O portal Esquerda Online publicou uma curiosa matéria, intitulada Derrotar Éder Mauro, mas sem ilusão nos Barbalhos e assinada pela Coordenação da Resistência-PSOL, de Belém (PA), defendendo “voto crítico” em um candidato caracterizado pelo órgão como “centro-direita neoliberal”, a saber, Igor Normando (MDB), que disputa a prefeitura da capital paraense com o bolsonarista Éder Mauro (PL), apresentado pelo PSOL como um “neofascista radical”. Diz o artigo de Esquerda Online:
“Neste segundo turno entre a centro-direita neoliberal (Igor Normando) e o neofascismo radical (Éder Mauro), orientamos ‘nenhum voto em Éder Mauro’ e voto crítico em Igor Normando, tendo como principal critério político para essa definição a necessidade urgente de derrotar a extrema-direita neofascista, que representa o perigo maior de um governo negacionista, violento, autoritário e propagador de fake news.”
Ao contrapor o fascismo ao neoliberalismo, os dirigentes da corrente psolista deixam claro que não fazem a menor ideia do que é cada um desses fenômenos, mas baseado em sabe-se lá o que, põe-se a formular políticas que se forem seguidas, levarão a esquerda a uma derrota fragorosa. Isso porque o que a proposta do Esquerda Online, levada a termo, seria como chamar a esquerda a apoiar Pinochet contra Hitler a título de “enfrentar o mal menor”, o que é uma completa loucura. Finalmente, a distinção entre neoliberalismo e fascismo é meramente ilusória, sendo ambos mais parecidos com gêmeos univitelinos do que correntes políticas opostas uma a outra.
O neoliberalismo e o fascismo, como afirmado anteriormente, não são opostos, mas sim duas faces da mesma moeda. O imperialismo deu o primeiro passo na implementação de sua política econômica neoliberal na América Latina com o Chile. Em 1973, para garantir a imposição dessas políticas, foi necessário o uso da força para derrubar o governo de Salvador Allende e instalar no poder Augusto Pinochet, um dos ditadores mais sanguinários da história latino-americana. A ditadura militar chilena funcionou como um laboratório para o neoliberalismo, onde medidas severas foram aplicadas, resultando numa pilhagem desenfreada dos recursos do país, ampliando a desigualdade e a pobreza em larga escala.
O golpe no Chile demonstra que o neoliberalismo só pode se sustentar por meio de repressão violenta. Para implementar seu programa de rapina econômica, o imperialismo não hesitou em impulsionar o fascismo. O resultado foi uma ditadura que perseguiu, torturou e assassinou opositores, enquanto entregava o controle dos recursos chilenos ao capital internacional.
A repressão foi a base sobre a qual essa política econômica pode florescer. Esse exemplo é um retrato claro de como neoliberalismo e fascismo caminham lado a lado, servindo sempre aos interesses da burguesia imperialista. O golpe contra Allende não foi apenas um ataque local, mas sim uma imposição global da hegemonia neoliberal.
A posição adotada pelo PSOL em Belém, ao apoiar um neoliberal como “mal menor”, é resultado do medo e da confusão que dominam a esquerda pequeno-burguesa. A tática desesperada de apoiar um candidato do MDB, um partido tradicionalmente a serviço dos interesses mais reacionários da burguesia, revela a perda de capacidade de raciocinar com clareza, especialmente se considerarmos que em São Paulo, o mesmo PSOL enfrenta um candidato do MDB (Ricardo Nunes) apoiado pelo principal líder da extrema direita brasileira, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.
Em tempos mais favoráveis, essa mesma esquerda jamais defenderia o voto em um neoliberal, ou pelo menos, não abertamente. No entanto, sob a pressão do fascismo crescente, adota políticas que denunciam seu desespero e falta de estratégia. A política do “mal menor” torna-se uma saída conveniente, porém, ao custo de uma completa desmoralização.
Além disso, convocar um “voto crítico” em um neoliberal é uma armadilha. Uma vez que o candidato da direita conquiste a prefeitura, ele já terá atingido seu objetivo e o PSOL terá sido cúmplice disso. A burguesia não compartilha dos interesses populares, e apoiar qualquer um de seus representantes é, na realidade, capitulação.
O “voto crítico” só faz sentido quando há uma perspectiva real de influenciar o candidato eleito, o que não é o caso de Igor Normando. O PSOL deveria esclarecer quais interesses em comum tem com o MDB para justificar essa manobra. Falar em “oposição nas ruas” após votar em Normando não é nada além de uma demagogia esquerdista, completamente ineficaz na prática.
Em Belém, o correto seria recusar qualquer voto em políticos desvinculados dos interesses populares. O próprio Esquerda Online elenca razões pelas quais nenhum trabalhador, camponês ou estudante deveria apoiar Igor Normando. Portanto, é lógico que a esquerda deveria seguir essa linha de pensamento até o fim.
No entanto, o PSOL prefere adotar uma política de “mal menor”, que na prática não passa de uma capitulação ao neoliberalismo. A verdadeira luta da esquerda é se opor vigorosamente aos dois lados da disputa, organizando uma oposição popular contra esses políticos que exploram a classe trabalhadora.
A política do medo promovida pelo PSOL apenas fortalece o bolsonarismo que eles dizem combater. Ao empurrar os trabalhadores para os braços do neoliberalismo, essa estratégia derrotista desmoraliza a esquerda e impede que os trabalhadores enxerguem uma verdadeira alternativa.
No lugar de ceder ao desespero, a esquerda deve reafirmar sua independência de classe e rejeitar alianças com neoliberais, seja em Belém, São Paulo ou qualquer outro lugar do País. O único caminho para enfrentar o fascismo é fortalecer a organização independente dos trabalhadores, sem concessões à burguesia.