Em junho de 2018, a cidade de Ramalá, cidade da Cisjordânia e capital administrativa da Autoridade Palestina (AP), um protesto foi duramente reprimido pela AP, com gás lacrimogêneo e cassetetes contra manifestantes. O motivo? A oprimida população da cidade demandava o fim das sanções impostas aos compatriotas da Faixa de Gaza, impostas pelo “presidente” ilegítimo e fantoche do imperialismo, Mahmoud Abbas.
A repressão ocorrera mesmo após a proibição de protestos decretada por Abbas, demonstrando o tom autoritário do regime sob sua liderança. Munidos de cartazes com mensagens como “Gaza nos une. Retirem as sanções”, os manifestantes enfrentaram a violência da AP enquanto denunciavam a continuidade de políticas que agravam o sofrimento de dois milhões de pessoas confinadas em Gaza.
Desde abril de 2017, Abbas reduziu em 30% os salários de milhares de trabalhadores do governo palestino em Gaza, forçando quase um terço deles a se aposentar precocemente. Essas medidas, anunciadas como parte de uma estratégia para pressionar o Hamas a ceder o controle político da região, aprofundaram a pobreza e o desemprego, que já atingia quase metade da população ativa em 2018.
Após a estrondosa vitória eleitoral do Hamas nas eleições parlamentares de 2006, a Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas e o Fatah, reagiu de forma agressiva e hostil, tentando barrar o resultado democrático. A vitória do Hamas, que expressava a vontade popular da maioria dos palestinos, foi recebida com um bloqueio imediato e uma tentativa de deslegitimação mundial.
Apesar de o governo de Abbas afirmar que “Israel” é o principal responsável pelo estado de calamidade em Gaza, suas próprias políticas configuram um alinhamento com a ditadura sionista, que continua impondo bloqueios genocidas ao território. Essas ações não apenas intensificam o sofrimento humano em Gaza, mas se configuram como punição coletiva, vedada pelo direito internacional.
A Quarta Convenção de Genebra, em seu Artigo 33, estabelece que nenhuma pessoa sob ocupação pode ser punida por atos que não tenha cometido individualmente. Além disso, o Artigo 50 da mesma Convenção determina que as potências ocupantes ou autoridades responsáveis devem assegurar o bem-estar e a proteção da população civil, especialmente em áreas como saúde e educação, conforme a redação da Convenção, que reproduzimos abaixo:
“Artigo 33: Nenhuma pessoa protegida pode ser punida por uma infração que não tenha cometido pessoalmente. As punições coletivas e igualmente todas as medidas de intimidação ou de terrorismo são proibidas.”
“Artigo 50: A Potência ocupante facilitará, com a cooperação das autoridades nacionais e locais, os trabalhos dos estabelecimentos destinados a garantir a educação infantil. Tomará todas as medidas necessárias para facilitar o funcionamento das instituições dedicadas ao atendimento infantil e à educação, incluindo a criação e manutenção de locais de lazer para crianças.”
Esses artigos indicam o que o próprio imperialismo (uma ditadura responsável, entre outras atrocidades, por criar o Estado de “Israel”) entendeu em um determinado momento de sua história, que a adoção de políticas como a aplicada pela AP eram demasiadamente cruéis para serem toleradas. Como observado, a noção de crueldade extrema até para os padrões imperialistas foi rompida no ataque contra a população civil de Gaza, na forma da punição coletiva por meio das sanções, e também através da redução de serviços básicos essenciais como educação, saúde e cuidados com a infância, além é claro, da repressão violenta aos protestos que pediam o fim da política genocida do regime de Abbas.
Ao adotar sanções que se somam ao bloqueio imposto por “Israel” e pelo Egito, a Autoridade Palestina não age apenas como cúmplice, mas como parte integrante do genocídio contra os palestinos de Gaza. Utilizando os elementos mais corruptos de sua própria administração, Abbas transforma a AP em uma extensão árabe da política de extermínio promovida pelo sionismo, traindo os interesses nacionais palestinos e consolidando sua posição como executor de crimes hediondos contra seu próprio povo.