos de Sabra e Chatila, no Líbano. O assalto foi tão inesperado que houve mulheres metralhadas com a panela na mão, enquanto cozinhavam, homens abatidos quando tentavam enfiar roupas em malas, sofregamente, e velhos mortos embaixo de mesas e cadeiras, como animais. Em várias casas que pareciam ter sido poupadas pelos matadores, as pilhas de corpos foram encontradas no último cômodo, refúgio inútil de famílias inteiras abraçadas de medo. Ao término da chacina, havia um catálogo completo de selvageria: pescoços cortados, ventres rasgados, costas perfuradas de balas. As vítimas, entre homens, mulheres, crianças e velhos palestinos, estavam desarmadas. Nessa batalha, só um lado atirou. Segundo a Cruz Vermelha Internacional, 317 corpos haviam sido retirados de escombros até a manhã de sábado passado. Segundo o procurador-geral do Líbano, os cadáveres eram 597 e faltava encontrar outras 2.000 pessoas.

Os assassinos ainda não têm identidade certa – podem ser membros da Falange cristã do presidente assassinado Bachir Gemayel, armada por Israel há vários anos, ou do exército irregular do major Saad Haddad, criado e transformado em cliente também pelos sucessivos governos de Israel. Pouco importa. A razão pela qual Beirute, na semana passada, se tomou o epicentro de um terremoto moral que abalou os alicerces da democracia ocidental é porque o Estado de Israel revelou estar de alguma forma associado ao massacre.

Quanto mais cadáveres eram desenterrados em Sabra e Chatila, maior se tornava o assombro mundial com essa conexão sem precedentes. “A menos que Israel decida rapidamente retirar suas tropas de Beirute, se verá cada vez mais comprometido com problemas que não são seus”, advertiu sombriamente o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, em discurso à nação, ao anunciar que enviaria 1.800 marines de volta à região.

ÉTICA MILITAR – Em quase todas as chancelarias ocidentais, inclusive no Brasil, produziram-se notas contundentes de perplexidade e horror com as imagens do massacre desenterradas tardiamente pela imprensa. Nas entrelinhas de todas elas, contudo, residiam o espanto e o alarma diante da responsabilidade parcial de Israel. Por decisão do governo do primeiro-ministro Menahem Begin, o lendário Exército do país, o Tsahal, aliou-se às milícias cristãs para combater um inimigo comum: o terrorista palestino.

Para caçar até o último homem da OLP e afastá-lo definitivamente de suas fronteiras, o ministro da Defesa de Israel, general Ariel Sharon, já havia lançado suas tropas na destruição de Beirute, meses atrás. Agora, ele as mobilizara para vigiar uma expedição punitiva aos campos de refugiados, repleta de riscos, uma vez que os executores da operação não agem de acordo com qualquer compromisso da ética militar.

Mais grave ainda, quando de fato as milícias cristãs se desviaram do objetivo original e passaram a desencadear uma matança generalizada de refugiados, o comando militar de Israel nada fez para interromper à força o massacre. Ao que se sabe, o chefe do Estado-Maior israelense, general Rafael Eitan, foi até Beirute na sexta-feira, dia 17, para ordenar aos milicianos que abandonassem os campos. Eles só o fizeram no dia seguinte, muitas mortes depois.

“As mãos de nossos soldados estão limpas”, garantiu Sharon na semana passada, “e eles mantêm a pureza de suas armas.” A grande maioria dos cidadãos israelenses, contudo, sentiu que havia sido golpeada e que cabia a ela, agora, a tarefa de honrar os seus compromissos com as democracias ocidentais. Como nos dias de luto, os manifestantes que encheram as ruas do país passaram a entoar o hino nacional em cadência de pesar.

