Artigo “É urgente expurgar o entulho autoritário”, de Tiago Barbosa, publicado no Brasil 247 nesta terça-feira (19), é mais um tijolo no muro da criminalização da política que, tem como resultado, a perseguição à esquerda, por mais que um ou outro elemento de direita, ou extrema direita, seja incriminado ou, eventualmente, vá para a cadeia.
O tom é bastante alarmista, como também vem se tornando costume na imprensa independente, como se vê no seguinte trecho: “O bolsonarismo de farda planejou matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, dar um golpe de estado e instalar uma ditadura sob o comando de um verme extremista”.
Alarmismo é bom para se instaurar um ambiente de medo. Porém, como se costuma dizer, o medo é péssimo conselheiro. Na ânsia de “combater o mal”, a “extrema direita”, a esquerda tem embarcado em todas as canoas furadas e, finalmente, fazendo o jogo do imperialismo. Um exemplo clássico foi o apoio que deram a Joe Biden contra Donald Trump, como se aquele fosse um grande democrata, não o candidato preferido do grande capital financeiro e armamentista.
De mal menor em mal menor…
Além do voto em Joe Biden, que financia o massacre na Faixa de Gaza, Cisjordânia e Líbano; que está colocando o mundo à beira do precipício, de uma guerra mundial, essa esquerda votou no bolsonarista tucano Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul. Em São Paulo, nas eleições para governador, Guilherme Boulos começou a campanha xingando o bolsonarista Pablo Marçal de fascista, e acabou abraçado a ele para evitar o bolsonarista Ricardo Nunes, supostamente mais fascista que o fascista Marçal.
A “luta” contra o fascismo, transformou a censura em um mal menor, ou melhor, em uma necessidade, afinal, a censura, supostamente, combateria o ‘discurso de ódio’, as fakenews, embora a grande imprensa continue mentindo livremente, como sempre fez.
O ataque às redes sociais tem um único objetivo, evitar que os usuários postem seus vídeos nas redes, pois a burguesia precisa manter o monopólio dos meios de comunicação.
Fascistas e “ex-fascista”
Barbosa diz que “A germinação do plano nas vísceras de um grupo militar de elite escancara a atrofia das forças armadas em chocadeiras de delinquentes contra o povo e o país. É a incubadora de onde brotam golpes de estado, fascistoides milicianos, apoiadores de genocidas e, agora, conspiradores para assassinar presidente, vice e juiz”.
O juiz em questão é Alexandre de Moraes, que aparece como alvo de uma conspiração. O que o texto não questiona, é qual foi o papel desse ministro do STF no Golpe de 2016, quando ajudou a colocar Lula na cadeia, fato que abriu caminho para a vitória de Bolsonaro e a subida da extrema direita ao poder.
Alexandre de Moraes, execrado pela esquerda por ser indicação de Michel Temer ao Supremo, um candidato imbatível a fascista, virou herói da esquerda pequeno-burguesa que, por algum motivo, acredita que o ministro esteja lutando contra o fascismo, mas foi ele quem bloqueou os conteúdos do PCO no YouTube em pleno ano eleitoral, não importando o conteúdo, o que mostra de forma inequívoca que seu alvo é a esquerda.
Quem fará o expurgo?
Segundo o artigo, “Não basta prender os pilantras da vez – é urgente expurgar o entulho, reformular o poder e colocar a farda a serviço do país”. E quem vai fazer o serviço? Quando houve o distúrbio na Praça dos Três Poderes, em Brasília, qual general foi implicado? Não aconteceu nada com a cúpula das Forças Armadas.
A única coisa que aconteceu, foi a prisão de gente comum, uns bodes expiatórios julgados por um crime coletivo, ou seja, uma aberração jurídica. Mas toda arbitrariedade, ou ilegalidade, é aceita se vier da pena de Alexandre de Moraes, o “caçador de fascistas”.
Trata-se de uma confissão de impotência, de nulidade política, a afirmação de que “É imprescindível criminalizar de vez a seita bolsonarista – verniz político para a prática da violência sob moralismos fajutos, idolatria e imbecilização social”. Quem depende da polícia para derrotar seus adversários políticos não tem nada, não tem a seu lado a única força capaz de derrotar o fascismo: a classe trabalhadora.
Não aprendem
Tentar criminalizar o bolsonarismo é inútil, basta olhar para o que está acontecendo na política. Lula foi preso e voltou para a presidência. Donald Trump sofre inúmeros processos e foi reeleito de maneira contundente nos Estados Unidos. Por que deveríamos crer que a prisão vai barrar Bolsonaro?
A esquerda precisa reconquistar a classe trabalhadora, mas não vai conseguir isso fortalecendo as instituições burguesas, como o STF. Não vai trazer ninguém de volta, quando a própria esquerda se vê paralisada por um governo que contesta as eleições em um país aliado de primeira hora e oprimido como a Venezuela. A esquerda perde base social quando apoia genocidas como Joe Biden, um dos mentores do golpe contra Dilma Rousseff. Afasta o trabalhador quando lança um candidato arrivista no principal estado brasileiro, um sujeito que se alia a outro que chamou de fascista no dia anterior.
Não adianta gritar que é preciso fazer isso ou aquilo, pois sem base social não vai acontecer nada. É preciso dar o combate, ir para as ruas. Caso contrário, o alarmismo servirá apenas tornar o ambiente ainda mais repressivo, ideal para o fascismo.