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Coluna

O capachismo da imprensa nacional na cobertura das Olimpíadas

Há um nítido esquema para favorecer os norte-americanos e algumas vezes esse esquema prejudicou diretamente o Brasil, mas a imprensa capitalista não fala nada

As Olimpíadas, que estão agora na sua reta final, demonstram mais uma vez a subserviência da imprensa capitalista brasileira diante do imperialismo.

Os Jogos sempre foram uma expressão da geopolítica. A luta entre as nações se expressa nas disputas olímpicas e o quadro de medalhas é a expressão máxima dessa luta. Liderar o quadro de medalhas é uma demostração de força de uma potência sobre a outra.

Na época da chamada Guerra Fria, os soviéticos se esforçavam para vencer os norte-americanos. Agora, a disputa do imperialismo é com a Rússia e com a China. Com os primeiros, a situação foi resolvida com um golpe de mão: usaram a guerra na Ucrânia para excluir os russos dos Jogos. Mesmo assim, o quadro de medalhas atual mostra a crise do imperialismo norte-americano com a dificuldade de estabelecer uma liderança mais tranquila em relação aos chineses.

Esse problema, que tem mais a ver com política do que com esporte, é o pano de fundo para várias coisas muito suspeitas que estão acontecendo nas Olimpíadas. Os chineses estão denunciando que seus atletas estão submetidos a pressão desproporcional, como foi o caso dos inúmeros testes antidoping feitos pelo nadador Pan Zhanle. Pan venceu os 100 metros livres e ajudou sua equipe a conquistar o ouro no revezamento 4 x 100 metros, medley que os Estados Unidos nunca haviam perdido.

Em suma, há uma disputa medalha a medalha para garantir que os norte-americanos terminem os jogos em primeiro no quadro de medalhas. É bom lembrar que o que conta na colocação geral do quadro são as medalhas de ouro. A necessidade de esconder a crise é tão grande que a imprensa norte-americana está divulgando um quadro de medalhas baseado em critérios próprios, o número geral de medalhas conquistadas, para garantir que os EUA apareçam em primeiro.

E onde entram o Brasil e a imprensa nacional nessa história toda. Acontece que para garantir que os norte-americanos terminem com mais medalhas de ouro, é preciso dar um jeito de fazê-los ganhar o máximo possível. Qualquer modalidade em que haja a possibilidade dos EUA vencerem, haverá um esforço para garantir o ouro.

O Brasil enfrentou diretamente os norte-americanos, com chances de medalhas de ouro, pelo menos na ginástica artística e no surfe, e vai enfrentar no futebol feminino e no vôlei feminino.

É difícil afirmar se as competições foram roubadas em favor dos norte-americanos. Mas no mínimo, qualquer brasileiro, assim como qualquer outra nação, deveria suspeitar que pode haver certo favorecimento para o país mais poderoso do mundo. Na verdade, essa suspeita deve existir sempre, mas muito mais agora quando a disputa com a China se dá medalha a medalha.

As modalidades que dependem de notas de jurados, por exemplo, devem ser vistas sempre com desconfiança. A final do surfe feminino foi bastante suspeito. A brasileira Tatiana Weston-Webb precisava de uma nota 4,68 para vencer a norte-americana e ficar com o ouro. Os jurados, depois de uma demora acima do normal, deram 4,5, o que garantiu o ouro para os EUA. A própria surfista norte-americana ficou surpresa com a vitória.

É possível afirmar com certeza que houve favorecimento? Não! Mas ao menos, uma imprensa série deveria suspeitar do resultado. O melhor exercício nesse caso é perguntarmos: e se fosse o contrário, os jurados dariam essa nota para a norte-americana? Parece um pouco improvável.

Esse é apenas para citar um caso. É impossível acusar sem provas, mas como dissemos, qual seria o problema de ao menos mostrar a estranheza de tais resultados na imprensa?

A imprensa nacional fica totalmente muda diante de tudo isso. Para ela, os norte-americanos é que são reis. Sobre a final do surf, o máximo que a imprensa fez foi apresentar algumas declarações vagas sobre a justeza ou não da nota, mas tudo como se não houvesse nenhum interesse político envolvido.

No caso dos nadadores chineses, por exemplo, a Folha de S. Paulo fez matéria com o seguinte título: Resultados da China na natação em Paris levantam mais dúvidas sobre doping. Os chineses são vilões, os norte-americanos são santos.

O Brasil ainda enfrenta os Estados Unidos diretamente, com chances de medalha de ouro em pelo menos mais duas modalidades. No vôlei feminino, a semifinal está em disputa. O Brasil é franco favorito, quem vencer tem a chance de disputar o ouro, que para os norte-americanos pode ser decisivo na disputa com a China.

O caso do futebol feminino merece um comentário à parte. A final será no sábado e tudo indica que a organização do campeonato está disposta a fazer o que for possível para garantir a vitória das norte-americanas. A moda é dar uma quantidade de acréscimos totalmente fora do normal. No jogo contra a Espanha, foi dado 19 minutos de acréscimo. Em outros jogos aconteceram aberrações como essa, mas muito menos nos jogos dos EUA.

Apenas a Seleção Brasileira teve mais de 100 minutos de acréscimos desde o início do campeonato, as norte-americanas, 41 minutos.

Qualquer pessoa que acompanha futebol sabe que isso vai se refletir diretamente no desgaste das jogadoras brasileiras.

Mas o principal problema é que é quase certo que na final a aberração vai se repetir. Talvez só não aconteça se o Brasil abrir 3 gols de diferença.

Fato é que está escrito que tudo o que acontecer no jogo terá como objetivo favorecer as norte-americanas.

E a imprensa brasileira, o que faz? Justifica o injustificável. Em matéria chamada Olimpíadas 2024: por que Brasil teve mais de 100 minutos de acréscimos no futebol feminino?, O Estado de S. Paulo convida ex-árbitros para dar a sua opinião. O que ninguém fala é que é muito suspeito que isso esteja acontecendo nas Olimpíadas e que está favorecendo as norte-americanas.

Uma justificativa é a de que a própria FIFA teria indicado maiores acréscimos desde a Copa de 2022. Mas em nenhum momento no futebol, nem na Copa, nem nos campeonatos, viram-se acréscimos tão longos.

Nunca, a não ser que o jogo fique parado por motivos mais graves, como uma queda de luz, por exemplo, é dado mais de 10 minutos de acréscimos num único tempo. Isso nem faz parte da cultura do futebol.

A pergunta que fica é: por que “inventaram” isso justamente nas Olimpíadas?

A imprensa nacional, capacho total do imperialismo, em particular no norte-americano, sequer questiona isso. Não coloca em suspeita tal absurdo, tal aberração. Se um juiz, num jogo normal, desse mais de 10 minutos de acréscimos num jogo de um campeonato qualquer, não dá para ter dúvida que o pau ia quebrar, como se diz na gíria.

A imprensa brasileira age de maneira vergonhosa diante da politicagem para favorecer os norte-americanos. Esperamos que as meninas do vôlei e principalmente do futebol não tenham essa mentalidade de capacho e entrem em campo para ganhar ou ganhar, sabendo que vão precisar ser 3 vezes melhores para conseguir vencer o jogo e o esquema que parece estar montado.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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