SILÊNCIO DA ARTILHARIA – A palavra “campo”, normalmente, lembra um espaço fechado com portões vigiados, onde as pessoas moram em tendas, mas os dezoito campos de refugiados palestinos do Líbano, sobretudo os de Sabra e Chatila, nada têm a ver com o modelo clássico. Nascidos quase 35 anos atrás, em volta de duas antigas praças da capital libanesa, incharam a tal ponto que se tornou difícil estabelecer onde começa um e termina o outro. Ocupando uma área duas vezes maior do que a do bairro de Copacabana, no Rio, Sabra (que em árabe significa “paciência”) e Chatila (“planta”) não tinham apenas tendas e barracões de madeira: suas ruelas também abrigavam construções de alvenaria, edifícios de dois andares, escolas, hospitais, mesquitas, campos esportivos e quartéis com bunkers construídos nas entranhas do bairro pelos engenheiros da OLP. Calcula-se que não mais de 15.000 a 20.000 pessoas continuavam morando lá após os 267 bombardeios computados pelo Ministério da Defesa de Ariel Sharon só nos primeiros dias de agosto. Eram, em sua imensa maioria, mulheres, velhos e crianças.

Apesar do êxodo da OLP, os habitantes de Sabra e Chatila estavam com maus pressentimentos desde o início da semana da chacina. De segunda a quinta-feira, a artilharia israelense desencadeou uma singular chuva de bombas sobre os dois campos: com precisão certeira, acertava espaços claros e prédios desocupados mas fazia poucas vítimas, obrigando todos a permanecerem nos refúgios. Foi justamente numa dessas ocasiões que as unidades de milícias cristãs responsáveis pela execução do massacre se aproximaram dos campos, vindas do sul. Subitamente, porém, às 11 da manhã de quinta-feira, dia 16, os disparos de artilharia silenciaram. Para os palestinos, a entrada iminente de tropas israelenses em busca de terroristas parecia o desfecho natural da intimidação.

FICHAS E DADOS – “A ordem, nos dois campos, era de não resistir”, disse a VEJA, no Hospital Akka, um dos responsáveis do escritório político da OLP, Ibrahim Rozek, que tinha sido autorizado a permanecer em Beirute para proteger os interesses dos palestinos dos campos. “Após os bombardeios de agosto e a evacuação dos combatentes; era impensável e suicida engajar-se numa operação militar”, explicou. Rozek estava em Chatila quando começou o massacre mas conseguiu fugir com vida, embora tenha perdido uma perna.

Ao que tudo indica, tanto o comando israelense que elaborou, autorizou e ajudou a expedição punitiva quanto os milicianos cristãos que executaram o massacre estavam preparados para enfrentar uma resistência armada nos campos, baseados na informação dos serviços secretos de que cerca de 2.000 terroristas permaneciam entrincheirados em Beirute ocidental. A própria metodologia da operação reforça essa tese. “Não foi uma operação indiscriminada, basta ver que de cada rua nem todas as casas foram atacadas -, argumenta uma moradora de Sabra, Leilah K., 25 anos, estudante do último ano de Química. Leilah perdeu seus dois irmãos no massacre, já havia perdido os pais no bombardeio do dia 9 de agosto e se encontrava na casa de parentes em Trípoli, ao norte do Líbano, quando ocorreu a matança. “As regiões periféricas, onde havia menos probabilidade de encontrar remanescentes da OLP ou os esconderijos da organização, foram praticamente ignorados”, observou Leilah. Além de armas, os assassinos teriam fichas bem preenchidas, com todos os dados sobre cada casa invadida. “Minha impressão, após uma rápida investigação junto a amigos e sobreviventes, é de que eles sabiam muito bem o que estavam procurando e por isso a matança, metódica, durou 36 horas”, conclui ela.

