HISTÓRIA DA PALESTINA

O Caso Altalena, o prenúncio da guerra civil de ‘Israel’

Antes da legalização do enclave imperialista, o sionismo já possuía uma ala fascista que se chocaria com elementos usados para mascarar o caráter da ocupação da Palestina

O Estado de “Israel” hoje está completamente dividido diante da força da extrema direita. O governo Netaniahu em si, pode ser considerado fascista, mas à direita dele há um enorme movimento. Os ministros que representam a extrema direita radical são Bezalel Smotrich e Ben Gvir. Mas essa extrema direita pode ser traçada desde antes da fundação do Estado de “Israel”, ainda no período do chamado revisionismo sionista. Poucos meses após a fundação de “Israel” essa direita já entrava em confronto armado com outros setores do sionismo.

O Estado de “Israel” foi declarado em maio de 1948. O seu principal líder era David Ben-Gurion, que era o líder da milícia sionista Haganá, que viria se tornar o exército sionista. O líder da extrema direita era Menachen Begin, que seria primeiro-ministro durante a guerra do Líbano. Begin era o líder do Irgun, outra milícia sionista, uma das mais violentas. Ambas realizaram um dos maiores crimes do século XX, a limpeza étnica de 800 mil palestinos, conhecida como a Naqba.

Mas representados diferentes alas do movimento tiveram algumas disputas. Em junho essa luta teria uma crise. Ben Gurion escreveu no dia 16 em seu diário: “[membros do alto comando da Haganá] Israel Galili e Levi Eshkol se encontraram ontem com Begin. Amanhã ou depois de amanhã, o navio deles deverá chegar, trazendo 800 a 900 homens, 5.000 rifles, 25 metralhadoras Bren, 5 milhões de balas, 50 bazucas, 10 transportadores Bren”. Pela declaração já fica claro que eles não eram inimigos, era aliados com algumas divergências.

Ele acrescentou: “Zipstein, diretor do Porto de Telavive, supõe que à noite será possível descarregar tudo. Acredito que não devemos colocar o Porto de Telaive em risco. Eles [navio, munição, combatentes] não devem ser mandados de volta. Devem ser desembarcados em uma costa desconhecida”.

O desembarque era um problema, pois a trégua inicial da guerra entrou em vigor em 11 de junho. A liderança israelense temia que, ao trazer abertamente combatentes e armas, estariam violando a trégua. Portanto, um porto teve que ser encontrado para que o navio pudesse ser descarregado discretamente.

Uma reportagem da AP relatou: “um comunicado israelense revelou que seis homens do Irgun foram mortos e 14 feridos em uma batalha perto de Netania, na costa mediterrânea entre Telavive e Haifa, quando os milicianos do Irgun fizeram uma tentativa fracassada de desembarcar armas perto daquele centro de diamantes. A Haganá, o Exército de Israel, perdeu dois mortos e três feridos”. Ou seja, uma batalha entre os dois setores do sionismo havia deixado vários sionistas mortos.

O Caso Altalena

Em 1º de junho de 1948, um acordo foi assinado entre o governo provisório e o Irgun para a sua absorção nas recém criadas Forças de Defesa de Israel (FDI), o exército. O acordo estabelecia que o Irgun cessaria todas as atividades independentes de aquisição de armas.

Quando se soube que o navio estava vindo com homens e equipamentos militares a bordo, Ben-Gurion se reuniu com Begin para discutir a alocação da carga. Ben-Gurion concordou com o pedido inicial de Begin de que 20% das armas fossem alocadas ao Batalhão de Jerusalém do Irgun, que ainda lutava independentemente.

Ben-Gurion rejeitou o segundo pedido de que o restante dos armamentos fosse transferido para o exército para equipar os batalhões recém incorporados do Irgun, o que ele considerou uma exigência para reforçar “um exército dentro de um exército”. Naquele momento ele já se preocupava em enfraquecer essa milícia para que ela pudesse ficar totalmente sobre o seu controle.

Em 20 de junho de 1948, o Altalena chegou às margens de Quifar Vitkin, na costa entre Telavive e Haifa, um local considerado menos visível para os britânicos, que ainda controlavam o país com seu Mandato Britânico da Palestina. Begin e outras figuras do Irgun estavam no local para receber os recém-chegados. Os combatentes desembarcaram do navio e parte do equipamento militar foi trazido para a terra.

Quando a notícia do desembarque chegou à reunião, Ben-Gurion exigiu que “Begin se rendesse e entregasse todas as armas.” A reunião produziu várias resoluções, uma das quais dizia: “devemos decidir entregar o poder a Begin ou ordenar que ele cesse suas atividades separadas. Se ele não o fizer, abriremos fogo”. Então o governo provisório decretou autorização para “o exército a usar força, se necessário, para superar o Irgun e confiscar o navio e sua carga”.

Quando foi feita a solicitação para entregar as armas, o Irgun recusou, e uma batalha se seguiu. Sete combatentes do Irgun e dois soldados do exército morreram no desembarque inicial. Os combates terminaram quando os moradores de Quifar Vitkin conseguiram negociar um cessar-fogo.

Begin então pegou um barco da costa, embarcou no Altalena e disse ao capitão que ele deveria navegar para Telavive. Há muito se acredita que Begin estava esperando por um compromisso. No entanto, Ben-Gurion ordenou que Iigael Iadin, que então era chefe de estado-maior do exército, concentrasse grandes forças na costa de Telavive para poder capturar o navio.

Canhões pesados foram transferidos para a praia. Quando o Irgun emitiu uma declaração de rendição, Ben-Gurion ordenou que o Altalena fosse bombardeado, o navio pegou fogo. Os israelenses foram a praia assistir o evento, isso aconteceu a menos de 50 metros da sede da trégua da ONU. Begin conseguiu desembarcar todos os seus homens e fugir sem ser capturado.

Os paralelos com a guerra atual

A ação enérgica de Ben Gurion se deu porque ele, como principal agente do imperialismo em “Israel”, seguia suas orientações dos governos imperialistas. Naquele momento, era necessário o cessar-fogo com os países árabes, com quem “Israel” estava em guerra. Essa trégua foi crucial para que o Estado sionista se reorganizasse e se armasse. Foi nessa trégua que Stalin realizou mais um de seus crimes e armou “Israel” contra os árabes, o que foi crucial para garantir a vitória dos sionistas.

A grande diferença com a atualidade é uma inversão total das forças. Naquele momento o imperialismo estava em seu augue e os árabes totalmente dominados. Isso se inverteu, o imperialismo está fraco, o Eixo da Resistência mais forte que nunca. Mas outra inversão é ainda mais importante, a correlação de forças entre a direita liberal e a extrema direita. Agora a extrema direita é de longe a maior força política em “Israel”. Begin se tornou primeiro-ministro em 1977. Desde então essa direita só se fortaleceu.

Agora são eles quem dão as cartas, o Irgun acabou, mas as milícias de extrema direita são gigantescas e tem sua principal base nos colonos. Hoje para gerar um confronto bastou apenas uma tentativa de condenar soldados que estupraram palestinos. Os fascistas invadiram a base onde acontecia o julgamento e impediram a condenação, todos têm medo do que eles podem fazer diante de um cessar-fogo.

Essa contradição interna do sionismo podia ser controlada quando o imperialismo estava muito forte. Mas desde a década de 1970, quando a crise imperialista começou a crescer cada vez mais, a contradição aumenta. Begin, em comparação a extrema direita de hoje, é um moderado. Em grande medida essa contradição é a principal crise que “Israel” enfrenta, até agora não há nenhum indício de como ela será contida, muito menos superada.

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