A vitória acachapante da extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu são um sinal da dissolução completa do que se poderia considerar os “regimes democráticos” da Europa. A principal causa disso é a sua política neoliberal, que já é impopular e decadente por si só, mas que alcançou, nos últimos anos, o seu limite. Apesar disso, um setor da esquerda pequeno-burguesa brasileira demonstra uma crença injustificável no prosseguimento dessa política e na aliança da esquerda europeia com setores do imperialismo.
É o caso do representante-mor da ala direita do PT, Alberto Cantalice. Em publicação feita na rede social X (antigo Twitter), ele demonstrou apoio à Frente Popular na França, afirmando: “Pauta Econômica domina o Programa da Nova Frente Popular na França. A estagflação: combinação de estagnação ou ausência de crescimento, e, inflação foram as principais causas da queda do Estado de Bem Estar social no país e no conjunto da Europa. É possível derrotar o fascismo”. Anexada a esta mensagem, estava a imagem da manchete de jornal não identificado: “Eleições francesas: O que há na plataforma política da aliança de esquerda Nouveau Front Populaire? Poder de compra, pensões e crescimento: a união de esquerda está de volta ao terreno familiar – o do confronto esquerda-direita. Pretende transmitir uma mensagem social a uma França que está ‘enfraquecida’ por sete anos de liberalismo”.
É preciso, primeiramente, relembrar que a Frente Popular francesa é uma aliança França Insubmissa, Partido Socialista, Partido Comunista e Partido Verde. É preciso ter claro, no entanto, que tanto os socialistas como os verdes são partidos do imperialismo. Essa aliança não vai apresentar à população francesa nenhuma perspectiva de oposição à política neoliberal do imperialismo, já que ela contém dentro de si o próprio imperialismo.
Isso já coloca toda a tese de Cantalice, de que a pauta econômica da Frente Popular seria o suficiente para derrotar o fascismo nas eleições, abaixo. O motivo disso é muito simples: não há uma diferença considerável entre as propostas dos partidos Socialista e Verde para a economia e a de Emmanuel Macron. Todos eles seguirão, de uma forma ou de outra, a política econômica do imperialismo, que consiste no neoliberalismo, nas políticas de austeridade fiscal, no desmonte das economias nacionais em prol do mercado financeiro, nos ataques à classe trabalhadora. Além disso, há a política do imperialismo europeu para os imigrantes, que é instrumentalizada amplamente pela extrema-direita.
Os neoliberais defendem que os imigrantes sejam tratados como cidadãos de segunda classe, de modo a servirem de mão-de-obra barata para a burguesia de seus países. A extrema direita se aproveita dessa situação para defender uma política xenófoba de expulsão dos imigrantes da França, o que acaba recebendo apoio da população por não haver uma alternativa apresentada pela esquerda para essa questão.
É o caso com todas as outras questões econômicas e políticas: a esquerda não se coloca contra a guerra da OTAN contra a Rússia, não denuncia os crimes de “Israel” contra os palestinos, não procura demonstrar que o regime capitalista está caindo de podre e que a alternativa é o desmonte das políticas econômicas criminosas do neoliberalismo e, acima de tudo, o rompimento definitivo com o imperialismo.
A questão da contenção do que Cantalice chama de “estagflação” também é uma grande ilusão. Políticas paliativas como aumento do poder de compra e de pensões não resolverão a questão e, acima de tudo, não convencem a população de que será feito um verdadeiro enfrentamento contra a verdadeira catástrofe que é o neoliberalismo.
É bastante preocupante que um dirigente do PT apresente essas ilusões no atual momento. A situação no Brasil caminha para algo bastante semelhante à da Europa. Aqui, há o agravante de que a burguesia nacional demonstra uma disposição para “fazer as pazes” com a extrema direita bolsonarista, levando a um verdadeiro esmagamento da esquerda nacional nas próximas eleições caso ela não apresente uma alternativa política que seja popular.
O PT já dá indícios de que irá procurar o apoio dos setores menos importantes da burguesia nacional, comprometendo quaisquer aspectos minimamente progressistas de sua política. Nesse sentido, é preciso observar o exemplo europeu para compreender o que não se deve fazer. Caso contrário, a derrota será total.