VOLTA A CASA – Só que o inimigo esperado não estava lá. No lugar dos 2.000 combatentes, havia suas famílias e amigos. Ao invés da esperada resistência armada, havia uma população de mãos vazias. Às 5h20 da tarde da fatídica quinta-feira, 16 de setembro, numa casa de alvenaria do campo de Chatila, na Rua Haifa, situada a menos de 60 metros do asfalto da Avenida Camille Chamoun, e a menos de 200 metros do edifício da antiga Embaixada do Kuwait, onde tropas de assalto haviam montado seu QG, a família de Takieddine Yafi estava reunida em volta da mesa, para celebrar, com um jantar à base de sopa de favas e carne de carneiro, um grande acontecimento: a volta ao campo de refugiados do jovem Walid, 23 anos, um dos seis filhos do marceneiro Yafi, que havia partido para Damasco com seus companheiros palestinos, de uniforme de combatente, metralhadora na mão. Jantava-se cedo em Sabra e Chatila, uma vez que os bombardeios israelenses haviam acabado com a eletricidade. A noiva de Walid, de 20 anos, tinha ajudado a futura sogra a preparar uma mesa especial. A porta da casa estava aberta, para que entrasse mais ar e luz.

Da cabeceira da mesa, com os homens enfileirados de um lado e as mulheres e crianças do outro, Walid, o homenageado, podia ver a ruela de terra batida e uma fresta de céu azul. Em novembro, ele planejava casar-se, “ajeitar as coisas e tentar uma vida nova, talvez no Canadá”, pois freqüentara com sucesso os primeiros dois anos de Física na Universidade Americana de Beirute, como bolsista, antes de se tomar um terrorista e militante do Al Fatah, a maior entre as organizações que compõem a OLP.

O caso de Walid é uma amostra do caráter desastroso do massacre, mesmo sob o ponto de vista militar. Walid, há um mês, era precisamente o que falangistas e israelenses classificam de “terrorista palestino”. No momento em que o massacre chegou ao seu jantar, ele era, sob qualquer aspecto, o que as leis internacionais classificam de civil desarmado. A família Yafi podia ser considerada uma exceção em Chatila: era uma das poucas que não fora obrigada a vestir luto. Entre os 6 775 mortos provocados pelos bombardeios israelenses computados pelo escritório das Nações Unidas na capital libanesa, entre 6 de junho e 12 de agosto, com uma percentagem de 84% de civis, não havia nenhum membro da família.

SACO DE LIXO – “No exato momento em que meu pai fez o gesto de molhar um pedaço de pita (o pão árabe) na sopa de favas, alguém passou correndo diante da porta e jogou uma pedra. Era uma granada. A partir daquele momento, tudo começou”, contou ele a Alessandro Porro, de VEJA. Walid Yafi, que na manhã da quarta-feira passada estava sem os dois braços, cego de um olho, num subsolo de Chatila transformado em enfermaria pelos voluntários de uma organização francesa, Hôpital sans Frontières, falava com voz baixa: “Virei lixo, mas ainda posso falar. Já é alguma coisa”.

Segundo os médicos do centro subterrâneo – na verdade um ex-bunker militar transformado às pressas em hospital -, a história de Walid não é das mais amargas. Ele foi encontrado milagrosamente com vida, 37 horas depois, sob os escombros da casa, por uma equipe da Cruz Vermelha libanesa. “Nossa organização”, conta Jean-Marie Jabre, de 37 anos e pais libaneses, que deixou seu consultório no interior da França em junho passado, “recuperou-o junto com outros trinta sobreviventes, mas somente quatro ainda estão com vida. Walid, que era o ferido mais grave, está fora de perigo.”

Segundo o relato de Walid, ele não perdeu a consciência quando a granada explodiu, “mas tudo me pareceu confuso”. Seu pai, sua mãe e dois de seus irmãos foram os mais atingidos, e estão mortos. Suas quatro irmãs, entre 7 e 12 anos, conseguiram levantar-se e estavam gritando quando entraram quatro homens. Eles estavam armados. “Falavam árabe mas não sei se eram falangistas ou do Exército Livre de Hadad. Não sei e não me interessa. Só sei que eles fizeram coisas que homens não fazem, já que homens não esquartejam mortos, não abrem a barriga da minha Leilah com um corte rápido, de baixo para cima, e não jogam minha irmã menor, magra e leve, contra a parede do outro lado da rua. Pelo que eu podia ouvir, isso estava acontecendo no campo todo – as explosões, a gritaria, o choro -, e eu pensava: ‘Agora vai ser minha vez’. Mas eu devia parecer um saco de lixo – eles nem me olharam.”

