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HISTÓRIA DA PALESTINA

O homem que está preso há 22 anos pela ocupação sionista

Abu Hamza foi sentenciado a 48 penas de prisão perpétua, permanecendo separado de sua esposa e de seu filho, o qual nunca conheceu

Por Samidoun, tradução em parceria com o Diário Causa Operária (DCO)

Mohammed Attiya Abu Warda, Abu Hamza, de 48 anos, entrou, no dia 4 de novembro de 2024, em seu 22º ano nas prisões da ocupação. Lutador da resistência com as Brigadas Ezz el-Deen al-Qassam, ele foi capturado pelas forças de ocupação sionistas em 4 de novembro de 2002 — durante a Intifada de Al-Aqsa — e sentenciado a 48 prisões perpétuas. Isso faz dele a pessoa com a terceira sentença mais alta nas prisões sionistas, depois de Abdullah Barghouti e Ibrahim Hamed, e igual à de Hassan Salameh. Ele está entre os prisioneiros com penas longas cuja libertação é uma demanda central da resistência palestina em troca de prisioneiros.

Abu Warda nasceu em 17 de janeiro de 1976, sendo refugiado palestino no campo de refugiados de Al-Fawwar, em Dura, Al-Khalil, Palestina ocupada. Sua família é originalmente de ‘Iraq al-Manshiyya, forçada a deixar suas casas e terras durante a Nakba. Após frequentar a escola de Sharia em Al-Khalil, estudou física nas universidades de Belém e Al-Quds, em Abu Dis, antes de mudar para educação na Faculdade de Ciências Educacionais de Dar Al-Mu’allimin, em Ramala. Durante os estudos, trabalhou como operário da construção civil, dedicando muitas vezes seus ganhos para financiar atividades estudantis.

Seu primeiro envolvimento político foi com o movimento Fatá durante a grande Intifada popular, sendo preso pela ocupação em 1992 e servindo três meses em prisões sionistas, aos 15 anos, por jogar pedras e garrafas vazias nos soldados da ocupação estacionados no campo. Após sua libertação, uniu-se ao movimento Hamas e seu compromisso com a resistência armada aumentou, levando-o a integrar as Brigadas Al-Qassam. Ele participou do planejamento e organização de várias operações de martírio conduzidas pelo braço armado do Hamas após o assassinato de Iahia Aiash, o engenheiro da resistência, em 1996, pelos sionistas.

Como parte da “coordenação de segurança” da Autoridade Palestina (AP) com o regime sionista, foi inicialmente sequestrado pela “Força de Segurança Preventiva” da AP, criada para perseguir e reprimir a resistência palestina em prol do projeto sionista na Palestina ocupada. Foi condenado por um tribunal simulado da AP — semelhante ao utilizado contra Ahmad Sa’adat e seus camaradas — e sentenciado à prisão perpétua com trabalho forçado. Durante a Intifada de Al-Aqsa, em 2002, ele foi transferido para a prisão da AP em Al-Khalil, de onde conseguiu escapar, sendo recapturado meses depois, enquanto os sionistas invadiam a cidade com ataques militares massivos. Foi libertado e iniciou sua vida como fugitivo da ocupação.

Durante o tempo nas prisões da AP, casou-se com Noura Burhan al-Ja’bari, que conheceu enquanto estava fora da prisão, e tiveram o único filho, Hamza, enquanto ele era procurado pelas forças de ocupação. Viveram juntos apenas dois meses de casamento, sempre em sigilo e sem aparecer em público. Noura al-Ja’bari, professora em uma escola em Al-Khalil, foi presa pela ocupação em 2012, ficando um mês sob interrogatório severo, período que descreve como o mais difícil de sua vida, afastada de seu filho Hamza. Como estudante, ela era ativa nas atividades de apoio aos prisioneiros mantidos em prisões sionistas e para exigir o fim da prisão política pela AP e a “coordenação de segurança” com a ocupação.

Nas prisões, Abu Warda participou ativamente do movimento dos prisioneiros, liderando e participando de greves de fome e outras ações coletivas, incluindo a greve coletiva Caramé de 2012.

As forças de ocupação recusaram-se a liberá-lo, junto com outros prisioneiros com sentenças longas, no âmbito da troca de prisioneiros Wafa’ al-Ahrar, realizada pela resistência palestina em 2011.

