A guerra na Faixa de Gaza já ultrapassou 250 dias. Ela começou quando o Hamas decidiu lançar uma das operações militares mais vitoriosa da história, o Dilúvio de al-Aqsa, no dia 7 de outubro de 2023. Desde então, “Israel” e o imperialismo vem sendo derrotados consecutivamente em diversas frentes da resistência, não apenas em Gaza. O grande dirigente de toda essa luta é o líder do birô político do Hamas, Ismail Hanié. Ele realizou um longo discurso neste domingo (16), direcionado ao povo da Palestina e ao povo do mundo.
Hanié destacou o papel do braço armado do Hamas: “essa mensagem é para os homens do nosso orgulho e a glória da nossa nação, nossos lutadores heroicos nas Brigadas al-Qassam e em todas as organizações da resistência dentro e fora da Palestina”. E continuou: “saudações a vocês que escrevem as mais belas páginas de glória e heroísmo, continuando a enfrentar este inimigo criminoso com toda a força e firmeza que Alá lhes concedeu. Vocês apresentaram, pela graça e apoio de Alá, um modelo grande e único de lutador resistente e firme, mantendo seus direitos e permanecendo firmes nas confrontações, apesar da severidade da batalha e da ferocidade do inimigo”.
Ele destacou que: “os filhos de al-Qassam e todas as organizações da resistência se destacaram em manter a capacidade da resistência de infligir dor ao inimigo por todos os meios e em todos os locais, mesmo aqueles destruídos pela ocupação e corrompidos por ela. Apesar de todas as tentativas do inimigo de destruir as capacidades da resistência, operações heroicas continuam com coragem e criatividade, a última das quais foi anunciada por al-Qassam e testemunhada pelo mundo ontem em Rafá e Gaza, e esta manhã no norte da Faixa de Gaza. Dizemos às nossas brigadas de combate (al-Qassam, al-Quds, Abu Ali Mustafa e todos os combatentes): Alá não desperdiçará sua luta, e ela dará frutos de honra e vitória muito em breve”.
Essas colocações são uma demonstração do estado de espírito das organizações de luta do povo palestino. Elas compreendem muito bem que o Estado de “Israel” está sendo derrotado. As operações heroicas da resistência continuam mesmo após 8 meses de guerra, mesmo após os bombardeios que destruíram mais de matade de todas as contruções da Faixa de Gaza.
Hanié então agradece as outas frentes de resistência: “gostaria também de estender minhas saudações aos homens heroicos em todas as frentes de apoio que ainda seguram o gatilho, apesar de todas as dificuldades e ameaças. Saudações aos irmãos do Hesbolá no Líbano, que ficaram ao lado de Gaza desde o primeiro momento e expandiram seus ataques em apoio a ela e sua resistência, forçando centenas de milhares de colonos ocupantes a fugirem do nosso norte ocupado. Saudações aos irmãos do Ansar Alá do Iêmen, que tornaram o Mar Vermelho e o Mar Arábico águas proibidas para o inimigo sionista e seus apoiadores. Saudações aos irmãos na Resistência Islâmica no Iraque, que estão desempenhando um grande papel ao atacar numerosos alvos da entidade sionista”.
O cessar-fogo chegará com a vitória do Hamas
Hanié fez questão de comentar a principal discussão política do momento, as diversas discussões sobre o cessar-fogo. “A quarta mensagem diz respeito aos movimentos políticos e às tentativas de alcançar um acordo para parar a agressão. O movimento, juntamente com todas as organizações da resistência, demonstrou grande seriedade e alta flexibilidade para chegar a um acordo que proteja o sangue do nosso povo e pare a agressão”.
E continuou: “isso foi demonstrado pela nossa aprovação da proposta dos irmãos mediadores em 6 de maio, nossa resposta positiva ao discurso do presidente Biden, nossa acolhida à recente resolução do Conselho de Segurança da ONU e nossa resposta entregue aos irmãos mediadores em uma delegação conjunta com os irmãos do Movimento Jiade Islâmica no Catar. Esta resposta está alinhada com os princípios delineados no discurso de Biden e na resolução do Conselho de Segurança da ONU em relação às três fases do acordo e às condições para um cessar-fogo”.