ASSALTO SINCRONIZADO – Segundo o testemunho de um major do Exército libanês, confirmado pelo guardião da antiga Embaixada do Kuwait, uma unidade israelense com três tanques Merkava e pelo menos cinco blindados estava aquartelada a menos de 200 metros daquelas primeiras casas do setor sul de Chatila. Porro, de VEJA, percorreu com 183 passos a distância entre o monte de escombros que já foi uma casa e o ponto indicado pelo major libanês. Embora o ministro Ariel Sharon tenha afirmado que nem ele nem ninguém teria podido imaginar o que se passava nos campos de refugiados, o enviado de VEJA constatou que pelo menos naquele local não se tratou de um problema de imaginação, e sim de vista e ouvido: do ponto onde estavam as Forças Armadas israelenses, podia-se ouvir, embora imperfeitamente, o som de um rádio funcionando a todo volume em frente aos escombros da família Yafi. As granadas, gritos, demolições e fuzilaria do massacre certamente foram mais ruidosos.

Ao que se pôde apurar até o final da semana, o assalto foi sincronizado nos dois campos. Não mais de 250 milicianos cristãos vestindo uniformes sem insígnias e divididos em grupos de cinco realizaram o trabalho todo. As primeiras unidades jogavam granadas através de portas ou janelas; as levas seguintes entravam logo após a explosão para completar a matança individual. Enquanto o campo de Chatila, aberto e sem portões, foi invadido diretamente pelos milicianos, o de Sabra teve primeiro o seu alto muro de pedra bombardeado em vários pontos. Por volta das 19h30 da mesma quinta-feira, foguetes de sinalização lançados por morteiros de 81 milímetros, e holofotes de aviões israelenses que voavam em círculos a baixa altitude, iluminaram os céus de Sabra e Chatila para permitir o prosseguimento da operação noite adentro. Muros de casas foram transformados em paredões de fuzilamento.

LEI DA SOBREVIVÊNCIA – ÀS 11 horas da noite, quando seis potentes motoniveladoras amarelas já haviam tomado posição nos dois campos para o trabalho de destruição do dia seguinte, o comandante das Forças Libanesas (o maior grupo armado da Falange de Geinayel) enviou um relatório ao comandante militar das tropas israelenses no norte do Líbano, general Amir Drori, indicando que, “até agora, 200 terroristas e civis já foram mortos”. Dez minutos depois, a mensagem foi transmitida por telefone para o Estado-Maior em Telavive, comandado pelo general Rafael Eitan e pelo menos vinte oficiais israelenses. Ainda assim, a chacina prosseguiu seu curso normal por mais 30 horas, até a manhã de sábado.

Mas não foi apenas o silêncio do comando militar de Israel que permitiu chegar-se à solução final. Os fragmentos das histórias de horror que conseguiram chegar a ouvidos neutros, através dos que conseguiram fugir e falar, esbarraram numa terrível barreira de incredulidade e na incapacidade de entender. Embora as primeiras levas inexplicáveis de feridos e mutilados chegassem aos hospitais de Gaza e Akka, situados junto aos campos, já na noite de quinta, o corpo de médicos e enfermeiros só deu crédito aos relatos de que uma matança estava em curso quando os assassinos bateram às suas próprias portas, na sexta-feira. Por outro lado, a maioria de refugiados palestinos que conseguiu escapar fez apenas o que manda a lei de sobrevivência em um país aterrorizado: escondeu-se entre as ruínas e escombros da cidade, ou perambulou de um lugar para outro até passar mais esse perigo.

