O membro do Diretório Nacional do PT e diretor da Fundação Perseu Abramo Alberto Cantalice usou seu perfil oficial no X para criticar o Partido da Causa Operária (PCO) por um artigo escrito pelo Diário Causa Operária (DCO), na qual o órgão criticava a defesa do arranjo derrotista da frente ampla, defendido por Cantalice. Recorrendo ao famigerado e curioso argumento de que o PCO seria inexpressivo, Cantalice escreveu:
“O inexpressivo PCO ataca novamente.
O PCO mais uma vez usa sua verborragia para me atacar. Eles que fazem coro com a extrema direita em ataques ao STF, resolveu agora investir contra Frente Ampla.
Em sua confusão teórico-ideológica, fruto da má interpretação do marxismo e do leninismo, confundem recorrentemente as questões táticas da questão estratégica.
Por isso escrevem tanta bobagem. Um pouco de leitura os faria bem.”
Em primeiro lugar, é importante lembrar que o PCO e o DCO sempre foram opositores ferrenhos da tática da frente ampla, não sendo, portanto, uma política adotada “agora”. Desde o início da campanha presidencial de 2022, por exemplo, denunciamos que essa estratégia inevitavelmente amarraria o governo do PT à direita, e não a qualquer setor, mas ao mais ligado ao imperialismo: aquele responsável pelo golpe de Estado de 2016, que depôs a presidenta Dilma Rousseff, e pela prisão ilegal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, encabeçamos uma campanha ferrenha contra a frente ampla no âmbito das manifestações pelo Fora Bolsonaro em 2021. Alertamos que permitir a participação de elementos da “direita civilizada” nos atos que, naquele momento, agrupavam dezenas de milhares de pessoas em todo o País; levaria à derrota do movimento – o que, de fato, ocorreu.
Enquanto Cantalice finge ignorar esses fatos, ele demonstra uma disposição inabalável em defender o STF, o verdadeiro criador e mantenedor do bolsonarismo, enquanto critica aqueles que fazem uma oposição séria e consequente à ditadura togada. O STF, tão idolatrado por Cantalice, não apenas foi um dos protagonistas dos golpes que permitiram a ascensão de Jair Bolsonaro que Cantalice finge combater, mas também orquestrou ataques sistemáticos aos direitos dos trabalhadores e à soberania nacional.
Nossa oposição à frente ampla sempre foi baseada em uma previsão clara, a que o País agora assiste: com esse conjunto de alianças, Lula não consegue governar. Amarrado à direita imperialista, que busca desesperadamente uma sobrevida política sob o manto da popularidade do presidente, Lula se vê frequentemente forçado a ceder, enquanto a direita nada oferece em troca.
Pelo contrário, Tebet, Alckmin e outros desclassificados inseridos à força no governo usam sua posição para pressionar ainda mais por políticas de alinhamento aos interesses dos banqueiros e dos monopólios internacionais, frontalmente contrários à política nacionalista e desenvolvimentista pretendida por Lula. Isso fica evidente com o Plano Haddad e declarações como a do próprio ministro da Fazenda, que afirmou não precisar de convencimento para implementar um choque neoliberal, mas que o presidente Lula ainda precisava ser “convencido”.
Essa é a verdadeira face da frente ampla que Cantalice defende, uma aliança que nada mais faz do que empurrar o governo à direita, sob o pretexto de governabilidade, que, na prática, não se verifica, sendo público e notório o oposto, que Lula é constantemente chantageado pelo Congresso dominado pelo bolsonarismo e atacado pela imprensa imperialista. Como outra consequência negativa e marcante, temos o fortalecimento do próprio bolsonarismo.
Era óbvio que aconteceria, mas o retumbante fracasso da esquerda nas eleições municipais deste ano mostrou que, além de não deixar Lula governar conforme seu programa e empreender uma política de cortes e arrocho; essa tática derrotista tem impulsionado o crescimento da extrema direita, que cresceu em quantidade de prefeituras e número de votos e também em qualidade, uma vez que os principais e mais influentes centros urbanos do País foram dominados pelos partidos da base bolsonarista. A esquerda, por outro lado, foi varrida das capitais brasileiras, com a única exceção de Fortaleza, onde o PT ganhou por uma margem muito pequena, de 0,38 ponto percentual.
Para Cantalice, no entanto, tudo parece estar às mil maravilhas. De duas uma: ou toda essa conjuntura não passa de uma fantasia coletiva e o dirigente petista está vendo um País diferente, onde o governo não está se vendo obrigado pela pressão da direita a cortar dos pobres para dar ainda mais aos banqueiros, não está sendo chantageado e acossado por um Congresso bolsonarista e uma imprensa imperialista, ambos dedicados a desmoralizar o governo, e tampouco acabou de levar uma surra histórica nas eleições municipais. Ou, tudo isso de fato aconteceu.
Nesse caso, o que o dirigente Cantalice está defendendo é a manutenção deliberada de uma política comprovadamente falida, que nada trouxe de bom ao governo, à esquerda, aos trabalhadores e ao País, mas foi, curiosamente, muito positiva para o bolsonarismo, que em suas palavras, diz combater. Nos posicionamentos, porém, Cantalice não faz mais do que fortalecer os inimigos do povo trabalhador. Eis alguém com autoridade para interpretar corretamente as lições de Marx, Engels e Lênin.