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Eleições nos EUA

O fracasso da esquerda ao apoiar o Judiciário

Uma campanha que enfrentou censura, ataques incessantes dos principais meios de comunicação do imperialismo, e um tiro de fuzil. A vitória de Trump veio pelo enfrentamento

Na última segunda-feira, dia 11 de novembro, o jornal golpista Folha de S.Paulo publicou o artigo “Nem religião nem economia, Trump venceu na p0rr4d4”, uma coluna assinada por Juliano Spyer. O artigo elabora sobre a ideia de que o recém eleito presidente dos EUA conseguiu vencer o pleito em função dos homens jovens.

Eleitores —não apenas brancos— optaram por Trump ao sentirem a perda de poder de compra. Mas há um aspecto subestimado: o da masculinidade. Ou, como descreveu a Economist, os ‘bros’.

Ou seja, sem o argumento racial identitário, parte a imprensa imperialista para o machismo. A política econômica seria, portanto, fator secundário na situação política norte-americana. Contudo, o objetivo do texto não é apenas ocultar a política imperialista do Partido Democrata, que mantém a população norte-americana na miséria, em regiões devastadas por drogas sintéticas, a coisa vai além. Vejamos:

A única pessoa fora do círculo familiar dos eleitos era Dana White, presidente do UFC.

Não apenas isso: Trump interrompeu seu discurso para convidar White ao microfone. E o que ele disse? Agradeceu aos ‘bros’.

Existem muitos fatores que explicam a vitória expressiva de Trump, mas surpreende a falta de análise no Brasil sobre a influência de Dana White no resultado das urnas. Isso reflete um fenômeno maior: a perda de influência da mídia tradicional na condução dos debates sociais.

Mas vamos por partes. Quem é Dana White? Ele é o principal responsável por popularizar o MMA (artes marciais mistas). Cidades ao redor do mundo competem (e pagam) para sediar eventos do UFC, a organização presidida por White. E quem é o público desse esporte? Exatamente, os ‘bros’ —homens de 18 a 45 anos.

Tudo o que ocorrer de impopular, ou que seja considerado pelo núcleo duro da imprensa imperialista, será jogado nas costas do que o articulista chama de bros, em português algo como rapaziada. Quem são os homens de 18 a 45 anos? Ora, são os trabalhadores, a camada mais expressiva e ativa da classe operária. Assim, a estratégia de dividir a classe operária, através do identitarismo, está exemplificada no artigo na Folha. Prossegue a matéria descrevendo — e atacando — a modalidade esportiva e seu meio:

Esse esporte surgiu sob perseguição. No início dos anos 2000, quase nenhum estado dos EUA permitia eventos do UFC. O então senador republicano John McCain, derrotado por Obama na campanha presidencial de 2008, descreveu o UFC como uma ‘rinha de galo humana’, o que forçou a organização a buscar meios alternativos de comunicação com seu público, fora da mídia tradicional.

Essa foi a contribuição de White nesta eleição: conectar Trump a uma rede de produtores independentes de conteúdo com milhões de seguidores nas redes sociais. Foram esses influenciadores que White agradeceu durante a cerimônia da vitória de Trump.

Vale destacar Joe Rogan. Além de comandar o podcast mais popular do mundo, ele é comentarista do UFC e historicamente um apoiador de candidatos democratas.

Temos aqui o primeiro exemplo da “porradaria” enfrentada por Trump nas eleições. O isolamento na imprensa burguesa convencional, os ataques constantes, como a questão racial e de gênero colocada, e a necessidade de se utilizar de outros meios de comunicação. Isso mesmo sendo um candidato burguês, apesar de representante de um setor minoritário do imperialismo. Bom, nada mais natural que a censura da imprensa convencional tenha empurrado Trump aos comunicadores das redes sociais e podcasts. Ademais, o político foi banido do então Twitter em janeiro de 2021, recuperando a conta apenas em novembro de 2022, e a campanha eleitoral, nos EUA, não tem restrição de data.

Além da censura nos veículos principais da imprensa capitalista, é preciso também lembrar da tentativa de cassar os direitos políticos do próximo presidente dos EUA. Uma enxurrada de processos foi deslanchada contra Donald Trump. Processos sobre processos, dezenas de casos forjados pelo imperialismo para retirar uma das principais figuras políticas daquele país das eleições. Acusações repercutidas pela mesma imprensa que o censurava. Assim, Trump se aproximou de outros setores marginalizados pelo aparato imperialista principal, em meio a uma guerra na imprensa, provocada pela crise que pode representar para o aparato imperialista.

Trump gravou quase três horas de conversa com Rogan. Na ocasião, perguntou a Rogan sobre sua relação com White. ‘Ele é provavelmente o motivo de você (Trump) estar aqui’, o apresentador respondeu. A campanha democrata decidiu que Kamala Harris não deveria participar do programa de Rogan. Na véspera da eleição, Rogan declarou apoio a Trump.

Há dez anos, o cristianismo evangélico era considerado pelo jornalismo tradicional como um assunto menor. O mesmo acontece hoje com os esportes de combate. E há mais ali do que violência e brutalidade.

Em uma geração, a identidade masculina passou da de ‘provedor’ para a de ‘opressor’, de trabalhador CLT a motorista de Uber. Não é um tema trivial, mas precisamos falar sobre os ‘bros’.

Antes de concluir, é preciso ainda destacar o ponto alto da “porradaria” enfrentada por Trump nas eleições. O presidenciável, durante um comício, foi alvejado por um tiro de fuzil que por uma casualidade — ele virava a cabeça exatamente no momento do disparo — pegou de raspão, em sua orelha. Uma distância de meio milímetro poderia significar o fim da candidatura, da carreira política e da vida do republicano.

Aqui, ao final da peça, é enfim colocado o ponto principal do artigo: um chamado à ampliação da censura, da perseguição política. Como que solta ao final do artigo, mais uma colocação sobre o grande vilão da sociedade, o homem, o homem desempregado, o motorista de Uber, jogado no desamparo, sem qualquer direito. Uma tentativa barata do imperialismo de reforçar o identitarismo, em queda exponencial de popularidade, para dividir os trabalhadores. O inimigo, de fato, é o próprio imperialismo, que massacra toda a população do planeta mantida sob uma ditadura brutal. Reproduzimos então, com alguma ironia, o título da coluna da Folha.

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