Nizar Khalil Muhammad Banat nasceu em 27 de agosto de 1978 na Cisjordânia e foi um dos mais proeminentes críticos da Autoridade Palestina (AP). Sua trajetória de luta começou como carpinteiro, mas sua inquietação diante da corrupção e da repressão instauradas pelo regime liderado por Mahmoud Abbas o transformaram em um dos maiores opositores políticos da região. Banat se autodenominava defensor da dignidade palestina e denunciou incansavelmente a AP como uma organização corrupta, cúmplice do colonialismo israelense e responsável por sabotar os interesses nacionais palestinos.
Banat usava as redes sociais como principal plataforma para expor os escândalos da AP. Ele criticava os acordos obscuros firmados com “Israel”, os casos de enriquecimento ilícito de altos funcionários da AP e a repressão brutal contra dissidentes. Entre suas denúncias mais emblemáticas, está a acusação de que a AP teria ocultado detalhes de um acordo com “Israel” para a troca de vacinas contra a COVID-19, envolvendo lotes quase vencidos. Segundo ele, esse tipo de ação não apenas desrespeitava a vida dos palestinos, mas também evidenciava o caráter servil da AP diante da ditadura sionista.
Em uma de suas declarações mais contundentes, Banat afirmou: “a Autoridade Palestina não governa para o povo, mas sim para os ocupantes. Eles não protegem nossas vidas; eles as vendem ao inimigo em troca de benefícios próprios.” Por posturas como essa, Banat foi alvo de perseguição, ameaças, prisões arbitrárias e até ataques diretos contra sua residência.
Assassinato bárbaro a mando de Abbas
A escalada da repressão contra Nizar Banat atingiu seu ápice em 24 de junho de 2021. Às 3h30 da madrugada, um grupo de 27 agentes da Polícia Preventiva da AP invadiu violentamente sua casa, em Hebron, enquanto ele dormia ao lado de sua esposa e filhos. Armados com bastões de metal e spray de pimenta, os agentes arrombaram portas e janelas e atacaram Banat brutalmente na frente de sua família.
Segundo relatos da esposa, os agressores despejaram gás pimenta em seu rosto, o despiram parcialmente e o arrastaram pelo chão antes de colocá-lo em um veículo oficial da AP. O destino do ativista já estava selado. Poucas horas depois, às 6h45, a AP confirmou sua morte sob custódia, mas tentou maquiar os fatos, alegando circunstâncias naturais.
A autópsia, no entanto, desmontou a mentira. Médicos constataram que Banat sofreu extensos ferimentos em todo o corpo, incluindo lesões graves na cabeça, braços e pernas. A causa da morte foi atribuída à asfixia provocada por sangue nos pulmões, resultado da violência desmedida dos agentes. Sua família denunciou o crime como um assassinato premeditado, acusando diretamente Mahmoud Abbas e a alta cúpula da AP.
O assassinato gerou uma onda de indignação popular. Milhares de palestinos saíram às ruas de cidades como Hebron e Ramalá, gritando palavras de ordem contra Abbas e exigindo o fim da Autoridade Palestina. Os protestos, violentamente reprimidos pela AP, reforçaram a percepção de que o regime palestino não passa de uma extensão do aparato colonial de “Israel”.
Em uma manifestação emblemática, os gritos de “Arhal Ya Abbas” (“Fora Abbas”) ecoaram no centro de Ramalá, denunciando o ódio à AP. Paralelamente, cartazes e publicações em redes sociais compararam a morte de Banat à de Jamal Khashoggi, jornalista saudita brutalmente assassinado em 2018.
O assassinato de Banat não é um caso isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla de repressão contra qualquer forma de dissidência. Desde a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993, a Autoridade Palestina tem servido como uma ferramenta de controle para sufocar a resistência e consolidar o domínio colonial de “Israel”.
A AP, financiada por potências imperialistas, foi criada sob a justificativa de promover a paz e servir de embrião ao Estado palestino, mas sua função real tem sido a de policiar os palestinos em nome do ocupante. Nizar Banat entendia bem esse papel e não poupava palavras para denunciar a subserviência da AP. Ele chegou a classificar o regime de Abbas como uma “Autoridade Vichy Palestina”, em referência ao governo colaboracionista francês durante a ocupação nazista.
Em vídeos publicados antes de sua morte, Banat denunciou que as forças de segurança da AP não só reprimem a resistência como também enriquecem às custas do sofrimento do povo palestino. “Eles acumulam fortunas, constroem palácios e circulam em carros de luxo enquanto nós lutamos para sobreviver sob a ocupação”, criticou o ativista.
Banat também alertava para a cumplicidade da AP com “Israel” em operações conjuntas de segurança, que resultavam na prisão e assassinato de combatentes da resistência. Segundo ele, o aparato repressivo da AP é tão brutal quanto o da ocupação, com a diferença de que atua sob o disfarce de uma “administração palestina”.
Seu funeral, transformado em ato político, reuniu multidões que clamavam por justiça e prometiam dar continuidade à luta por uma Palestina verdadeiramente livre. A figura de Banat, agora vista como mártir, tornou-se símbolo de resistência contra a opressão dupla enfrentada pelo povo palestino. O martírio, longe de calar suas denúncias, teve o efeito oposto, ajudando a expor ao mundo o verdadeiro caráter da AP e de Mahmoud Abbas, reforçando ainda a urgência de uma mobilização capaz de demolir esse instrumento da ditadura sionista.