Em 2016, de sua cela, Mohammed Abu Warda escreveu uma série de anotações sobre sua vida, publicadas em Dunia al-Watan.

Nascimento: Junto com os anciãos forçados a deixar ‘Iraq Al-Manshiyya e com o cheiro de sangue que escorria dos corpos de nossos antepassados, deixando memórias espalhadas pela mão do ocupante entre os campos de refugiados, e com os gritos das crianças privadas que cresceram nos campos, a alegria surgiu no rosto de minha avó ao ver minha mãe no dia do meu nascimento, anunciando minha chegada em 17 de janeiro de 1976, entregando-me o cartão de ração da UNRWA, que permaneceu conosco por muito tempo no campo de Al-Fawwar, que fervia com a raiva de seu povo sobre a angústia do deslocamento que os espalhou em 1948. O anúncio do meu nascimento foi marcado no caminho de contínuo exílio para os filhos de nosso povo.

Infância: Cresci nos becos estreitos do campo, repletos de gente, e no abraço de minha mãe, que Deus me honrou, zelosa em me alimentar com o leite da liberdade e da rebelião contra a opressão e a tirania da ocupação. Ela teve um papel importante em minha criação, incentivando-me a rezar na mesquita desde a infância e ensinando-me a memorizar alguns versos do Alcorão. Apeguei-me à vida do campo, apesar de sua dureza, brincando em sua terra e entre suas casas apertadas. Respirei o aroma de seu ar, corri pelos tapetes de sua mesquita até que meus pés gradualmente me levaram, ano após ano, às suas escolas, que pareciam mais ilusões do que realidade. Durante a Intifada das Pedras, crescemos carregando pedras em nossas mochilas para enfrentar a brutalidade do exército estacionado em nosso campo. Crescemos com as pedras, as balas do exército e os slogans que minhas pequenas mãos escreviam nas paredes, envolto no lenço do Movimento de Libertação da Palestina – Fatá – ganhando o título de “o pequeno sheikh do Fatá”. Isso durou até minha primeira prisão em 1992, que durou 3 meses. Retomei o mesmo caminho após a libertação, mas com uma nova visão, cujas transformações começaram sob a orientação do Sheikh Kamal al-Titi (Abu Sayyaf) e a abençoada escola de Sharia em Al-Khalil, e seus professores honrados, que me apresentaram às fileiras do Movimento de Resistência Islâmica – Hamas – além do papel de seus estudantes, liderados por Abbas al-Oweiwi e o mártir Raed Misk. A jornada continuou até a Faculdade de Ciências Educacionais em Ramala e o antigo Instituto de Professores, onde abracei o Bloco Islâmico nos anos entre 1993 e 1996, movendo-me entre a maioria de seus comitês e tornando-me seu líder. Este foi o ponto de virada mais importante da minha vida, no qual atuei como ativista nas fileiras do Movimento de Resistência Islâmica – Hamas – em todas as suas atividades dentro e fora do instituto, até que a notícia do martírio do Engenheiro Iahia Aiash, o engenheiro das Brigadas Al-Qassam na Cisjordânia, chegou. Seu martírio marcaria uma nova etapa importante em meu envolvimento com as abençoadas Brigadas Al-Qassam.

Trabalho Jihadista: Após ter a honra de pertencer às Brigadas Al-Qassam na Faculdade de Ciências Educacionais, fui apresentado a um irmão de Gaza, que me apresentou ao irmão e prisioneiro Hassan Salameh, um dos líderes das Brigadas Al-Qassam em Gaza, que veio à Cisjordânia para organizar operações de vingança pelo sangue do engenheiro Iahia Aiash. Meu contato com o prisioneiro Hassan Salameh foi o verdadeiro início da minha atividade nas Brigadas Al-Qassam, e entre nossas operações mais importantes estavam:

  1. A primeira operação de vingança pelo assassinato de Iahia Aiash, em 25 de fevereiro de 1996, realizada pelo mártir Majdi Mohammed Mahmoud Abu Warda do campo de Al-Fawwar, na cidade de Jerusalém, resultando na morte de 26 sionistas e ferindo dezenas ao explodir-se em um ônibus de passageiros. Meu papel foi organizar o mártir e levá-lo ao líder Hassan Salameh;
  2. A segunda operação de vingança, no mesmo dia, foi realizada pelo mártir Ibrahim Hassan Sarahneh, do campo de Al-Fawwar, na cidade ocupada de Asquelan, resultando na morte de um sionista e ferindo dezenas;
  3. A terceira operação ocorreu uma semana após as anteriores, também em Jerusalém, também na Rua 18, realizada pelo mártir Raed Abdel-Karim Al-Sharnoubi, de Burca, Nablus, resultando na morte de 18 sionistas e ferindo dezenas;
  4. Tentativa de enviar um quarto mártir durante a Intifada de Al-Aqsa, após minha libertação da prisão dos serviços de segurança palestinos em 2001, mas a vontade de Deus não permitiu que fosse bem-sucedida.

