Atos no dia da Independência

O ‘enterro’ de Bolsonaro e o otimismo de esquerdistas tolos

Jornalista de Brasil 247 repete fórmula fracassada do "meia dúzia de gatos pingados" de 2014 para desacreditar a extrema direita, um erro com implicações sérias para a esquerda

O jornalista Moisés Mendes, do sítio Brasil247, publicou no portal uma coluna comentando os eventos do feriado da independência, com o título, Fracasso do 7 de Setembro na Paulista iniciou o enterro do velho bolsonarismo. Nele, Mendes repete o velho otimismo para tolos da esquerda ao destacar que “o ato foi o maior fracasso de gente com a camiseta amarela desde a goleada sofrida pela Seleção no 7 a 1”. A análise apressada e completamente equivocada de que o ato bolsonarista no dia 7 de setembro foi um “fracasso” é um grave erro de interpretação política, principalmente por ignorar um fato óbvio a qualquer um que passou pela Paulista: mais “gente com a camisa amarela” atendeu o chamado do que em qualquer manifestação da esquerda esse ano.

Em primeiro lugar, o público presente evidencia quão aloprados eram os esquerdistas que creditava à garota-propaganda do neoliberalismo, a cantora norte-americana Madona, uma suposta “ressignificação” da camiseta da Seleção brasileira. O colunista que sugeriu que o bolsonarismo está “enterrado” a partir da Paulista parece ter esquecido um fator fundamental da luta política: a arrogância da esquerda em subestimar seus adversários.

Esse tipo de postura desdenhosa não é nova. Aliás, foi exatamente esse erro que nos custou dois golpes de Estado, o governo Temer, o governo Bolsonaro e tudo o que acompanhou o pacote desses dois golpistas. 

Quando as primeiras mobilizações da direita começaram em 2014, a esquerda (completamente desorientada) tratava os atos como sendo apenas “meia dúzia de gatos pingados”. Ignorou-se completamente o potencial de organização e mobilização que aqueles atos indicavam, um desprezo arrogante que resultou na consolidação de um golpe em 2016 e na ascensão de Bolsonaro ao poder em 2018. O preço que pagamos por essa análise superficial foi altíssimo, e parece que não aprendemos nada com isso.

Agora, alguns estão repetindo a mesma postura frente ao ato de 7 de Setembro deste ano. Nada mais distante da realidade que falso que caracterizar o ato foi como “fracasso” ou que o bolsonarismo está em processo de “enterro”. A manifestação de Bolsonaro na Paulista, mesmo sendo menor que o de outros momentos, ainda foi maior do que qualquer mobilização organizada pela esquerda neste ano. E se isso é o “início do enterro” de Bolsonaro, então a esquerda já está morta e enterrada há meses. Ocorre que nada disso é verdade.

A esquerda pequeno-burguesa parece completamente alheia ao cenário político real, apostando em um oportunismo parlamentarista ao invés de organizar suas bases e mobilizar as ruas. E, para piorar, os próprios atos públicos que organizam são um fiasco. Basta lembrar o fracasso retumbante do Primeiro de Maio deste ano ou os atos públicos esvaziados que foram realizados em apoio ao golpista Guilherme Boulos. Se a lógica de que o bolsonarismo está “morrendo” por conta da Paulista se aplica, então o que deveríamos dizer sobre a situação política da esquerda? 

Enquanto o bolsonarismo ainda consegue reunir milhares de pessoas nas ruas em apoio a suas pautas, a esquerda abandonou completamente essa frente de luta. E é justamente essa postura que pode levá-la a mais uma derrota catastrófica. Insistir na política derrotista de alianças parlamentares e abandonar as ruas é um erro que só fortalece a direita e deixa o campo aberto para o avanço das políticas golpistas e reacionárias.

A falta de mobilização popular e o distanciamento das massas é um sinal claro de que a esquerda está cada vez mais desorientada, e isso é um terreno fértil para a direita consolidar sua base. Outro ponto que precisa ser destacado é o apoio da esquerda à censura antidemocrática que está sendo aplicada ao X e aos seus usuários no Brasil. É uma política impopular que só fortalece a propaganda de que o governo e o STF estão em uma cruzada ditatorial contra a liberdade de expressão.

Além de trair suas bandeiras tradicionais ao apoiar essas medidas, a esquerda está se tornando cúmplice de um processo que alimenta o discurso de vitimização da direita, fortalecendo ainda mais o bolsonarismo. A censura imposta a uma plataforma de rede social não apenas é um ataque à liberdade de expressão, mas também coloca a esquerda em uma posição de defensora das medidas ditatoriais do STF, algo extremamente mal visto pela população, fora a reduzida bolha da autoritária classe média esquerdista.

E aqui entra outro erro fundamental: a aliança com o PSDB e figuras como Alexandre de Moraes, que está sendo atacado até mesmo pelo imperialismo que o colocou no STF. Moraes, que a esquerda agora parece defender com unhas e dentes, não é um aliado. Ele representa o mesmo lixo radioativo do PSDB que historicamente sempre se opôs aos direitos democráticos e populares no Brasil.

Ao se aliar com figuras desse calibre, a esquerda só demonstra sua completa capitulação e fragilidade, deixando claro que não tem mais nada a oferecer além de alianças oportunistas com setores golpistas. A esquerda precisa urgentemente mudar de rumo. Se insistir na atual estratégia de abandonar as ruas, desdenhar os movimentos da direita e apoiar medidas ditatoriais do STF, estará fadada a uma derrota histórica ainda pior do que as anteriores e que culminaram em dois governos golpistas, dedicados a arrasar o País.

O caminho deve ser o oposto: fortalecer suas bases, voltar a mobilizar as massas e, principalmente, retomar a defesa intransigente dos direitos democráticos. A liberdade de imprensa, de expressão e o direito à manifestação são bandeiras históricas da esquerda e devem ser retomadas com vigor. 

A única maneira de impedir que a direita continue ganhando terreno é por meio da luta política, com a organização popular e pela ampliação das liberdades democráticas. Não se pode continuar sendo fiadora de medidas ditatoriais que, no fim, só favorecem o crescimento do bolsonarismo e da extrema direita. Longe de apostar no otimismo para tolos e totalmente fora da realidade, o momento exige uma mudança completa de estratégia, o que passa por retomar a luta nas ruas, organizar a classe trabalhadora e defender, sem titubeios, os direitos democráticos que sempre foram a base da luta do campo.

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