Em coluna intitulada Venezuela: tirem as crianças e a política da sala, publicada pelo Brasil 247, Valter Pomar decidiu criticar o procurador-geral do Ministério Público da Venezuela, Tarek William Saab, que, em vídeo, colocou em dúvida o acidente sofrido por Lula que o impossibilitou a ida ao encontro dos BRICS em Cazã, na Rússia.
“Acreditar que Lula forjaria um acidente para faltar em Kazan, mesmo tendo como efeito colateral sua ausência na reta final das campanhas eleitorais no Brasil, é transferir o debate da política para o plano do teatro bizarro”, diz Pomar.
Não se trata aqui de concordar com o que disse o procurador. Mas a questão que parece não perceber Pomar é que a política do governo brasileiro acaba por levar a esse tipo de conclusão.
O problema não é a colocação do procurador, ainda que ela possa ser exagerada ou errada, mas a política do governo Lula em relação à Venezuela e aos BRICS. Quem abriu a brecha para esse tipo de desconfiança foi o próprio governo brasileiro.
Além disso, há outro fato que Pomar ignora. Na política, as coincidências são muito poucas. A discussão mais importante não é se o acidente foi ou não real, mas qual foi o resultado objetivo dele. Nesse sentido, objetivamente a ausência de Lula nos BRICS revela a política covarde do governo.
O que podemos fazer se discordamos do que colocou o procurador não é zombar dele, nem o acusar de criar “teorias da conspiração”. Seria preciso discutir seriamente o problema e de certa forma ser compreensivo com a indignação dos venezuelanos, afinal, a maior prejudicada foi a Venezuela. As críticas de Pomar acabam por jogar água no moinho da política desagregadora do governo brasileiro. É preciso ter claro que é a atitude do governo do Brasil que está causando celeuma e desunião na esquerda. Se a fala do procurador foi exagerada, não cabe piorar a situação, afinal, são os venezuelanos as vítimas.
Pomar afirma que “difundir teorias conspiratórias nos conduz a abandonar o debate político, com suas pressões, opções e inflexões”. Eis aqui mais uma ingenuidade do colunista. As conspirações existem e muito na política. E seja lá qual foi o acidente de Lula, fato é que ele está sendo vítima de conspirações do imperialismo que nesse momento pressiona o governo brasileiro a adotar uma política muito pró-imperialista.
Nesse caso, a coisa pode não ter acontecido como acusa o procurador da Venezuela, mas que há conspiração isso não se pode negar.
É obrigação da esquerda e de qualquer pessoa ou governo que se diz minimamente democrático defender a Venezuela incondicionalmente. Infelizmente, o governo brasileiro está fazendo um papel vergonhoso e precisa ser criticado, mesmo sabendo das pressões a que está submetido Lula.