Em 1977, a extrema-direita do sionismo assumiu o poder em “Israel” pela primeira vez. Menachem Begin, do partido que se transformaria o Likud, iniciaria uma das guerras mais violentas da história do Oriente Médio, a “guerra civil do Líbano”, isto é, a guerra do imperialismo contra o Líbano e a Organização de Libertação da Palestina. Foi nessa conjuntura que surgiu o Hesbolá e, um ano após a sua fundação, a organização realizou uma das operações de maior sucesso contra os EUA do século XX; o ataque ao quartel norte-americano de Beirute em 1983, que matou 241 soldados norte-americanos, três meses depois os EUA retiraram suas tropas do Líbano.
A guerra do Líbano foi uma guerra do sionismo contra a luta do povo palestino que se organizava no país vizinho. Os palestinos, inicialmente, lutava a partir da Jordânia, que tinha fronteiras diretas com a Cisjordânia. O sionismo conseguiu, com ajuda do rei da Jordânia, expulsar a OLP do país. Na década de 1970 ela passou a se organizar nos campos de refugiados do Líbano. A força da luta dos palestinos obrigou o Estado de “Israel” a abandonar sua máscara esquerdista, com os primeiros-ministros trabalhistas, e colocar os abertamente fascistas no poder. Em 1978 houve a primeira invasão do Líbano. Ela se estendeu ainda mais em 1982, quando houve a invasão mais famosa.
Os israelenses não atuavam apenas por meio da invasão militar. Eles financiaram e organizaram a extrema-direita libanesa, a Falange. O Partido Kataeb era dirigido por Pierre Gemayel um fascista de carteirinha que na década de 1930 era um admirador explícito de Hitler. O partido se baseava nos cristãos maronitas libaneses e possuíam sua própria milícia fascista. Com apoio dos israelenses, eles conseguiram eleger Bashir Gemayel, filho de Pierre, ao governo do Líbano em 1982. Assim, os israelenses lançaram uma ofensiva com seu próprio exército, as milícias fascistas e o governo do Líbano contra os palestinos.
O ano de 1982 foi muito violento. Pouco após a invasão, o presidente Gemayel foi assassinado, dois dias depois os israelenses organizaram o mais famoso massacre de palestinos da guerra, o “Massacre de Sabra e Chatila”. Ambos os bairros foram cercados e a Falange assassinou mais de três mil palestinos em apenas dois dias. A energia foi cortada e durante à noite os israelenses usavam fogos militares para iluminar às ruas e assim permitir a matança. Não foram usadas armas de fogo, apenas armadas brancas. O massacre é quase indescritível, até hoje é o evento mais lembrado em toda a guerra do Líbano.
No dia seguinte ao massacre, o destróier USS John Rodgers e o cruzador nuclear USS Virginia, operando ao largo da costa de Beirute, realizaram um bombardeio em Suk al Gharb, nas colinas que cercam Beirute, em apoio ao Exército Libanês quando ele estava sendo derrotado por milicianos drusos apoiados pela Síria e pela resistência Palestina. Mais de 300 projéteis de cinco polegadas (aprox. 13 cm) foram disparados. Os EUA assim entravam na guerra abertamente em apoio o sionismo. Um mês antes do massacre, desembarcaram em Beirute 400 soldados franceses, 800 soldados italianos e 800 fuzileiros navais dos EUA.
Foi nessa conjuntura de ataque geral do imperialismo à população do Líbano e aos refugiados palestinos que foi criado o Hesbolá, o Partido de Deus, que travaria a luta armada contra o imperialismo e o sionismo. O partido se inspirava na Revolução Iraniana e era composto principalmente da população xiita que ocupa o sul do Líbano e as periferias de Beirute, ou seja, onde se concentrava a ocupação militar israelense. Em 1983 o partido já era forte o suficiente para organizar atentados a bomba e um de seus principais alvos era justamente o exército norte-americano.
Em 18 de abril, o Hesbolá realizou um ataque a bomba na embaixada dos Estados Unidos em Beirute. As vítimas foram 17 norte-americanos de um total de 63 mortos e 120 feridos. Eles eram principalmente membros do pessoal da embaixada e agentes da CIA, além de vários soldados americanos e um fuzileiro naval. Foi o ataque mais mortal a uma missão diplomática dos EUA até aquele momento. Mas ele seria pequeno comparado ao que o Hesbolá preparava para o mês de outubro.
Em 23 de outubro, um caminhão carregado de explosivos conseguiu se infiltrar no quartel norte-americano onde se concentravam as tropas em Beirute. O caminhão arrebentou as grades que protegiam o quartel e se chocou com a construção, um prédio de 4 andares que se transformou em ruínas. O Hesbolá assim abateu 305 pessoas, sendo elas 241 militares dos EUA, 58 militares franceses e seis civis. Foi o maior número de mortos nortes americanos em um dia desde a Segunda Guerra Mundial. Uma das operações militares de maior sucesso da história da resistência árabe.
Esse ataque tornou a ocupação militar dos EUA impossível no Líbano, todas as tropas se retiraram em fevereiro de 1984. O Hesbolá, com dois anos de sua fundação, obteve uma enorme vitória. Seriam necessários mais 16 anos de luta para libertar o Líbano da ocupação militar israelense. Essa vitória, por sua vez, seria um dos principais estímulos para que os palestinos iniciassem a rebelião que se tornou a Segunda Intifada. A guerra do Líbano unificou a luta dos palestinos com a dos libaneses, a libertação real do Líbano só é possível por meio do fim do Estado de “Israel”. A luta do Hamas e do Hesbolá são a mesma luta.