Nos dias 25 e 26 de maio, a Universidade Marxista irá realizar mais uma importantíssima atividade de formação política, como tantas que foram feitas ao longo dos anos. Poucos meses após o curso Imperialismo: fase superior do capitalismo, ministrado pelo presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, a plataforma de cursos oferecerá agora mais uma atividade relacionada aos cem anos da morte de Vladimir Lênin.
O mais novo curso terá como tema o livro A revolução proletária e o renegado Káutski, obra de importância fundamental do revolucionário russo. Escrita por Lênin em 1918, o texto é uma polêmica com Karl Káutski, que fora um importante líder do movimento operário e dirigente da ala centrista do Partido Social Democrata Alemão, mas que, na fase mais madura de sua vida, após uma série de capitulações, mudou de política, chegando ao ponto de apoiar o imperialismo na Primeira Guerra Mundial.
Na época do livro de Lênin, Káutski havia acabado de publicar uma brochura com o tema “A revolução proletária”, onde retratava essa questão como apenas mais uma mera filosofia liberal burguesa, desprovida da ação revolucionária necessária para que a classe operária tome o poder.
Entre os temas colocados por Lênin nessa obra, há uma questão de grande atualidade, que é a diferença entre a democracia para o regime burguês e a democracia operária. Essa confusão é levantada a todo momento pela esquerda pequeno-burguesa, que promove e pede a censura de vários setores em um período claramente reacionário, onde tal política só poderá levar à censura e perseguição da classe trabalhadora.
O debate também toca em outros assuntos que mostram a bancarrota total da Segunda Internacional Socialista.
Mesmo que sejam temas de outro período histórico, as teses de Lênin demonstram questões fundamentais para a esquerda na atualidade. O curso ocorrerá através da plataforma Universidade Marxista e será ministrado pelo jovem João Pimenta, da direção nacional do PCO e liderança da Aliança da Juventude Revolucionária. Tendo já ministrado diversos outros cursos pelo Partido, essa será a primeira vez que ele fará um curso na Universidade Marxista.
Para quem puder assistir ao curso presencialmente, as aulas acontecerão no Centro Cultural Benjamin Péret. Para os que não puderem, terão a oportunidade de acompanhar as aulas pela plataforma.
Para se inscrever em mais um curso imperdível, basta entrar no portal unimarxista.org.br.
Para conhecer um pouco mais da obra, leia o prefácio escrito pelo próprio Lênin em 1918:
A brochura de Kautsky “A Ditadura do Proletariado”, recentemente publicada em Viena (1918, Ignaz Brand, 63 páginas), é um exemplo evidente da completa e vergonhosa falência da II Internacional, sobre a qual todos os socialistas honestos de todos os países têm falado há muito tempo. A questão da revolução proletária agora passa à prática em muitos países. Por isso, é necessária uma análise dos sofismas de um renegado e da completa renúncia ao marxismo por parte de Kautsky.
