Aprimeira vez que o vi,
Sua fronte impura bolinou meu temperamento
Era sagaz a sua cabeleira revolta de artista
Seus olhos pretos perdidos no véu da madrugada
Eu não o amei,
Foi a sua tenacidade que revelou um caráter ambíguo
Uma relação a três, cujo mérito foi todo seu
A meretriz, o mago e a infante
O trio de um circo sem graça
Responsável pela chacina da inocência alheia
O terceiro tempo da peça, contudo
Já foi mais que suficiente
Desejo ignóbil cerrado,
Enrolou a lona amarela e partiu
Partiu após a risada derradeira
A última expressão do seu pecado
Nessa encruzilhada, lembrei-me perdida
Mefistófeles era aquele que mo dizia
Vá em frente, e dê a vida ao meretrício
Suas palavras ecoaram no colchão de tapume em que me acomodava
Segui o rito
De coração vendido, desfiz-me na esquina da vida
Essa era a sua tragédia
Que encenei como uma diva impura
Mas ganhei todos os aplausos
E fecharam-se as cortinas
Morri uma morte nua