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Brasil

Nota sionista do Itamaraty causa crise na base do governo

Petistas como Breno Altman, Valter Pomar e acadêmicos criticam duramente publicação que 'passa pano' para os crimes de 'Israel' e ataca Resistência Palestina

A recente nota emitida pelo Ministério das Relações Exteriores sobre o aniversário da ofensiva da Resistência Palestina pela libertação de companheiros presos nas masmorras sionistas, ocorrido em 7 de outubro de 2023, gerou intensas críticas no campo acadêmico e entre setores da esquerda brasileira. A repercussão foi noticiada com destaque pelo portal Opera Mundi, do jornalista Breno Altman, um militante histórico do Partido dos Trabalhadores (PT).

As reações, que partiram de acadêmicos e também de militantes, como o historiador e dirigente petista Valter Pomar, revelam um sintoma claro de uma crise interna crescente na própria legenda. A política externa adotada pelo governo Lula, especialmente no que tange à questão palestina, está provocando um deslocamento à direita do governo que, além de romper com a tradição do partido e da esquerda, vem gerando uma cisão entre diferentes alas petistas. 

A nota publicada pelo Palácio do Itamaraty (sede do MRE), evitou qualquer menção ao genocídio praticado por “Israel” contra os palestinos e limitou-se a lamentar os “ataques terroristas do grupo Hamas”, foi amplamente rechaçada por acadêmicos como Maria Carlotto, Reginaldo Nasser, Ana Prestes e o próprio Pomar, todos destacados nas reportagens do Opera Mundi. Para esses críticos, o comunicado não apenas omitiu a realidade brutal vivida pela população de Gaza, como também desconsiderou a postura histórica do Brasil em defesa dos direitos humanos.

O mais grave, no entanto, é que as críticas não se restringem ao conteúdo do comunicado, mas ao que ele simboliza: um distanciamento do governo Lula em relação à luta do povo palestino e um alinhamento com o sionismo e, por consequência, com o imperialismo. Valter Pomar, dirigente da Articulação de Esquerda classificou a nota do Itamaraty como “desequilibrada, deplorável e insensível”. Pomar apontou que a manifestação diplomática, ao omitir as atrocidades cometidas por Israel, parece ter sido “escrita por uma inteligência artificial ‘made in USA’”. Para ele, há uma clara insubordinação dentro do MRE, com setores que estão em descompasso com a orientação do presidente Lula e com o discurso de condenação ao genocídio palestino, adotado publicamente pelo chefe do Executivo, mas que nunca mais se repetiu.

A professora de Relações Internacionais, Maria Carlotto, compartilha da mesma visão crítica. Em sua análise, a nota é “completamente desequilibrada” e confronta a posição presidencial. Carlotto vê na omissão sobre as ações de “Israel” uma tentativa de relativizar o genocídio em curso contra os palestinos e destaca que, assim como o Ministério da Defesa, o Itamaraty agiu em contradição com a política defendida por Lula.

A professora chega a mencionar uma insubordinação institucional, onde forças internas desafiam a autoridade do presidente, algo que remete à relação conflituosa entre as Forças Armadas e o Executivo. Para ela, é imprescindível que Lula retome o controle sobre sua política externa e reforce o compromisso do Brasil com a defesa dos direitos humanos.

Reginaldo Nasser, professor da PUC-SP, também destacou o caráter problemático da nota, criticando a forma com que o Itamaraty abordou o tema. Nasser lembrou que, enquanto o ataque do Hamas ocorreu em um único dia, as ações de Israel contra os palestinos se estenderam por um ano inteiro, com massacres diários cometidos pela ditadura sionista.

“A palavra genocídio foi empregada pelo Lula, que inclusive citou o Holocausto. É importante ter referência ao próprio Itamaraty. O embaixador do Brasil em Israel foi humilhado várias vezes. O corpo diplomático de Israel publicou seguidos tuítes de baixo nível atacando o governo do Brasil, atacando o Ministério das Relações Exteriores. Portanto, atacando o Itamaraty. O ataque do Hamas foi um dia. O ataque de Israel foi seguido por 365 dias, e mais um pouco. A caracterização do ocorrido, por todas as instituições internacionais, vai caminhando formalmente para uma acusação de genocídio”

Para o acadêmico, a nota do Itamaraty é um reflexo de uma crescente divisão interna dentro do governo Lula, que, segundo ele, precisa reafirmar sua autoridade e alinhar sua política externa com os valores que historicamente nortearam a diplomacia brasileira. Nasser, assim como Pomar e Carlotto, vê no comunicado diplomático um sintoma de um deslocamento à direita, que ameaça a coesão interna do PT e do próprio governo.

Ana Prestes, doutora em Ciência Política pela UFMG, reforçou essas críticas ao classificar a nota do Itamaraty como “uma vergonha”. Sublinhando que o principal erro do comunicado foi tratar o 7 de Outubro como um evento isolado, ignorando tanto a história anterior quanto as consequências devastadoras das ações de “Israel” contra os palestinos.

Ela ressaltou que, no mínimo, o Itamaraty deveria ter condenado a violência do exército israelense e manifestado solidariedade aos milhares de palestinos vítimas da barbárie sionista, a maioria, crianças. Prestes também criticou as declarações do ministro da Defesa, José Múcio, que, segundo ela, demonstraram “ignorância deliberada” sobre o genocídio palestino e uma postura alinhada ao sionismo.

Essas críticas, publicadas pelo Opera Mundi, são sintomáticas de uma crise interna que está se intensificando dentro do PT. Valter Pomar e Breno Altman, ambos membros do partido, deixaram claro que o descolamento à direita, expresso na nota do Itamaraty, está gerando profundas divisões no interior do partido. A política adotada pelo governo Lula, ao não condenar com veemência o genocídio palestino, está se distanciando das bases históricas do PT, que sempre estiveram ao lado das lutas dos povos oprimidos.

Esse deslocamento à direita, além de ser uma traição aos princípios fundadores do partido, está abrindo espaço para um confronto interno que pode ter consequências graves para a coesão do PT e para a própria governabilidade. A nota emitida pelo Itamaraty não é um episódio isolado, mas faz parte de um movimento mais amplo de alinhamento com o imperialismo, que vem sendo denunciado por setores progressistas tanto dentro quanto fora do governo.

A omissão sobre o genocídio palestino, a adoção de uma postura relativizadora em relação aos crimes de Israel e a defesa do sionismo estão provocando uma cisão que ameaça não apenas a unidade interna do PT, mas também a credibilidade do governo Lula entre suas bases populares.

Enquanto o presidente Lula tenta manter uma postura centrista no cenário internacional, condenando o genocídio palestino e defendendo os direitos humanos, setores do governo, como o Itamaraty e o Ministério da Defesa, parecem estar caminhando em outra direção, alinhando-se com as políticas sionistas e com o imperialismo, e arrastando o governo do PT para esse campo. Essa contradição interna está sendo amplamente percebida e denunciada por figuras importantes do partido, como Pomar e Altman, que veem nessa política um grave erro estratégico e uma ameaça à unidade do PT.

Se o governo Lula não corrigir esse curso e retomar o controle sobre sua política externa, reafirmando seu compromisso com a defesa dos oprimidos e com os valores que sempre nortearam sua trajetória, corre o risco de aprofundar a cisão interna no PT, perder o apoio de setores importantes de sua base e fragilizar ainda mais seu governo. A crise que se desenha no interior do partido é um reflexo direto da política adotada pelo governo federal, e suas consequências podem ser ainda mais devastadoras se não forem rapidamente contidas.

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