No documento Notas para um balanço do 2º turno eleitoral, a Executiva Nacional do MES/PSOL tenta pintar um quadro em que o “Centrão” – representado principalmente pelo PSD e MDB – teria saído como o grande vencedor das eleições, enquanto o bolsonarismo teria sofrido derrotas significativas. Esse balanço, no entanto, mais parece um esforço para suavizar o impacto do avanço da extrema direita e para convencer os militantes de que a derrota da esquerda não foi tão expressiva. A realidade mostra-se bastante diferente: o verdadeiro vencedor das eleições não foi o “Centrão” moderado, mas sim uma direita cada vez mais extremada e reacionária.
“Sem dúvidas, os dois grandes partidos vitoriosos nessa eleição foram o MDB e o PSD”, afirma o grupo.
Ao afirmar que o “Centrão” saiu vitorioso, o MES/PSOL ignora que essa suposta vitória foi conquistada com o apoio explícito do bolsonarismo e de suas bases mais fiéis. O exemplo de São Paulo é claro: Ricardo Nunes (MDB) venceu graças ao apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que mobilizou sua base para garantir a vitória na cidade mais importantes do País. O MES/PSOL omite o fato de que Nunes, longe de representar uma “moderação” ou uma vitória do “Centrão” independente, consolidou-se como prefeito ao estreitar sua aliança com figuras centrais do bolsonarismo e ao se alinhar com o governador Tarcísio de Freitas, um dos principais expoentes da extrema direita no Brasil.
Ao ignorar a cooperação entre o MDB, PSD e os partidos bolsonaristas, o MES/PSOL tenta contar a história de que o “Centrão” seria uma força moderada, distinta da extrema direita. No entanto, os números mostram que, nas cidades mais importantes, o bolsonarismo e o “Centrão” formaram uma aliança que garantiu vitórias expressivas para ambos os lados. Ao apresentar esses partidos como “vencedores” em oposição ao bolsonarismo, o MES/PSOL ignora que essa aliança representa, na verdade, um fortalecimento da direita como um todo, e não uma derrota dos setores mais radicais.
Outro ponto que merece atenção é a tentativa do MES/PSOL de minimizar a força do bolsonarismo, tratando o avanço da extrema direita como algo pontual e limitado. “Bolsonaro sai ‘menos líder’ do processo eleitoral, onde entrou com condições delicadas e ambições maximizadas”, afirma. No entanto, os números das urnas mostram uma realidade completamente diferente.
O Partido Liberal (PL), base de Bolsonaro, foi o mais votado em todo o País, com mais de 15 milhões de votos, e teve um crescimento expressivo em câmaras municipais e prefeituras em diversas regiões, especialmente no interior e em áreas estratégicas como São Paulo e o Centro-Oeste. A extrema direita, longe de sair derrotada, consolidou-se como uma força política mais importante ainda.
Ao pintar Bolsonaro como um “perdedor”, o MES/PSOL ignora também que, embora existam divisões dentro da própria direita, o bolsonarismo segue como uma força central que continua a mobilizar milhões de eleitores. O crescimento do PL e a consolidação de lideranças regionais mostram que a extrema direita, ao contrário do que sugere o MES/PSOL, saiu dessas eleições com uma base eleitoral fortalecida e com condições de disputar o poder de maneira ainda mais incisiva em 2026. Desconsiderar esse avanço é subestimar o potencial de mobilização de uma direita que, longe de estar fragmentada, encontra no bolsonarismo uma de suas expressões mais organizadas e influentes.
A tentativa do MES/PSOL de colocar o “Centrão” como um vencedor independente e o bolsonarismo como um “perdedor” é, na prática, uma política de capitulação. Ao suavizar a realidade do avanço da direita, o MES/PSOL contribui para desmobilizar a esquerda e para promover uma política de conciliação de classes. A esquerda, em vez de denunciar a aliança entre o “Centrão” e o bolsonarismo, opta por minimizar o impacto dessa aliança, o que enfraquece a luta contra o avanço da extrema direita. Essa análise equivocada favorece apenas o próprio “Centrão” e seus aliados, ao passo que desmoraliza a esquerda e afasta a militância da verdadeira luta contra a burguesia.