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Ásia

O ardente apoio à vitória do imperialismo em Bangladexe

Colunista de portal esquerdista se emociona com estudantes nas ruas, mas esquece o fundamental da luta política e termina se unindo aos EUA no golpe ocorrido no país asiático

Em artigo intitulado Bangladexe e o seu ardente movimento estudantil (Esquerda Diário, 5/8/2024), Iuri Tonelo entusiasma-se com a mobilização apoiada pelos EUA e responsável por derrubar o governo de Sheikh Hasina, o que, segundo o autor, seria “um episódio decisivo em meio a uma situação revolucionária no país, com protestos que tiveram o movimento estudantil à frente”. Curiosamente, a coluna não apresenta uma única menção sobre a relação direta dos EUA com o movimento golpista, nem sequer menciona o problema do imperialismo, o que deveria ser a primeira coisa a ser analisada. O que pode parecer inofensivo é, na realidade, uma malandragem, como demonstra a leitura da nota emitida pelo Departamento de Estado dos EUA (similar ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil):

“Exortamos todas as partes a absterem-se de recorrer a mais violência. Perderam-se demasiadas vidas nas últimas semanas, e nós apelamos para a calma e a contenção nos próximos dias”, declarou Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado em comentário sobre o caso, acrescentando ainda: saudamos o anúncio de um Governo provisório [grifo nosso] e apelamos para que qualquer transição se efetue nos termos do quadro jurídico do Bangladexe”.

Perdido pela pirotecnia organizada pelos EUA, Tonelo ignora as classes sociais em confronto e termina ao lado da principal força reacionária de nossa era histórica. Em sua análise superficial, falhou em reconhecer o papel crucial do imperialismo na derrubada do governo de Sheikh Hasina. Em vez de identificar imediatamente o imperialismo como o sujeito oculto por trás da operação, o Esquerda Diário a considera uma vitória de um “movimento estudantil ardente”. Com essa caracterização, o passo seguinte é assumir a defesa do governo derrubado, salvo se o conflito em questão fosse entre forças imperialistas, o que claramente não é o caso.

O que ocorreu em Bangladexe foi um golpe da direita, orquestrado para beneficiar os piores inimigos do proletariado e, consequentemente, enfraquecer os povos oprimidos ao redor do mundo. A análise de Tonelo ignora a dinâmica de classe e as forças sociais em jogo, preferindo uma visão simplista que romantiza a mobilização estudantil sem reconhecer suas implicações mais profundas.

A nota do Departamento de Estado não poderia ser mais clara em sua hipocrisia: enquanto apelam para a “calma e a contenção”, apoiam silenciosamente a instalação de um governo provisório alinhado com os interesses norte-americanos. É uma tática conhecida, utilizada repetidamente para desestabilizar governos que não se submetem aos ditames dos monopólios, mas, de tão gasta, é surpreendente que hajam esquerdistas desorientados o bastante para caírem no golpe.

Também são conhecidos os efeitos das chamadas “revoluções coloridas”, marcadas por forte presença de estudantes de direita e após as quais a derrubada do governo em questão pelas forças apoiadas pelos EUA não trouxeram qualquer avanço, mas um fortalecimento da dominação imperialista na região. O movimento estudantil, tão exaltado por Tonelo, foi manipulado como uma ferramenta do imperialismo, uma prática comum em golpes que se apresentam como “revolucionários” para mascarar suas verdadeiras intenções reacionárias.

Tonelo simplesmente abandona tudo o que se conhece sobre o tema e falha em reconhecer que a luta contra o imperialismo é central para qualquer movimento revolucionário autêntico. Suplantado o elemento social, no entanto, o que vemos é uma confusão quem se não for devidamente enfrentada, levará fatalmente a uma desorientação nas fileiras da esquerda.

A luta dos países atrasados contra a ditadura mundial deve ser o ponto de partida para qualquer análise séria sobre mudanças de regime, especialmente quando os golpes ocorrem nas nações oprimidas. Ao ignorar isso, o artigo de Esquerda Diário não apenas se desvia do marxismo, mas também contribui para os objetivos do imperialismo, quer tenha consciência disso ou não.

A falha de Tonelo em reconhecer a centralidade do imperialismo na dinâmica global é uma omissão grave que termina criando nas fileiras da esquerda a ilusão de que se há um movimento de estudantes nas ruas, ele é progressista e deve ser apoiado. Digamos, no entanto, que amanhã o imperialismo ressuscite o Movimento Brasil Livre (MBL) e que o grupo seja utilizado em manifestações de alguma envergadura. Deveria a esquerda? Claro que não.

Se as forças atuando por trás de uma determinada mobilização forem reacionários e tiver interesses contrários aos do conjunto da classe trabalhadora, não apenas devem ser denunciados como devem ser combatidos. É o que demonstra, por exemplo, a experiência obtida através da Revolta de Kronstadt de 1921, contra a qual o governo revolucionário liderado pelos bolcheviques (já rebatizados como Partido Comunista) não tiveram opção senão reprimir duramente os amotinados, que à época, tentavam sabotar a mais importante revolução de todos os tempos. Fossem bem sucedidos, os marinheiros teriam entregue a república operária em uma bandeja para o imperialismo, o que não aconteceu porque, ao contrário de Tonelo, os revolucionários russos não se deixavam impressionar com facilidade.

Para qualquer marxista sério, a luta contra o imperialismo deve ser prioritária. A experiência histórica nos ensina que qualquer movimento que enfraqueça a resistência ao imperialismo, mesmo que pareça progressista na superfície, acaba por fortalecer a opressão global.

Portanto, é crucial que a esquerda recupere uma perspectiva correta sobre a luta de classes e o papel do imperialismo. Devemos denunciar todas as tentativas de manipulação imperialista e apoiar os movimentos e governos que resistem à dominação estrangeira, mesmo que esses não sejam perfeitamente alinhados com nossos ideais. A verdadeira libertação dos povos oprimidos só será possível por meio de uma luta implacável contra a ditadura dos monopólios, que continuam sendo o maior inimigo da humanidade.

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