SEM PRISIONEIROS – Ainda assim, na sexta-feira, algumas migalhas chegaram aos ouvidos de alguns jornalistas de Beirute, e os mais curiosos foram ver do que se tratava. A essa altura, os muros de várias casas já haviam servido de paredão de fuzilamento, as motoniveladoras demoliam sistematicamente as casas cujos moradores haviam sido massacrados, fazendo com que os escombros cobrissem os cadáveres, e o massacre prosseguia. Mas, quando o repórter James Pringle, da revista Newsweek, tentou entrar no campo de Sabra, foi barrado por tropas israelenses e membros do exército do major Haddad. Seu colega Roberto Suro, da revista Time, também barrado, notou na ocasião a intensidade de tiros disparados em uma só direção, sem retorno. Na manhã seguinte, obteve a explicação: “Somos melhores nesse tipo de operação do que os israelenses”, disse-lhe um oficial das Forças Libanesas de Gemayel. “Não há prisioneiros.”

Apenas uma equipe de televisão dinamarquesa, chefiada por Flint Pederson, conseguiu documentar o que provavelmente foi uma cena do metabolismo do massacre. À 1 hora da tarde, com sua máquina escondida, Pederson começou a filmar dois milicianos que impediam a fuga de cerca de vinte mulheres e crianças de Chatila. Em seguida, surge um velho caminhão azul e vermelho, no qual o grupo é colocado à força, aterrorizado, sem mais ter sido visto. Segundo o repórter, cujo filme está sendo distribuído em toda a Europa, o grupo teria sido levado para um campo onde vários corpos mutilados foram posteriormente encontrados.

“TUDO TRANQÜILO” – A essa altura, os respingos da matança já chegavam a vários outros gabinetes israelenses, sem que o resto do mundo sequer suspeitasse de que uma tragédia estava em curso numa das capitais mais escrutinizadas pela imprensa internacional. Na manhã de sexta-feira, revelou-se mais tarde, o mais respeitado correspondente militar do país, Zev Schiff, do jornal Haaretz, telefonou para seu amigo Mordechai Zippori, ministro dos Transportes, dizendo: “Soube que em Chatila e Sabra está havendo um banho de sangue”. Zippori, que já ocupou o cargo de vice-ministro da Defesa, tentou apurar a história com seus colegas do Ministério, Do chanceler Yitzhak Shamir, um dos mais sólidos bastiões da linha Begin, recebeu uma resposta curta e inequívoca: “Não sabemos de nada, está tudo tranqüilo”.

Na verdade, foi dentro das próprias fronteiras de Israel, pelas características democráticas do Estado, que brotou uma inflexível determinação de não se deixar uma só indagação em suspenso a respeito do real grau de responsabilidade ou omissão do governo. Logo que os acessos a Sabra e Chatila foram abertos no sábado, revelando ao sol do dia a brutal carnificina que ali fora praticada, começaram a ruir, uma a uma, as versões oficiais de que: 1) “Israel não permitiu a entrada dos falangistas nos campos”, como disse o primeiro-ministro Menahem Begin no domingo; 2) “Israel sabia da presença das milícias, para procurar terroristas, mas não dos massacres”, como afirmou o ministro sem pasta Yitzhak Modai na segunda-feira; 3) “Logo que soubemos do massacre o interrompemos”, como declarou o chanceler Yitzhak Shamir também na segunda-feira. Como um novelo de lã que se desenrola inexoravelmente, os fatos despontaram. Eles são amargos para o governo de Menahem Begin. Embora a determinação de entrar nos campos para cometer um mar de atrocidades tenha cabido exclusivamente aos comandos falangistas que as cometeram, o ônus de deixá-los entrar em Sabra e Chatila, e sobretudo de não tê-los retirado dali logo que o quadro da matança ficou claro, repousa sobre os ombros do primeiro-ministro.

