Érika Hilton, parlamentar do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), quer que seu colega Nikolas Ferreira (PL-SP) seja obrigado a indenizá-la em nada menos que R$5 milhões devido a uma frase dita durante uma sessão na Câmara dos Deputados. Hilton ainda solicitou à Procuradoria-Geral da República uma investigação contra o parlamentar bolsonarista.
Tudo começou no dia 5 de junho, em uma audiência destinada a ouvir a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, na comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres. Na ocasião, Hilton discutia com a deputada Júlia Zanatta (PL-SC), chamando a colega de “ridícula”, “feia” e “ultrapassada”, quando foi interrompida por Ferreira, que disse: “pelo menos, ela é ela”.
E foi tão somente isso. Nikolas Ferreira não deu um soco em Érika Hilton, não jogou nenhum objeto nela, nem mesmo xingou sua mãe. Apenas falou uma coisa banal: que uma deputada do sexo feminino é tratada pelo pronome “ela”. Mas para Hilton, o mundo caiu.
Referindo a si mesma como uma pessoa “trans”, a psolista passou a acusar Nikolas Ferreira de “transfobia”. Em situação semelhante, o deputado do Partido Liberal (PL) já havia sido acusado do mesmo “crime”, ao vestir uma peruca no dia internacional da mulher e criticar a infiltração do chamado “ativismo trans” no movimento feminino. Curiosamente, o PSOL e toda a esquerda identitária fizeram da cena de Ferreira um grande escândalo, mas ignoraram por completo algo muito mais grave: que, em seu discurso, Ferreira fez uma defesa da “maternidade” – isto é, da ideia de que esse seria o papel central da mulher na sociedade.
Antes disso, em 2023, Nikolas Ferreira já havia sido condenado a pagar R$30 mil por suposta “ofensa transfóbica” por chamar a deputada Duda Salabert (PDT-MG) de “ele”.
A atitude mui democrática de Érika Hilton mostra bem para onde vai o regime político brasileiro. Se um parlamentar, na Câmara dos Deputados, corre o risco de ser multado em R$5 milhões por usar o pronome “ele” para se referir a pessoas do sexo masculino ou por se recusar a usar o pronome “ela” para pessoas desse sexo, o que acontecerá com o cidadão comum, que não tiver acesso ao dicionário cada vez mais volumoso da esquerda identitária? O que acontecerá com o trabalhador, para quem 80% de seu tempo ativo é gasto com o trabalho e o deslocamento para o trabalho?
Érika Hilton, no final das contas, não está defendendo o interesse de nenhum oprimido. Está, em primeiro lugar, defendendo o seu próprio interesse – afinal, os R$5 milhões não servirão em nada para a luta de qualquer setor oprimido contra os seus opressores, servirão apenas para que Érika Hilton compre o vestido da moda. A deputa está, no final das contas, defendendo os interesses do grande capital, que, no atual momento de crise, vê com muito bons olhos qualquer pretexto para aumentar a censura sobre os cidadãos brasileiros.