Na última semana, a imprensa burguesa mostrou, com grande prazer, as diferenças entre os discursos do presidente Lula na Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 2023 e no ano de 2024. O brasileiro, ao contrário do que fazia no início do mandato, apresentou uma posição bastante hostil à luta dos países oprimidos, a exemplo da resistência palestina e do governo russo de Vladimir Putin.
Não há dúvidas sobre o motivo. Cada vez mais isolado no regime político, Lula decidiu se agarrar ao imperialismo como se esse fosse a sua salvação.
De fato, a situação do governo é cada vez mais delicada. Em menos de duas semanas, a extrema direita deve ter uma vitória maiúscula nas eleições municipais, o que tornará tudo ainda pior. Diferentemente dos governos anteriores, Lula agora enfrenta uma oposição não apenas numerosa, mas muito mais organizada. E mais que isso: uma oposição com base social.
O erro de Lula, no entanto, está em achar que o seu governo está sendo emparedado somente pela extrema direita. É justamente o contrário: as condições para que a extrema direita cresça estão sendo criadas por pessoas que o presidente considera que são “aliados”. É a direita tradicional, que faz parte da “frente ampla” que compõe o seu governo, que está fazendo com que o bolsonarismo avance.
Quem, por exemplo, impede que Lula baixe a taxa de juros? O Banco Central “independente”, controlado não por Jair Bolsonaro (PL), mas pelos banqueiros. Depois de muita sabotagem, o governo acabou ficando desmoralizado e enfiou ainda mais o pé na lama indicando uma espécie de estagiário de Roberto Campos Neto para a presidência. Quem se opõe à exploração da Margem Equatorial? Quem se opõe às tentativas de Lula de quebrar o teto de gastos? Quem se opõe à sua política de reestatização da Eletrobrás?
Ao responder essas perguntas, qualquer um verá o óbvio: o motor da oposição contra Lula é a grande imprensa, é o Judiciário, são os partidos do regime.
Aliar-se ao imperialismo, na ilusão de que ele ajudará a combater a extrema direita, é uma ilusão total. E um caminho que já se provou errado na história por milhares de vezes – desde o surgimento do fascismo até os dias atuais. Basta lembrar que os defensores da “democracia” nos Estados Unidos estão, neste momento, tentando derrubar o governo venezuelano.
Quando as condições estiverem dadas, os mesmos “democratas” partirão para uma ofensiva contra a esquerda no Brasil.