Foram os próprios chefes do Mossad, sabidamente o melhor serviço de informações do mundo, que advertiram Begin e seu tempestuoso ministro da Defesa contra os perigos de massacre caso os falangistas fossem autorizados a entrar nos campos. Mas os avisos foram ignorados e na noite da quinta-feira a estação de rádio das Forças Armadas de Israel emitiu um comunicado captado pela BBC de Londres: “Decidiu-se encarregar a Falange da missão de executar as operações de expurgo em Sabra e Chatila hoje à noite”. Por sua vez, o comandante das tropas de Israel na região, general Amir Drori, teria decidido não enviar suas tropas tão logo soube da matança por temer que sua presença dentro dos campos as tomasse cúmplices dos falangistas. Ao que se sabe, o chefe do Estado-Maior, general Rafael Eitan, foi da mesma opinião. Talvez o pecado original de Menahem Begin e Ariel Sharon tenha sido de retórica. Por rotular diariamente todos os palestinos do Líbano de “terroristas”, eles conseguiram desumanizar a massa de refugiados, e adormecer a vigilância diante de um possível massacre.

CABEÇA ERGUIDA – Begin sempre acreditou em sua própria retórica e viveu de acordo com sua própria mitologia. Nesse sentido, a destruição de Beirute e a caça ao último terrorista palestino em Sabra e Chatila são apenas o final lógico de uma obsessão. Uma obsessão religiosa que Ariel Sharon encarnou com todas as armas, e que acabou levando ao povo judeu um fundo desalento. “Rosh Hashanah 5743 (o Ano-Novo que se comemorava no sábado, dia 18) tomou-se o Rosh Hashanah da vergonha… É a vergonha de todo cidadão individual, pois todos fomos feitos cúmplices do horrível massacre de Beirute”, escreveu em editorial o prestigioso Jerusalem Post. Do outro lado do Atlântico, as vozes da Diáspora não foram menos veementes. “Para que o horror de Israel à OLP continue a ter credibilidade moral, é necessário que Israel trate os responsáveis por essa atrocidade com a mesma repulsa”, conclamou Henry Siegman, diretor-executivo do poderoso American Jewish Congress.

Emergindo com força de seus alicerces democráticos, Israel atravessou de cabeça erguida essa que foi, nas palavras do ex-chanceler Abba Eban, “a semana mais dura para todos nós”. Recusando as facilidades de uma “união patriótica”, que em tantos outros países do Ocidente, como na França da guerra da Argélia, serviu essencialmente para acobertar crimes de guerra, os israelenses preferiram pensar em seu Estado e nos valores sobre o qual ele se assenta – a alinhar-se automaticamente com seu governo. No final da semana, 62% da população condenavam Menahem Begin por não ter autorizado imediatamente uma comissão de inquérito, e diziam querer saber “o que aconteceu”. A pesquisa tem valor duplo quando revela, também, que 58% dos interrogados apóia Begin, e votaria novamente nele “se resultar que ele não teve culpa”.

POLICIAL DE ALDEIA – Na prática, foi a arrogante teimosia inicial do primeiro-ministro em descartar qualquer responsabilidade “direta ou indireta” na chacina que indignou a opinião pública de seu país, e fez sair de sua carcaça protocolar o presidente da República, Yitzhak Navon. Sua voz adquiriu o timbre da razão e soou como consciência coletiva da nação (veja quadro à página 56). Mas Begin não se dobrou facilmente. Apesar de ter barricadas populares em volta de sua casa em Jerusalém e ver seu corpulento ministro da Defesa capitular diante das evidências, admitindo no Parlamento que Israel havia autorizado os falangistas a entrarem nos campos palestinos, Begin tentava manter sua linha de defesa. “Porque uma comissão de inquérito se não somos culpados?”, repetia ele.

No acalorado debate de quarta-feira, no entanto, o primeiro-ministro se mostrou ferido pela primeira vez. Ele espantou por sua falta de memória, suas pausas e erros de hebraico. Sharon, por sua vez, que sempre irrompe sem gravata no plenário, se apresentou de temo azul, suando e vermelho, para fazer a confissão do que todos já sabiam. “Mas de quem foi a idéia imbecil de enviar os falangistas aos campos de refugiados?”, teve de ouvir do líder da oposição trabalhista, Shimon Peres. Desde o começo da semana Peres vinha sustentando que não acusava o governo israelense de ter agido premeditadamente mas que, diante das proporções do que ocorreu, “qualquer governo decente teria renunciado”. Também teve eco instantâneo sua tese de que “não é preciso ser um gênio político ou um general condecorado, basta ser um policial de aldeia para compreender que aqueles milícias – no rastro do assassínio de seu líder Bachir Gemayel – estavam mais dispostas do que nunca a semear destruição, mesmo entre pessoas inocentes”.

