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José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Coluna

O exercício da crueldade: as duas faces de Javier Milei

Enquanto os países do Brics discutem em Kazan, na Rússia, o detalhamento da criação de um sistema monetário alternativo à ditadura do dólar, Milei segue delirando com a dolarização

No final do primeiro semestre deste ano, conforme relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), o Índice de Pobreza na Argentina atingiu 52,9%, o percentual mais elevado desde 2003 (21 anos). Em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o índice era de 40,1%, observa-se que a pobreza aumentou quase 13 pontos percentuais. O índice de indigência, que mede o número de pobres que literalmente passam fome, está em 18,1%, praticamente dobrando em relação ao semestre Janeiro-Junho de 2023, quando estava em 9,3%.

É necessário compreender o significado do experimento nazista de Javier Milei nesse importante país da América Latina. O percentual de pobreza apurado pelo Indec representa 24,3 milhões de pobres, e 8,3 milhões de indigentes, em uma população total de 46 milhões de pessoas. Esses indicadores são ainda mais graves para segmentos específicos da população: 66,1% dos menores de até 14 anos são pobres, da mesma forma 60,7% dos jovens entre 15 e 29 anos. Entre os aposentados, os pobres passaram do 13,2% no primeiro semestre de 2023, para 29,7% no mesmo período deste ano. Se é verdadeiro o princípio de que uma sociedade se avalia pela forma como as crianças e os velhos são tratados, esses números são uma síntese precisa do que significa uma extrema direita no governo.

A sociedade argentina ainda não tinha conhecido um salto tão abrupto de pobreza e indigência, em tão pouco tempo, como este do atual governo. Segundo a imprensa independente da Argentina, o governo de Javier Milei gerou 5 milhões de novos pobres e 3 milhões de novos indigentes. A pobreza e a indigência no país vinham subindo desde 2017, nos dois governos anteriores. Isso explica em parte, inclusive, a vitória eleitoral de Milei, como se pode concluir. Mas o que esse governo fez foi acelerar muito fortemente o processo de empobrecimento, gerando quase 30.000 pobres por dia, desde que assumiu.

Os indicadores da economia argentina, observados nesses primeiros 10 meses de governo, são a prova definitiva de que os “esqueminhas” que Milei mantém na sua cabeça aloprada, são completamente furados. Ou seja, ele – e a maioria de seus ministros – realmente não sabem o que estão fazendo. Apesar do governo ter arrebentado o poder aquisitivo da classe média e do povo em geral, e de ter levado rapidamente a economia para a recessão, a Argentina mantém uma das inflações mais elevadas do mundo, de 236,7% em 12 meses até agosto. Ou seja, os princípios do “anarcocapitalismo”, ou coisa que o valha, colocaram em tempo recorde a população na miséria, e a condenaram ao inferno da estagflação.

Pode-se perguntar por que, com essa fórmula de destruição do país, Milei segue ainda no governo. Seria o povo argentino uma nação de completos masoquistas? Na realidade, Milei tem o apoio de setores muito fortes, a começar pela maior força da Terra, que é o imperialismo. No atual quadro político e econômico mundial, o presidente argentino tem realizado ações, e prometido outras, que são muito vitais para um imperialismo em franca crise. Por exemplo, o governo argentino está negociando com o governo dos EUA, a instalação de uma base naval norte-americana na província patagônica do Ushuaia, decisão que é um achado para o imperialismo tanto do ponto de vista militar, quanto econômico.

Ademais, do ponto de vista geopolítico e econômico, o governo Milei é um peão importante para o xadrez imperialista. Enquanto os países do Brics discutem em Kazan, na Rússia, o detalhamento da criação de um sistema monetário alternativo à ditadura do dólar, Milei segue delirando com a dolarização da economia argentina. Propor renunciar à moeda nacional, instrumento fundamental de macroeconomia, em favor da moeda do país mais imperialista do mundo, significa tomar o caminho mais curto para o inferno. A proposta de dolarização da economia argentina é outra prova de que esse país tem à frente um governo completamente perdido em relação às principais coordenadas políticas e econômicas da economia mundial. Cada vez mais fica mais evidente a importância dos membros do chamado Sul global, terem independência das moedas dos países ricos, e dos bancos dos países imperialistas, Banco Mundial, FMI e outros.

A loucura e o despreparo de Milei são usados pelo imperialismo para viabilizar seu projeto econômico e político na América do Sul. Por exemplo, o conjunto das políticas do governo argentino está levando o país a desindustrialização, o que parece inclusive ser uma estratégia, portanto, uma ação deliberada. Aparentemente a ideia é tornar a Argentina um país com o mínimo possível de indústrias e um provedor de alimentos e matérias-primas para os países ricos, escolha que soa como música nos ouvidos dos países imperialistas. Com a perda de influência política no mundo, o “quintal” latino-americano tornou-se um reduto ao qual os EUA não aceitarão perder, sem cobrar um preço muito alto. Nesse quadro internacional tenebroso, Milei se move com duas faces: enquanto se comporta com imensa crueldade com o povo pobre de seu país, se mostra um verdadeiro “ursinho de pelúcia” com os ricos e poderosos do mundo.

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