No vídeo Não existe whatsapp no México?, publicado em seu canal no YouTube, Jones Manoel, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), procura explicar o êxito do partido Morena no México. Em eleições realizadas no dia 2 de junho, Claudia Sheinbaum, afilhada política de Andrés Manuel López Obrador (AMLO), venceu com mais que o dobro dos votos da segunda colocada, em uma vitória considerada avassaladora. Seu partido, o Morena, também obteve maioria absoluta no parlamento.
Diante do resultado de Sheinbaum, Jones Manoel decidiu discutir a forma como a esquerda aborda o chamado “combate às fake news”. Deixando de lado toda a teoria acadêmica de Manoel sobre as tais “fake news”, o que chama particularmente a atenção é que, para ele, AMLO e Sheinbaum teriam derrotado a extrema direita porque teria enfrentado os seus adversários de uma maneira muito mais combativa que a esquerda brasileira.
Jones Manoel compara a vitória de Sheinbaum à vitória de figuras como Luis Arce, da Bolívia:
“Na Bolívia teve um golpe de estado, não teve? E eles conseguiram retomar o governo e derrotar o projeto golpista. Inclusive, os golpistas foram presos. O Arce é presidente do país. Tá com vários problemas agora porque o MAS, o Movimento ao Socialismo, se dividiu: o grupo do Evo Morales, o grupo do Arce. Enfim, mas assim, é isso. Ganharam a eleição, derrotaram o golpe de estado na Bolívia. Eu já falei. No Peru, o Pedro Castillo ganhou eleição contra a candidata preferencial da burguesia, a Keiko Fujimori. Deu m*no governo, foi um problema? Foi. Mas, assim, ganhou. Também não tem WhatsApp no Peru? Não? Não tem YouTube no Peru? Não? Não tem fake news no Peru? Não?”.
A ideia de que o MAS só voltou ao governo porque houve uma intensa mobilização é verdadeira. De fato, os operários e a população em geral enfrentaram duramente o regime golpista de Jeanine Añez. Não só houve grandes protestos, mas de fato enfrentamentos violentos, que contaram com um dos mais importantes setores da economia boliviana, que são os mineiros. No Peru, um país em que o regime político entrou em total falência, passando por vários presidentes em um curto espaço de tempo, a mobilização contra a extrema direita também teve um papel importante.
Mas e no México? Houve essa mobilização? Não, pelo contrário: os setores mais radicais da esquerda mexicana, que atuam como movimento guerrilheiro, sequer apoiam o Morena. Tanto não há de fato um enfrentamento de massas, como ocorreu na Bolívia, que Jones Manoel elogia as qualidades de “grande comunicador” de AMLO, que seria um dos políticos mais populares no YouTube.
A “análise” de Manoel, no final das contas, serve apenas para omitir que no México venceu um candidato supostamente esquerdista, sem que isso fosse resultado de um grande enfrentamento. Não passa de uma tese para tentar explicar o por que tal coisa teria acontecido em um momento no qual a tendência é justamente oposta: a de que a direita tome o poder em todos os países da América Latina, a não ser quando enfrenta um movimento de massas poderoso.
O que Manoel procura omitir, neste caso, é que Sheinbaum só foi eleita porque era conveniente para o imperialismo. O Morena é, em grande medida, uma continuidade do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o partido da burguesia mexicana, que governou o país por 71 anos. AMLO e Sheinbaum só venceram com tanta facilidade porque o imperialismo considera que poderia chegar a um acordo com eles nas questões fundamentais de sua política.
Ao sair em defesa do Morena, Jones Manoel mostra que, para ele, a contra-ofensiva do imperialismo na América Latina poderá ser enfrentada com meros discursos na Internet e com manobras eleitorais. Tanto é assim que o youtuber teve a capacidade de dizer que:
“Mesmo na Argentina, onde a extrema direita ganhou com Javier Milei, a vitória da extrema direita não foi avassaladora como foi no Brasil em 2018, por exemplo. O peronismo com Axel Kicillof ganhou o governo do estado da maior província, que é a província de Buenos Aires, que concentra 37% da população do país. Seria como perder a presidência, mas ganhar o governo do estado de São Paulo”.
Isto é, onde reconhecidamente vigora uma ditadura, Jones Manoel considera que a esquerda teve uma vitória. O integrante do PCBR mostra que, assim como os mais otimistas reformistas da esquerda brasileira, acredita que tudo será resolvido por meios pacíficos.