MAIS FERIDOS – Ainda assim o timoneiro Begin conseguiu vencer duas batalhas nessa sessão parlamentar que parecia perdida: na primeira, rejeitou a idéia de qualquer comissão de inquérito por 48 votos a 42; na segunda, sua bancada derrotou por 47 votos a 40 uma proposta trabalhista de que fossem realizadas sessões parlamentares extraordinárias para tratar apenas da questão do massacre. Na verdade, se vários deputados da oposição não estivessem passando férias no exterior, o governo Begin teria caído nesse dia, uma vez que seu único voto a mais no plenário, naquele dia, já não existia mais desde a demissão do ministro da Energia Yitzhak Berman, 70 anos. Begin reagiu à sua maneira diante desse desfalque: “Israel não tem energia, não tem uma gota de petróleo e portanto pode ficar sem ministro que se ocupe do assunto”, declarou ele, tomando a pasta para si temporariamente.

Mas, a cada dia que passava, as feridas do governo aumentavam. Na manhã radiosa de quinta-feira, na cidadezinha de Rehovot, sede do famoso Instituto Weizman de Ciências Aplicadas, foi a inauguração de um monumento em homenagem aos pára-quedistas mortos nas guerras de Israel que serviu de estopim para mais um confronto. Após a chegada do presidente Navon, acolhido com uma tempestade de aplausos, a recepção esfriou e o chefe do Estado-Maior, Rafael Eitan, teve de atravessar um sombrio silêncio até alcançar o palanque. Ariel Sharon teve menos sorte, com centenas de pessoas tentando agredi-lo e chamando-o de “assassino”, “irresponsável”, “sanguinário”. Os manifestantes não eram estudantes radicais, nem membros do movimento Paz Agora, mas familiares dos pára-quedistas mortos, membros da organização Família dos Desaparecidos pela Pátria, cujo presidente, Avraham Yahel, é amigo íntimo de Begin. Yahel, que perdeu dois filhos na guerra, dirigiu-se altivamente a Sharon: “Eu quero continuar olhando nos olhos dos meus netos, sem ter de me envergonhar.” A resposta do ministro da Defesa, cabisbaixo, quase inaudível, foi captada pela televisão: “Eu não sou contra um inquérito, apenas acho inútil”.

PEDIDOS DE DEMISSÃO – Pela primeira vez desde que assumiu o poder em 1977, o irredutível Menahem Begin, vencedor de todos os combates políticos e militares nos quais se meteu, acordou na manhã seguinte diante da necessidade de recuar. Sua linha de defesa estava rompida e a pressão das tradições democráticas ocidentais de seu país foi mais forte. Convocando a terceira reunião extraordinária da semana, o primeiro-ministro anunciou a seu gabinete que o presidente do Supremo Tribunal, Yitzhak Kahan, de 69 anos, seria encarregado de conduzir uma investigação limitada sobre a matança nos campos de refugiados. Kahan poderia nomear um ou dois assessores de sua escolha, mas lhe seria vetado o direito de interrogar testemunhas que se recusassem a depor. Uma investigação semelhante, só que mais ampla e irrestrita, ordenada em 1973 para apurar as negligências do alto comando israelense na prevenção da Guerra do Yom Kippur, provocou a renúncia do chefe do Estado-Maior da época, general David Elazar, a transferência de quatro oficiais superiores, e contribuiu para isolar a longo prazo, o então ministro da Defesa Moshe Dayan.

