Nesse domingo (28), Burquina Fasso, Níger e Máli anunciaram sua saída da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Como justificativa de sua retirada da organização africana, os países africanos denunciaram as “sanções ilegais, ilegítimas, desumanas e irresponsáveis” que o bloco aplicou contra esses países nos últimos anos em decorrência dos golpes nacionalistas que ocorreram nestes.
Na carta que anuncia o rompimento em questão, os representantes dos três países relembram com que objetivo surgiu a CEDEAO.
“Desejosos de realizar a integração entre os Estados da sub-região e guiados pelos ideais de fraternidade, solidariedade, auxílio mútuo, paz e desenvolvimento, Suas Excelências, o General Aboubacar Sangoulé Lamizana, o General Moussa Traoré e o Tenente-Coronel Seyni Kountché, respectivamente Chefes de Estado da Alta Volta (atual Burquina Fasso), do Máli e do Níger, juntamente com doze (12) de seus pares, fundaram em 28 de maio de 1975, em Lagos, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)”, afirma a carta.
Agora, entretanto, os signatários do documento afirmam que “sob a influência de potências estrangeiras”, a CEDEAO “tornou-se uma ameaça para seus Estados-membros e às populações que deveria garantir a felicidade”.
Trata-se de um documento que mostra a evolução do movimento nacionalista na África que, nos últimos anos, expulsou o imperialismo de países africanos importantes, como é o caso dos três citados, mas também do Gabão.
Antes, em setembro de 2023, os três países haviam assinado um pacto de segurança que foi chamado de Aliança dos Estados do Sahel, acordo que firma o compromisso de um país ajudar o outro caso ocorra alguma rebelião interna ou agressão estrangeira.
“Qualquer ataque à soberania e integridade territorial de uma ou mais partes contratadas será considerado uma agressão contra as outras partes”, diz a carta do pacto.
Confira, abaixo, o comunicado de rompimento com a CEDEAO na íntegra traduzido por este Diário:
“Desejosos de realizar a integração entre os Estados da sub-região e guiados pelos ideais de fraternidade, solidariedade, auxílio mútuo, paz e desenvolvimento, Suas Excelências, o General Aboubacar Sangoulé Lamizana, o General Moussa Traoré e o Tenente-Coronel Seyni Kountché, respectivamente Chefes de Estado da Alta Volta (atual Burquina Fasso), do Máli e do Níger, juntamente com doze (12) de seus pares, fundaram em 28 de maio de 1975, em Lagos, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Após 49 anos de existência, os corajosos povos de Burquina, Máli e Níger observam com grande pesar, amargura e profunda decepção que a sua Organização se afastou dos ideais de seus fundadores e do pan-africanismo.
Além disso, a CEDEAO, sob a influência de potências estrangeiras, traindo seus princípios fundadores, tornou-se uma ameaça para seus Estados-membros e às populações que deveria garantir a felicidade.
De fato, a organização não prestou assistência aos nossos Estados em nossa luta existencial contra o terrorismo e a insegurança; pior ainda, quando esses Estados decidiram assumir seu próprio destino, adotou uma postura irracional e inaceitável, impondo sanções ilegais, ilegítimas, desumanas e irresponsáveis em violação de seus próprios textos; tudo isso enfraqueceu ainda mais as populações já afligidas por anos de violência imposta por hordas terroristas instrumentalizadas e controladas remotamente.
Diante dessa situação persistente, Suas Excelências, o Capitão Ibrahim Traoré, o Coronel Assimi Goïta e o General de Brigada Abdourahamane Tiani, respectivamente Chefes de Estado de Burquina Fasso, da República do Máli e da República do Níger, assumindo plenamente suas responsabilidades perante a história e respondendo às expectativas, preocupações e aspirações de suas populações, decidem, com plena soberania, a retirada imediata de Burquina Fasso, do Máli e do Níger da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental.”