Mas, em primeiro lugar, é importante destacar que quem escreve estas linhas teve que apontar várias vezes, desde o início da guerra, a ruptura de Kautsky com o marxismo. Uma série de artigos foi dedicada a isso, publicados entre 1914-1916 no Sotsial-Demokrat e no Kommunist no exterior. Esses artigos foram reunidos em uma edição do Soviete de Petrogrado: G. Zinoviev e Lênin, Contra a Corrente, Petrogrado, 1918 (550 páginas). Em uma brochura publicada em Genebra em 1915, e também traduzida para alemão e francês na época, eu escrevi sobre o “kautskismo”:
“Kautsky, a maior autoridade da II Internacional, é um exemplo extremamente típico e claro de como o reconhecimento verbal do marxismo levou, de fato, à sua transformação em ‘struvismo’ ou ‘brentanismo’ (ou seja, em uma doutrina liberal burguesa que reconhece uma luta ‘de classe’ não revolucionária do proletariado, expressa com particular clareza pelo escritor russo Struve e pelo economista alemão Brentano). Vemos isso também no exemplo de Plekhanov. Com sofismas claros, o marxismo é esvaziado de sua alma revolucionária viva, reconhece-se no marxismo tudo menos os meios revolucionários de luta, sua propaganda e preparação, a educação das massas precisamente nesse sentido. Kautsky ‘concilia’ sem princípios a ideia fundamental do social-chauvinismo, o reconhecimento da defesa da pátria na presente guerra, com uma concessão diplomática e simulada às esquerdas sob a forma de abstenção na votação dos créditos, do reconhecimento verbal de sua oposição, etc. Kautsky, que em 1909 escreveu todo um livro sobre a aproximação de uma época de revoluções e sobre a relação entre a guerra e a revolução, Kautsky, que em 1912 assinou o Manifesto de Basileia sobre a utilização revolucionária da guerra futura, justifica e embeleza agora de todas as maneiras o social-chauvinismo, e, como Plekhanov, se junta à burguesia para ridicularizar toda a ideia de revolução, todos os passos visando uma luta diretamente revolucionária. A classe operária não pode realizar seu objetivo revolucionário mundial se não fizer uma guerra implacável a essa renegação, a essa falta de caráter, a essa atitude de servilismo perante o oportunismo, a essa vulgarização teórica sem precedentes do marxismo. O kautskismo não é casual, é o produto social das contradições da II Internacional, da combinação da fidelidade ao marxismo em palavras com a subordinação de fato ao oportunismo” (G. Zinoviev e Lênin, O Socialismo e a Guerra, Genebra, 1915, pp. 13-14).
Continuemos. No livro “O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo”, escrito em 1916 (publicado em Petrogrado em 1917), analisei detalhadamente a falsidade teórica de todos os argumentos de Kautsky sobre o imperialismo. Citei a definição de imperialismo dada por Kautsky:
“O imperialismo é um produto do capitalismo industrial altamente desenvolvido. Consiste na tendência de toda nação capitalista industrial para submeter ou anexar cada vez mais regiões agrárias (o sublinhado é de Kautsky), quaisquer que sejam as nações que as povoem.”
Mostrei que essa definição era absolutamente falsa, sendo “adaptada” de modo a esmaecer as mais profundas contradições do imperialismo e, em seguida, chegar à conciliação com o oportunismo. Eu apresentei minha própria definição de imperialismo:
“O imperialismo é o capitalismo na fase em que a dominação dos monopólios e do capital financeiro se consolidou, a exportação de capitais adquiriu importância marcante, a partilha do mundo pelos trustes internacionais começou e a partilha de toda a Terra entre os países capitalistas mais importantes se completou.”
Mostrei que a crítica do imperialismo de Kautsky está mesmo abaixo da crítica burguesa e filistina.
Finalmente, em agosto e setembro de 1917, ou seja, antes da revolução proletária na Rússia (25 de outubro – 7 de novembro de 1917), escrevi a brochura “O Estado e a Revolução. A Doutrina do Marxismo sobre o Estado e as Tarefas do Proletariado na Revolução”, publicada em Petrogrado no início de 1918. E aqui, no capítulo VI, sobre “A vulgarização do marxismo pelos oportunistas”, dediquei uma atenção especial a Kautsky, demonstrando que ele distorce completamente a doutrina de Marx, adapta-a ao oportunismo e “renega de fato a revolução ao mesmo tempo que a reconhece em palavras”.
No fundo, o erro teórico fundamental de Kautsky em sua brochura sobre a ditadura do proletariado consiste precisamente nas deturpações oportunistas da doutrina de Marx sobre o Estado, que detalhei em minha brochura “O Estado e a Revolução”.
Essas observações preliminares eram necessárias, pois provam que acusei abertamente Kautsky de ser um renegado muito antes de os bolcheviques terem tomado o poder do Estado e, por isso, terem sido condenados por Kautsky.