É provável que a comissão de inquérito do juiz Kahan tenha menos sucesso, pois Sharon, Eitan e toda a cúpula do Exército e dos serviços de informações poderão simplesmente recusar-se a comparecer às audiências. Isso, se ela chegar a ser constituída – até o final da semana, Kahan ainda não havia aceito a missão, alegando que lhe faltavam os instrumentos legais para cumpri-la. Ainda assim, é uma brecha que se abre por iniciativa de um governo sitiado para apaziguar um país em guerra. Na mesa de Menahem Begin, já se acumulam pedidos de demissão de outros altos servidores do Estado: o diretor dos Serviços de Imprensa do governo, Ze’ev Chafetz, deixa seu cargo para “um curso de estudos no exterior”. O comandante da Escola Militar, general Aniram Mitzna, também abandonou o governo, seguido de outros três generais da ativa. O administrador civil dos territórios ocupados da Cisjordânia e Gaza, professor Menahem Milson, que jamais demonstrou apreço pelos palestinos e destituiu vários de seus prefeitos recentemente, foi para casa, declarando-se “perplexo e desorientado”.

PRESSA DE APURAR – No resto do mundo, a situação de Begin não é melhor. “Ele representa uma ameaça para a paz mundial”, decretou o velho senador americano Barry Goldwater, defensor de várias guerras no passado. Milhares de cartas também começaram a chegar à Comissão Nobel de Paz do Parlamento norueguês, exigindo a cassação do prêmio atribuído ao primeiro-ministro em 1978 junto com Anuar Sadat.

A isso, soma-se uma chuva de manifestos e abaixo-assinados. Duzentos cientistas do glorioso Instituto Wazman exigem um inquérito independente, oitenta diplomatas aposentados e 27 da ativa também. Há professores universitários de Haifa, médicos do prestigioso Hospital Hadassa, engenheiros do Instituto Politécnico. Há também 72 rabinos de Jerusalém afirmando que a lei divina manda indagar os crimes cometidos, e que nunca um inquérito representa uma mancha para quem não é culpado.

Paralelamente, mais de 100 dirigentes da Federação dos Kibbutzim cercam com seus tratores a fazenda de Ariel Sharon, perto de Aslibelon, numa simbólica manifestação de protesto que a polícia não poderá reprimir: os terrenos à volta da propriedade do ministro, uma das poucas fazendas particulares do país, são de um kibbutz, e, de acordo com as leis israelenses, a polícia não pode entrar num kibbutz se não for chamada. Na passeata-monstro programada para a noite de sábado em Telavive, quando 300.000 pessoas eram esperadas na Praça Malka Israel logo após o final do shabat, estavam previstos protestos de dimensão sem precedentes na História do país. É a democracia em marcha, num momento crucial de seu curso.

Ademais, há uma pressa suplementar em apurar logo as responsabilidades de cada um, antes que algum veredicto venha das fileiras falangistas que praticaram o massacre. Desde que o recém-empossado presidente do Líbano, Amir Gemayel, sucedeu a seu irmão assassinado, na última quinta-feira, uma comissão de inquérito libanesa está investigando o caso no local. Esta seria uma oportunidade de ouro para que toda a responsabilidade fosse hipocritamente jogada sobre o comando israelense. O novo presidente do Líbano, embora tido como mais flexível e moderado do que seu destemperado irmão, também é visto como mais cauteloso e fraco. Num país onde os clãs políticos ainda não acabaram de se eliminar mutuamente, Amin Gemayel inicia o mandato com essa prova de fogo.

Em Israel, contudo, o julgamento deverá estar à altura dos rigorosos critérios estabelecidos pelo próprio povo judeu. “Não pode haver dupla moralidade, advertiu a voz autorizada de Simon Wiesenthal, que dedicou a vida à apuração dos crimes de guerra praticados pelos nazistas contra os judeus e por isso sabe que qualquer analogia entre os dois massacres se origina na ignorância ou na má fé. De seu entulhado escritório em Viena, onde se amontoam fichas, livros, arquivos e fotografias do massacre de 6 milhões de judeus, Wiesenthal falou como judeu, não como caçador de nazistas: “É chegada a hora de os judeus saberem punir os seus próprios responsáveis”.

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