No artigo Apagão em São Paulo e corrupção em Porto Alegre podem abalar reeleição de Nunes e Melo, publicado por Jeferson Miola no Brasil 247, o autor faz uma crítica pertinente aos desastres dos governos de Ricardo Nunes e Sebastião Melo, ambos bolsonaristas do MDB. Miola corretamente aponta que esses prefeitos desviam a responsabilidade de suas gestões catastróficas, culpando o governo federal ou fatores externos, como a natureza, pelos apagões, no caso de São Paulo; e das enchentes, no caso de Porto Alegre.
No entanto, o texto falha em reconhecer o papel que PT e PSOL desempenham nesse cenário, partidos que, embora não sejam responsáveis pela política neoliberal, deveriam ser a principal oposição a ela. O problema é que, ao invés de enfrentá-la, esses partidos capitulam e não conseguem combatê-la efetivamente.
O PT, no Rio Grande do Sul, e o PSOL, em São Paulo, chegaram ao segundo turno das eleições municipais. Teoricamente, esses partidos deveriam ser os que levantam as bandeiras contra o neoliberalismo, representado pelos governos devastadores de Nunes e Melo. Contudo, a realidade é que tanto o PT quanto o PSOL estão tão comprometidos com essa política que são incapazes de fazer uma oposição séria. Guilherme Boulos, candidato do PSOL em São Paulo, é um exemplo claro disso. Ele já está tão envolvido com a política neoliberal que é incapaz de criticar com veemência a privatização da Sabesp ou os contratos com a Enel, responsável direta pelos apagões que afetaram milhões de pessoas. Sua incapacidade de “colocar o dedo na ferida” se deve ao fato de que ele, assim como seu partido, já está comprometido com o sistema que deveria combater.
O PT, por sua vez, enfrenta uma situação semelhante no Rio Grande do Sul. O partido, que deveria se opor frontalmente ao neoliberalismo, apoiou Eduardo Leite, um conhecido defensor dessa política, para governador em 2022. Essa capitulação tem sido uma constante na atuação do PT, expressando o fato de que o partido não consegue apresentar uma alternativa real para os trabalhadores.
A crítica de Jeferson Miola, ainda que justa ao apontar os fracassos de Nunes e Melo, não resolve a questão principal: quem realmente irá combater a política neoliberal que destrói as cidades e sufoca os trabalhadores? O PT e o PSOL, os partidos que deveriam ser a linha de frente nessa luta, estão atrelados a alianças políticas e compromissos com a burguesia que os impedem de se opor de maneira eficaz. Eles são parte do problema porque, ao invés de se posicionarem de maneira clara contra o neoliberalismo, optam por uma política de conciliação que enfraquece a esquerda e dá espaço para a ascensão de figuras como Nunes e Melo.
Não adianta agora, por puro cretinismo eleitoral, levantar questões como apagões ou enchentes. A esquerda precisa abandonar essa política de frente ampla, que a coloca ao lado de partidos comprometidos com o sistema neoliberal, e adotar uma postura de oposição real. Sem isso, a direita, e especialmente a extrema direita, continuará a avançar, como já foi demonstrado pelas eleições de 2024, onde o bolsonarismo consolidou seu poder em várias capitais.
Portanto, a questão não é apenas sobre a incompetência de Nunes e Melo, mas sobre a falta de uma oposição séria que enfrente de fato os problemas do País. Enquanto o PT e o PSOL permanecerem presos a compromissos com a burguesia, será impossível derrotar o neoliberalismo, e a direita seguirá se fortalecendo.