As denúncias divulgadas na imprensa desde a semana passada, dando conta de um suposto complô de setores do Exército e da Polícia Federal para assassinar Lula, seu vice Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em dezembro de 2022, reacendeu com toda a força a sanha no interior de boa parte da esquerda brasileira na defesa da ação do STF em condenar os manifestantes de janeiro de 2023 e Bolsonaro.
Diante das denúncias, amplamente divulgadas pela imprensa burguesa, é preciso examinar mais detidamente os fatos, os documentos apresentados pela suspeita PF, braço dos serviços de inteligência do imperialismo no Brasil. Fato é que, conforme a legislação brasileira, não se pode condenar alguém por pensar ou planejar algo. Ou foi feito, ou não foi feito.
O tal “plano golpista” está sendo utilizado como mais um pretexto para a defesa da repressão na política. Mais uma justificativa para o fortalecimento do regime que, cada vez mais, acaba com os direitos democráticos da população. Algo que, em primeiro lugar, serve para perseguir a esquerda e as organizações de vanguarda dos trabalhadores.
Fato é que, desde o final do governo Bolsonaro – e durante todo seu mandato -, era evidente que havia uma movimentação no interior das Forças Armadas no sentido de fechar o regime brasileiro. E o que foi feito? Nada. Nada aconteceu com a cúpula golpista da caserna. Agora, prenderam um general de “pijama”, dois oficiais do Exército e um policial federal. Ao mesmo tempo, em 2023, a única coisa que aconteceu foi a prisão de gente comum, bodes expiatórios julgados por um crime coletivo – uma aberração jurídica.
Tentar pôr o bolsonarismo na ilegalidade é inútil. Lula foi preso e voltou para a Presidência; Donald Trump sofreu inúmeros processos e foi reeleito com um apoio avassalador nos Estados Unidos. Por que é que a prisão de Bolsonaro neutralizaria o bolsonarismo?
A esquerda precisa reconquistar a classe trabalhadora, mas não vai conseguir fazê-lo fortalecendo as instituições do regime burguês, como é o caso do STF, da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República etc.
Se a esquerda se propõe a lutar contra a extrema direita, é preciso ir às ruas. Caso contrário, o alarmismo que se vê em torno do suposto plano golpista dos militares só servirá para restringir ainda mais os direitos democráticos da população sob o pretexto de combater o fascismo.