Prisão: As forças de segurança da Autoridade Palestina me apreenderam em março do mesmo ano e me levaram para suas prisões e centros de interrogatório na cidade de Jericó. Fui condenado por essas operações em um julgamento simulado e sentenciado à prisão perpétua e trabalhos forçados, dando início a uma jornada de sofrimento e dor no calor de Jericó, que durou cinco anos e meio, aguardando o dia da liberdade e da salvação. No início da Intifada de Al-Aqsa, quando a Autoridade Palestina perdeu o controle sobre as cidades da Cisjordânia devido às invasões, o destino me levou de volta à cidade de Al-Khalil, na esperança de respirar o ar de nosso campo (campo de Al-Fawwar) após anos de separação. No entanto, o Serviço de Segurança Preventiva me re-prendeu, mantendo-me preso por mais quatro meses, até que a invasão de Al-Khalil começou em abril de 2002, e fui libertado para uma vida de perseguição e perseguição pelo exército israelense.

Estado civil: O deslocamento, a amargura da Intifada das Pedras e a prisão não me deixaram espaço para amor e casamento. No entanto, após deixar a prisão de Jericó e chegar à cidade de Al-Khalil em busca do ar do campo, que as forças de segurança me impediram de acessar, o destino trouxe uma brisa diferente do coração da Universidade de Hebron, a brisa da mulher que amei e que se tornou meu destino inevitável, um projeto de vida que compensou a amargura e crueldade dos anos de prisão. O olhar dela afastou a dureza da prisão, despertando o amor em minha vida desolada e inspirando uma canção tão alegre quanto a de um rouxinol.

No entanto, mais uma vez, essa canção foi interrompida pelas grades da prisão da Autoridade Palestina, para que ela começasse comigo uma vida de amor envolta nos espinhos da prisão e de seus arames farpados. Passei o período de sonhos de noivado na prisão da Segurança Preventiva, e casei-me com ela entre soldados dos serviços de segurança e guardas da prisão. Deixei a prisão deles para a sala de casamento, que continha apenas a noiva e os soldados. Concluí a cerimônia de casamento retornando ao meu quarto na prisão da AP, roubando algumas horas para visitá-la, como um olho privado que vislumbra a lua, até que a cidade foi invadida e ela viveu comigo em meio ao período árduo de perseguição pela ocupação. Durante esse tempo, Deus me abençoou com um filho, a quem chamei de Hamza, como uma extensão de mim e dela, unindo dois corações que se uniram naquele casamento por apenas alguns dias breves.

Vida em Fuga: Minha vida em fuga começou com a invasão da cidade de Al-Khalil e continuou por 3 meses, repleta de mais sofrimentos e cenas duras até minha prisão final em novembro de 2002.

Vida na Prisão: A vida se dobra em capítulos de separação conhecidos apenas por aqueles que a viveram, ansiando por uma esposa que viveu comigo por dias e foi separada de mim por anos, um filho que nasceu, viveu e cresceu sem nunca sentir meu toque ou abraço, e por uma família privada de seu lar e de uma reunião em pelo menos uma ocasião. Mas o decreto de provação de Deus é para os seus amados, e rezo para estar entre eles e que Ele me ajude a permanecer firme em Seu destino, aderir à Sua religião e aprender Seu livro, e crescer pacientemente nos círculos de conhecimento que me acompanham em minha jornada de sofrimento. Quanto às pessoas que mais me influenciaram por meio de suas palavras e livros, elas são o Sheikh Ahmed Al-Qattan, uma das figuras proeminentes do movimento Hamas e um dos professores da escola Sharia, junto com os mártires Kamal Al-Titi, Abdullah Al-Qawasmi e Abdel-Majid Dudin.

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