O Hamas, já em maio, havia conseguido impor um acordo de cessar-fogo ao imperialismo. O chefe da CIA, William Burns, havia aceitado, em conjunto com os mediadores Catar e Egito, uma proposta. Isso foi em 6 de maio. Esse acordo abriu uma crise gigantesca com o sionismo que imediatamente invadiu Rafá para escalar a guerra impedindo que ela terminasse naquele momento. A situação dos sionistas só piorou, pois todo o Eixo da Resistência escalou seus ataques à entidade sionista. Agora as discussões chegaram ao governo Biden e ao próprio Conselho de Segurança da ONU.
Hanié explica: “a ocupação e seus aliados não responderam a essa flexibilidade e continuaram suas manobras e tentativas de engano através de propostas e ideias visando obter os cativos e retomar a guerra genocida. Eles lançaram campanhas midiáticas e de incitamento para pressionar o movimento e as organizações da resistência a concordar com seus planos, mas permanecemos e continuaremos firmes em nossas posições que priorizam os interesses, a segurança e a proteção do nosso povo acima de tudo”.
Ele afirmou: “gostaria de destacar três dimensões sobre este assunto: primeiro, que uma solução será alcançada através de negociações que levem a um acordo abrangente, não importando o quanto o inimigo evite e adie isso; segundo, nosso compromisso com o papel dos irmãos mediadores e a importância de seus esforços, e nossa disposição em fornecer ampla oportunidade e espaço para cumprir sua nobre missão; e terceiro, a continuação dos esforços em todas as frentes para acabar com a guerra genocida contra nosso povo”.
Ou seja, o Hamas se manterá firme. O sionismo tenta ao máximo dobrar a resistência, fazê-la aceitar um acordo que não é um cessar-fogo real. Mas o Hamas, que sabe que o tempo está ao seu lado, só aceitará a proposta que inclua o básico. O fim da guerra, a retirada de todas as tropas de “Israel” de Gaza, a entrada de ajuda humanitária em massa, a reconstrução de Gaza e uma troca justa de prisioneiros. Sem isso não há um cessar-fogo real e por isso o Hamas não aceitará nada menos.
Ele anuncia: “nossa mensagem final à comunidade internacional: chegou a hora de acabar com esta injustiça que nosso povo tem sofrido por mais de 100 anos. Chegou a hora de alcançar nossos direitos legítimos e inerentes. Nosso povo, que se levantou [em uma revolução] em 7 de outubro contra a opressão e a miséria, não recuará até que sua jornada esteja completa com a eliminação da ocupação, coroada com liberdade, independência e retorno. Esta é a porta de entrada para a segurança e estabilidade na região”.
Mensagem mais clara que essa impossível. A Revolução Palestina é consciente, ela é dirigida pelo Hamas, o Movimento de Resistência Islâmica. O 7 de outubro deu origem à um processo social que tende a acabar com a dominação imperialista em todo o Oriente Médio. Por isso o governo Joe Biden está levando o genocídio até a proporção atual. Mas entre Joe Biden e Hamas até o mais ferrenho defensor do imperialismo sabe qual dos dois está saindo por cima nessa guerra.
O dirigente do Hamas se refere diretamente ao imperialismo: “a cobertura fornecida por alguns países, especialmente o governo norte-americano, à ocupação agora está exposta publicamente, politicamente, legalmente e humanamente. Essas potências devem entender que não apenas a guerra militar contra nosso povo falhou, mas também a guerra política e de propaganda. A resistência lendária do nosso povo em Gaza foi correspondida pela firmeza e positividade da nossa postura política”. Uma colocação perfeita.
Ele concluui seu discurso: “ó nosso povo palestino em todos os lugares, na Cisjordânia, al-Quds [Jerusalém], nos territórios de 1948 e na diáspora, seus parentes em Gaza abriram uma porta larga para a libertação. Que as massas de todos os lugares, dentro e fora, se unam nesta batalha histórica para se encontrarem na celebração da vitória nos pátios da Mesquita de al-Aqsa, cantando e realizando louvores”.
A convocação à mobilização do povo palestino é o método tradicional do Hamas. Mas ela não se restringe apenas ao povo palestino. É uma convocação para toda a população do mundo lutar contra o sionismo e contra o imperialismo. Nesse sentido, no Brasil é possível travar a mesma luta que os heroicos combatentes das brigadas al-Qassam travam, mas por outros meios. É preciso levar a luta contra o sionismo para as ruas e a melhor forma neste momento é o ato nacional do dia 30 de junho em São Paulo. É assim que o povo do Brasil pode lutar pela vitória da Revolução Palestina.