O nacionalismo árabe após a Segunda Guerra Mundial nasceu na Palestina, não poderia ser de outra foram. O Estado de “Israel” é existe para oprimir e dividir os árabes. A luta contra “Israel” é o nacionalismo árabe em ação. E a principal liderança desse movimento, Gamal Abdel Nasser, que seria o presidente do Egito após a revolução que derrubou o rei, estava na Palestina em 1948, lutando contra o sionismo. Essa luta na Palestina foi o embrião da revolução no Egito.
Nasser relembrou suas experiências pessoais em seu manifesto, A Filosofia da Revolução. Ele conta como quando era um oficial da guerra contra “Israel” em 1948 isso foi uma experiência de formação política. Nessa guerra ele se tornou um herói nacional ao resistir por meses contra o estado de “Israel” em al-Faluja, no deserto do Negueve.
O líder egípcio conta como comandantes de unidades estavam mal equipados, com armamentos de baixa qualidade e sem provisões ou linhas de suprimento adequadas. Nasser teve que comprar provisões para sua unidade de comerciantes locais. Oficiais ouviam com repulsa as transmissões de rádio do estado descrevendo vitórias fictícias, enquanto criticavam as ordens de implantação, que, segundo eles, foram desenhadas para aumentar a visibilidade política. As unidades foram espalharam muito amplamente, em detrimento da mobilidade ofensiva eficiente.
Enquanto esteve brevemente no hospital após sofrer um ferimento leve, Nasser viu com os próprios olhos a ineficiência dos serviços de apoio da retaguarda. À medida que as armas emperravam ou falhavam, proliferavam rumores de que o Rei e ministros-chefes haviam vendido o melhor equipamento do Egito no mercado internacional de armas e embolsado os lucros. A imprensa inclusive divulgou uma encandola desse tipo. Não era comprovadamente uma verdade, mas o fato do rei ser um lacaio dos britânicos tornava a história muito acreditável. Se ele não era corrupto devido às armas, era corrupto por um motivo ainda pior, estava a serviço do inimigo.
O momento que Nasser descreve como muito importante foi o da morte do tenente Ahmad Abd al-Aziz. Comandante das forças voluntárias egípcias na Palestina, ele foi ferido por fogo amigo fora de Jerusalém em agosto de 1948 e morreu na companhia de Kamal al-Din Hussein, um dos fundadores dos Oficiais Livres. Essa foi a organização que derrubou a monarquia no Egito e deu início a revolução que mudaria completamente o mundo árabe. Antes de morrer, ele convocou seus camaradas a levar sua luta de volta à frente doméstica, onde a verdadeira batalha os aguardava.
Mais a frente na guerra aconteceu o evento mais épico na trajetória de Nassar, o enquanto cerco em Faluja. Um cruzamento vital no norte do Neguev, onde ele havia sido colocado após uma breve licença durante o cessar-fogo de julho a outubro de 1948. Quando o cessar-fogo acabou em meados de outubro, a “brigada de Faluja” se foi cercada por forças inimigas. “Fomos enganados – empurrados para uma batalha para a qual não estávamos preparados. Ambições vis, intrigas insidiosas e desejos desmedidos estão brincando com nossos destinos, e nós estamos aqui sob fogo desarmados”, recordou Nasser. Para ele o Egito constituía “uma segunda Faluja, em maior escala”. Ou seja, o Egito estava sobre o cerco que deveria ser derrotado.
Nasser participou de negociações com oficiais israelenses, vários dos quais, incluindo Yigal Allon, mais tarde ministro das Relações Exteriores de “Israel”, lembraram dele como carismático. Rejeitando os pedidos de rendição, a brigada permaneceu firme durante todo o inverno, até que o Egito assinou um armistício sob os auspícios da ONU em fevereiro de 1949. Os israelenses tiveram de deixar a brigada heroica voltar para o Egito de armas em mãos.
Os heróis de Faluja receberam uma recepção dividida. Com uma investigação parlamentar em andamento sobre as acusações de lucro de guerra, muitos desejavam que eles retornassem silenciosamente aos seus quartéis. Ignorando o conselho oficial, Um Kulthum, a cantora mais popular do mundo árabe, insistiu em organizar uma festa para os heróis de Faluja. Esse fato mostra como eles realmente haviam se tornado figuras de extrema popularidade. Os homens que não se renderam ao sionismo.
O despertar do nacionalismo árabe
O líder egípcio depois chegou a conclusão que toda a guerra era uma fraude. Ele descreve que existia uma “ausência grave e fatal em nossas informações sobre o inimigo” e que percebeu “a perplexidade e incompetência que caracterizaram nosso alto comando”.
“Isso não poderia ser uma guerra séria”, acrescentou. “Não houve concentração de forças, acúmulo de munições e equipamentos. Não houve reconhecimento, nem inteligência, nem planos. A única conclusão que poderia ser tirada era que isso era uma guerra política, ou melhor, um estado de guerra sem guerra. Haveria avanço sem vitória e retirada sem derrota.”
Descrevendo o avanço do Sexto Batalhão de Infantaria Egípcio para Gaza de maio a julho, as suas memórias dizem que as forças israelenses usaram a trégua ordenada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para fortalecer suas defesas, enquanto as forças egípcias foram dominadas por “um espírito de indiferença”.
Ou seja, na luta contra o sionismo na Palestina, Nasser percebeu que era necessária uma revolução no mundo árabe. Que não só os sionistas mas também as próprias monarquias árabes a serviço dos britânicos deveriam ser derrubadas. A derrota de 1948 foi a catástrofe palestina, desorganizou a luta dos palestinos for quase 2 décadas. No entanto, essa revolução foi passada para os demais países, sendo o principal o Egito.
Nasser derrubou a monarquia em 1952, no Iraque um fenômeno parecido aconteceu, os militares que lutaram na Palestina derrubaram a monarquia em 1958. A Síria, que era colônia francesa, passou por um trajeto diferente, mas em 1958 ela se unificou com o Egito de Nasser. A Palestina, mesmo sem ter os palestinos como principais agentes, ainda era a peça central do nacionalismo árabe.
Em 1967, quando o Egito de Nasser foi derrotado por “Israel” essa conjuntura mudou. Os palestinos liderados por Iasser Arafat se tornaram a principal força política do mundo árabe.