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HISTÓRIA DA PALESTINA

O Exército Vermelho Japonês e a resistência palestina

Como um grupo de jovens revolucionários japoneses se tornaram militantes da causa palestina ao lado da FPLP

O final dos anos 1960 foram recheados de grandes crises que teriam desfecho trágico para o imperialismo na década seguinte. No centro das gigantescas mobilizações populares que se espalhavam pelo mundo, especialmente entre os estudantes, estavam as guerras imperialistas e a luta anticolonial dos países imperialista, onde a Guerra do Vietnã ocupava a posição de maior destaque. Jovens norte-americanos faziam de tudo para escapar do alistamento forçado e as grandes universidades eram palco de gigantescos protestos. Em maio de 1968, estudantes franceses também se rebelaram tanto contra o governo autoritário de Charles de Gaulle, como contra a burocracia stalinista que se apoderava do Partido Comunista Francês. A onda de mobilização se espalhou por todos os países imperialistas, até o Japão, quando, em 1970, houve uma reedição dos protestos da década anterior contra o Tratado de Segurança entre Japão e Estados Unidos, que seriam automaticamente renovados naquele ano.

Nesse cenário, surge o Exército Vermelho Japonês (EVJ), em 1971, organização que, assim como muitas da época, inspirada por eventos como a Revolução Cubana de 1959 e pressionada por um dos períodos de maior repressão da burguesia, chegou à conclusão que a única via para a revolução era a luta armada. Esse método de luta desesperado, mas não menos heroico, desenvolvido sob condições muito adversas, entraria para a história sob a alcunha de foquismo (focos de guerrilha).

O EVJ era uma dissidência da Facção Exército Vermelho, organização que tinha raízes na Liga Comunista, que surgira à luz dos protestos dos anos 1960 nas universidades japonesas. Fundado por Fusako Shigenobu e Tsuyoshi Okudaira em fevereiro de 1971, à época ambos jovens de apenas 25 anos, no Líbano, após fugirem da perseguição política no Japão; o grupo nutria laços próximos com a Frente Popular pela Libertação da Palestina (FPLP).

O primeiro grande ato em conjunto com a resistência palestina foi logo em 1972, no que a historiografia sionista chama de “massacre do aeroporto de Lod”. A operação realizada pelos militantes do EVJ fora por eles batizada de Operação Deir Yassin, em referência ao massacre sionista realizado contra a pequena vila palestina de mesmo nome em 1948. Homens e mulheres armados com rifles e granadas deixaram 26 mortos e mais de 80 feridos no ataque ao que é hoje conhecido como aeroporto Ben Gurion, em Telavive. Apenas um dos guerrilheiros a participar da operação ainda está vivo, Kozo Okamoto, que reside no Líbano e ainda é procurado pelas autoridades japonesas.

O grupo continuou ativo na causa palestina até o final dos anos 1980 e trabalhou diretamente com Wadie Haddad, enquanto era vivo, militante histórico da FPLP responsável por organizar as operações de sequestro de avião que a organização palestina realizava para levantar fundos para outras operações. 

Apenas na década de 1970, o EVJ atuou no sequestro de três voos comerciais, dois deles da Japan Airlines; ocuparam a Embaixada da França em Haia; e fizeram mais de 50 reféns num complexo diplomático que abriga diversas embaixadas em Kuala Lumpur, na Malásia. Nos anos 1980, o grupo atacou com morteiros embaixadas de Japão, Canadá e Estados Unidos em Jacarta, na Indonésia; fez ataques similares às embaixadas britânica e norte-americana em Roma, na Itália; e, finalmente, detonou um carro bomba do lado de fora de uma sede da United Service Organizations (responsável por dar suporte às tropas norte-americanas em países estrangeiros) em Nápoles, na Itália.

A atividade do grupo retrocede com o próprio refluxo da luta do povo palestino, que teve uma grande derrota com os Acordos de Oslo, firmados entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990.

Em novembro de 2000, Fusako Shigenobu foi presa em Osaka, no Japão, sob manchetes sensacionalistas que a retratavam como a “imperatriz do terror”. Em 2001, já presa, Shigenobu emitiria comunicado dizendo que a organização havia abandonado a luta armada. Em 2022, foi solta, já com quase 80 anos.

Kazo Okamoto, sobrevivente da operação contra o aeroporto israelense em 1972, concedeu entrevista ao jornal japonês Mainichi em 2017. O militante japonês foi preso pelos sionistas e torturado por 13 anos até ser liberto em troca de prisioneiros com o acordo de Jibril, em maio de 1985. Desde então, vive no Líbano e disse ao repórter que gostaria de voltar ao menos uma vez ao Japão, enquanto seu pai ainda é vivo, mas sabe que isso não seria possível porque ainda é procurado. Sobre a Operação Deir Yassin, o senhor, então com 69 anos, manteve firma sua posição de que não se tratava de terrorismo.

“Sinto pena das vítimas”, disse, quando perguntado sobre os acontecimentos. “Não foi um ataque terrorista, mas uma luta armada iniciada em conjunto com a FPLP. Agora, como no passado, as lutas armadas se tornam a melhor propaganda“, concluiu o revolucionário, deixando claro que seu objetivo político era atrair atenção para o massacre diário sofrido pelo povo palestino sob a ocupação sionista, algo que identificavam em sua luta contra o Estado fascista japonês quando organizaram seu pequeno grupo guerrilheiro, ainda em seu país de origem.

Essa história demonstra o poder da luta do povo palestino, que atrai a solidariedade de pessoas de todo o mundo, especialmente dos mais jovens que não toleram assistir passivamente a esse genocídio diretamente patrocinado ou com a conivência de seus governos. Dos muitos que se juntam a essa luta, os mais importantes são aqueles que dedicam toda a sua vida a ela, como os membros da EVJ. Como diria o dramaturgo alemão, Bertolt Brecht: “há homens que lutam um dia e são bons, outros lutam um ano e são melhores, e há aqueles que lutam muitos anos e são muito bons, mas há aqueles que lutam a vida inteira e esses são os indispensáveis“.

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