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Editorial

O cavaleiro andante da ‘democracia’

Esquerda brasileira comete suicídio político ao apoiar medidas ditatoriais de Alexandre de Moraes contra o X

Desde março de 2019, Alexandre de Moraes já comandava em sigilo seu inquérito das Fake News. Após anos de ilegalidades flagrantes, entre as quais figura o fechamento de todas as redes sociais do Partido da Causa Operária em ano eleitoral, o ministro do Supremo Tribunal Federal viu-se às voltas com a rede social X negando-se a cumprir ordens completamente ilegais.

Ao recusar-se a suspender perfis – inclusive de parlamentares eleitos por centenas de milhares de votos – o X e seu dono, Elon Musk, entraram na mira do cavaleiro andante da “democracia” brasileira. Moraes, diante da negativa, ameaçou prender todos os executivos da empresa, o que naturalmente levou Musk a fechar seu escritório no Brasil. Se representante para responder judicialmente, Moraes deu mais um passo e proibiu o uso da rede social em todo o território nacional. Num requinte de ditador hollywoodiano, acrescentou uma multa diária de R$50 mil a quem se valesse de “subterfúgios tecnológicos” para acessá-la, em outras palavras, proibiu VPNs, sigla em inglês para redes virtuais privadas.

Em movimento que o fez perder até mesmo seus apoiadores na burguesia nacional, Moraes, embebecido de seu poder absoluto, congelou as contas da Starlink, outra empresa da qual Musk é acionista, mas não é dono e sequer é acionista majoritário. As empresas sequer atuam no mesmo mercado, sendo a segunda uma provedora de internet por satélite, inclusive para as Forças Armadas brasileiras. Editoriais nas páginas dos principais jornais da burguesia nacional não puderam conter suas críticas a Moraes que se escorou no lado oposto do espectro político.

Eis que um amplo setor da esquerda nacional, incluindo o próprio governo petista, sai ao resgate do juiz do STF para acompanhá-lo em sua rota ditatorial. Segundo os apoiadores esquerdistas de Moraes, decisão judicial deve ser acatada, não se pode resistir, apenas recorrer. Despejo de ocupação? Acatemos. Remoções forçadas de acampamentos do MST? Idem. Greves consideradas ilegais? Abaixemos a cabeça e voltemos a trabalhar. A ilegalidade da decisão não vem ao caso, assim como a eventual inconstitucionalidade da lei que a sustente.

Essa postura de um setor expressivo da esquerda brasileira não é só reacionária, como configura um suicídio político. Vejamos o caso francês, onde Jean-Luc Mélenchon se aliou ao atual presidente Emmanuel Macron numa cruzada contra a extrema-direita. Apesar da vitória da esquerda nas eleições parlamentares, Macron realizou um acordo com a extrema-direita que supostamente combatia. Seu novo primeiro-ministro é do agrado de Marine Le Pen.

Musk certamente é golpista e capaz dos mais diversos crimes, mas o aparato imperialista fundamental não está com ele. Para esse setor da burguesia, ele não passa de um cachorro vira-lata, como demonstra o tratamento dado a ele e a Trump pela imprensa norte-americana. O imperialismo está com Moraes, indicado ao STF pelo governo golpista de Michel Temer, um dos ministros que votou em favor da prisão de Lula em processo que fraudou o resultado das eleições de 2018.

Segundo terceiros, Lula teria dito que “Kamala Harris seria boa para o Brasil”. O erro é cometido num momento em que existem ameaças ou golpes acontecendo em Honduras, na Colômbia, no México, na Venezuela, na Nicarágua e em Cuba. O imperialismo, ou seja, o governo de Joe Biden e Harris, está numa escalada de golpes em todo o planeta. Não é um mero suicídio político, é cavar a cova e jogar-se dentro.

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